Meu Diário
18/03/2017 00h32
AMOR E SOFRIMENTO

            No curso que estou dando na Cruzada dos Militares Espíritas, as duas últimas aulas versou sobre esses dois temas: amor e sofrimento, um a cada semana.

Tenho uma amiga que se considera apaixonada, e diz que sofre muito com esse amor. Refere que tem encontros com seu amado e que são maravilhosos, mas logo em seguida ele some e não deixa recados, não se comunica. Ela fica desesperada com tanto sofrimento, por querer a sua presença, o seu afeto, e não poder.

Eu, na condição de professor de um tema que afeta tão profundamente a sua alma, tenho que fazer minhas considerações. Foi assim que fiz as argumentações para tentar esclarecer o motivo e a função de tal sofrimento.

O amor puro, incondicional, não é fonte de sofrimento, por si só. Jesus, o grande Mestre do amor, sofreu barbaridade em função deste amor puro que ele ensinava. O sofrimento dele não foi em função do amor que ele possui, foi em função da ignorância de quem estava perto dele e se sentia incomodado com as verdades que iam de encontro aos interesses pessoais.

O amor que traz sofrimentos é aquele que está condicionado a alguma coisa. No caso de minha amiga, o forte amor que ela desenvolveu, que assume tonalidades da paixão, está condicionado a presença do amado ao lado dela. Sim, isso é uma expectativa que todos os amantes desenvolvem, mas aquele que já é treinado na arte do amor incondicional, não se abalará por causa disso. Irá compreender que o seu amado tem uma forma diferente de se comportar, que gosta de ficar sozinho por grande parte do tempo; pode até estar na casa de alguém, nos braços de outra pessoa. Ela irá se regozijar por seu amado está feliz, mesmo se encontrando longe dela, e até nos braços de outra pessoa.

Este é o nível de amor que a minha amiga não tem, e até agora eu não encontrei ninguém que ame dessa forma. Sempre exigem do outro algum tipo de reciprocidade. É tão grande essa postura emocional, pelo menos é a totalidade das pessoas que eu conheço. Chego a ficar preocupado as vezes com a minha sanidade, por eu pensar de forma tão diferente das pessoas. Acontece que a minha coerência, ao estudar sobre o Amor Incondicional, que eu vejo que nada pode impedi-lo de funcionar, que o meu desgosto geralmente é devido ao meu corpo não ser servido pelo corpo do outro, quer seja pelo sexo ou simplesmente pela afeto, pela companhia.

Esta expectativa de reciprocidade é quem gera o sofrimento, quando ela não acontece. O foco do amor deve ser desviado. Ele não deve se concentrar na minha amiga, numa espera de reciprocidade. Deve se concentrar no bem estar do outro, no seu amado, por sentir que ele esteja bem, consigo ou sem ela. Onde ele esteja, com quem esteja, se estiver feliz, isso deverá ser o suficiente para a sua alma também ficar feliz. Mesmo que o seu corpo reclame essa presença, afagos, sexo... o seu espírito deve saber administrar essas emoções e transformar a frustação que vem do ego, dos instintos, para a iluminação que vem da alma, do espírito.

Devemos lembrar que o espírito não tem sexo, portanto suas necessidades não devem ter nenhuma representação nesses desejos, isso é coisa exclusiva do corpo material que é administrado pelo espírito. Não devemos confundir essa hierarquia, senão terminamos por ser conduzidos pelo subalterno e a alma termina absorvendo o sofrimento como se fosse dela. Não é. O sofrimento se origina desse erro básico, e enquanto não corrigirmos isso em nossa mente o sofrimento não vai deixar de existir. Ele sempre será a sinalização de que alguma coisa estar errada conosco, com nosso pensamento, com nosso comportamento.


Publicado por Sióstio de Lapa em 18/03/2017 às 00h32


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr