Meu Diário
19/03/2017 23h59
TOLERÂNCIA

            Um comportamento incluído dentro das opções do bem é a tolerância. Em contraponto, a intolerância estaria colocada dentro das opções do mal. Parece uma coisa bem maniqueísta, dentro do conflito cósmico entre o reino da luz (o Bem) e o das sombras (o Mal).

            Hoje foi um dia de festa para os aniversariantes do mês, e conseguimos reunir cinco dos aniversariantes, dentro do nosso círculo familiar e de amizades, no Flat da Redinha. Tudo corria com alegria e harmonia, mas ao final surgiu um conflito quanto a participação de alguns no jogo de baralho enquanto outra pessoa, uma das aniversariantes, ficou incomodada, pois queria continuar cantando com companhia que ela desejasse no videokê. Disse que se sentia desprestigiada e que iria voltar de imediato à sua casa. Surgiu assim a intolerância. Mesmo que ela tivesse razões para esse desabafo feito com tanta raiva, quais seriam esses motivos? Irei fazer uma avaliação do meu ponto de vista, claro, que pode estar enviesado com os meus interesses.

            Esta festa de aniversário teve como motivo principal, nesta data, aniversário da minha filha. Combinei com ela a possibilidade e como a “incomodada” também aniversariava neste mês e num dia muito próximo, fizemos o convite a ela. Logo ela sugeriu que fizéssemos o aniversário de todas as pessoas que completavam ano neste mês, o que foi aceito sem resistências. As compras que ela deveria ter feito para esta festa, foi feita por outras pessoas. A confecção do bolo e dos doces foram feitos por minha irmã, em colaboração com outras pessoas, inclusive a arrumação do local e a assistência dos convidados. Preocupei-me em levar dois presentes para ambas as aniversariantes e também duas plantas, “Flor do Deserto”, para embelezar o Flat. Preocupei-me com a organização do pequeno espaço para receber tanta gente e também participei da animação. A “incomodada” foi uma das últimas pessoas a chegar e encontrou já tudo funcionando devidamente. Até alguns itens que telefonamos para ela trazer, terminamos por cancelar, por encontrar voluntários dentro da festa que se dispôs a ir até a mercearia próxima. Brincamos, comemos, bebemos, cantamos parabéns, fizemos fotos coletivas e servimos o bolo com doces e refrigerantes para todos.

            Feito tudo isso algumas pessoas partiram, alguns ficaram cantando no videokê, outras conversando em grupinhos, e me vi sentado ao lado da minha irmã que estava tomando conta da neta enquanto seu filho cantava no videokê. Como eu não estava mais disposto a cantar convidei minha irmã para jogarmos baralho, pois sei que ela gosta, junto com outras pessoas presentes que também gostam. Imaginei que cada grupo ficaria fazendo aquilo que lhe interessasse, sem nenhuma pretensão de obrigar ninguém a fazer nada que fosse contra sua vontade. Afinal todos tinham o livre arbítrio para decidir o melhor para si. A fase máxima do aniversário já havia passado, portanto imaginava que todos ficassem liberados para fazer o que desejassem a partir daquele momento, como até se retirarem, como aconteceu. Porém a “incomodada” imaginava que devia ficar com pessoas ao lado cantando no videokê, que era o seu interesse. Acontece que a pessoa que mais lhe interessava preferia jogar. Foi o suficiente para ela descarregar toda a raiva sobre minha irmã imaginando que ela teria iniciado o fatídico jogo de baralho, mesmo ela tendo dito que a sugestão havia partido de mim e que eu confirmava. Todos os presentes constataram a forte onda de raiva que tomou conta dela e que descarregava em todos os “Viciados em jogo de baralho” que se encontravam jogando na mesa. Acusou, e com muita razão, que ninguém se preocupou em fazer um momento evangélico nesta festa com tanta gente.

            Peço perdão a Deus por essa falha, e sei que Ele em sua infinita bondade me perdoará, tolerará as minhas fraquezas, meus esquecimentos de fazer a Sua vontade em tantas ocasiões, como estou determinado. Por isso fiz o bastante para tolerar a onda de raiva que se abateu sobre todos que estavam jogando e sendo acusados de “viciados”. Também percebi que todos os presentes estavam tolerando essa onda de raiva, pois ninguém se determinou a agredi-la como ela estava agredindo, principalmente a minha irmã que havia ficado até as 4h da madrugada providenciando os ingredientes da festa, incomodada com uma gripe, e ainda por cima trabalhando a maior parte da festa enquanto todas se divertiam. Não poderia fazer naquele momento final o que tanto gosta? Sem ser acusada de má acolhedora e de viciada? Acredito que ela tenha tido o maior mérito nessa prova de tolerância a que todos fomos submetidos, pois ela tinha motivos para mostrar a mesquinhez da acusação frente ao tanto que ela trabalhou.

            Acredito que a “incomodada” foi quem mais derrapou nesse teste de tolerância, pois por mais que se sentisse desprestigiada como ela acusou, poderia ter tolerado esse sentimento negativo... mas não conseguiu, e acredito que nem tentou.

            Antes dela sair dessa forma tão desconcertante, pedi para ela receber o presente que trouxe para ela, um livro do Papa Francisco que fala da importância da Misericórdia. Exigiu que eu colocasse logo a dedicatória e eu de imediato, sem contestações, coloquei, um apelo para o aprendizado da misericórdia, e com certa ironia pedi a ela de viva voz, misericórdia para nós, os “viciados”.

            Esta é a minha opinião sobre o ocorrido e deixei para fazer este texto 48h depois do ocorrido para que as emoções não influíssem tanto na razão dos fatos


Publicado por Sióstio de Lapa em 19/03/2017 às 23h59


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr