Meu Diário
20/03/2017 23h28
PEREGRINO DO INFINITO

            Encontrei uma passagem da vida de Jesus, quando Ele tinha 12 anos, no livro de Huberto Rohden, “Jesus Nazareno”, que muito me chamou a atenção. Ele tinha ido com José e Maria à Jerusalém, pela primeira vez, as festas da Páscoa. Na volta José e Maria sentiram a falta de Jesus e retornaram a Jerusalém para procura-lo. Foram encontra-lo no Templo discutindo com os doutores da lei. O texto diz o seguinte:

            Jesus vê seus pais, mas não se perturba nem se lança aos braços de sua aflita mãe. Levanta-se tranquilamente e, muito calmo e sério, os espera.

            - Filho!, exclama a mãe com dolorosa ternura, - por que nos fizeste isto? Eis que teu pai e eu te vínhamos procurando cheios de aflição!

            Jesus percebe essa censura; mas dos lábios não lhe passa uma palavrinha de desculpa nem um pedido de perdão; nenhuma nuvem de tristeza lhe tolda a fronte, nem uma lágrima de comoção lhe cai dos olhos, nem um sorriso de alegre satisfação lhe contrai os lábios...

            E dos lábios lhe brotam:

            - Por que me procuráveis? Não sabíeis que tenho que ocupar-me das coisas do meu Pai?...

            - Teu pai, diz Maria, referindo-se a José; mas Jesus responde “com meu Pai”, referindo-se a Deus.

            Aliás, através de todos os Evangelhos, Jesus nunca usou as palavras pai ou mãe referentes a seres humanos; para Ele, pai é só Deus; Maria é “mulher” ou “senhora”, mas nunca a chama mãe. Jesus se considera um ser estranho e alheio na Terra e na humanidade, um peregrino do infinito, mais solitário que solidário.

            Foi essa percepção do autor quanto a condição de Jesus que me chamou atenção.  Como um ser tão bondoso quanto Jesus, que tanto bem fez a tantos, rodeado de tantas pessoas, pode ser considerar mais solitário que solidário?

            Mas, refletindo com mais profundidade vejo que isso á possível sim. Afinal eu também me sinto assim, apesar de rodeado por tantas pessoas me sinto solitário na minha forma de pensar, todos agem diferente daquilo que imagino ser o correto, na aplicação do Amor Incondicional.

            Jesus valoriza ao extremo a Sua condição de filho de Deus e mesmo antes de entrar no exercício de sua missão já dar demonstração do seu grau de conhecimento das leis de Deus, muitas vezes equivocadas pelo raciocínio humano. Por isso quando a mãe o procura e o acha no Templo, Ele não tem a consciência de ter feito uma coisa errada. Por isso tratou a mãe com naturalidade e com muita seriedade e paciência, e disse da sua missão.

            Não tenho a importância que teve Jesus ao vir a este mundo para nos ensinar. Considero-me um dos alunos de suas lições e aprendi com Ele que o Pai tem uma missão para cada um de nós, e, por mais simples que pareça, tem a sua importância. A minha missão é praticar e ensinar sobre o Amor Incondicional, da forma que a sabedoria de Deus permitiu que eu alcançasse pela inteligência. Posso até estar errado, mas não posso ficar paralisado por nenhuma dúvida. Caso eu esteja errado em algum aspecto, tenho o atenuante que tudo que faço tem o amor como baliza e a bussola comportamental que Jesus nos deixou como orientação nos caminhos: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.”


Publicado por Sióstio de Lapa em 20/03/2017 às 23h28


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr