Meu Diário
16/08/2017 20h39
SÃO MIGUEL ARCANJO

            Ontem fiz uma associação muito interessante nos estudos espirituais. Observei que existe uma tradição franciscana, em plena época de visita das Relíquias de São Francisco à Ceará-Mirim, de realizar a Quaresma à São Miguel Arcanjo a partir dessa data que corresponde a Festa de Assunção de Nossa Senhora, 15 de agosto, e termina no dia 28 de setembro, véspera da festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael dia 29 de setembro.

            Também fiz a associação com o estudo que acabo de iniciar no Colegiado dos Guardiões da Humanidade, pois Miguel é o Arcanjo e Príncipe da Milícia Celeste e o principal comandante dos Guardiões. Tem como atribuição o Escudo (Quis ut Deus), luta contra o dragão (estudado nos livros de Robson/Ângelo Inácio) e segura a balança (símbolo do meu signo, libra) como juiz dos mortos. Também é o padroeiro dos marinheiros, a força militar da qual sou reservista.

            Em hebraico, Miguel significa “aquele que é similar a Deus” (mi = quem; ka = como; El = Deus), o que é tradicionalmente interpretado como uma pergunta retórica: “Quem como Deus”, para a qual se espera uma resposta negativa, e que implica que “ninguém é como Deus”. Assim, Miguel é reinterpretado como um símbolo de humildade perante Deus.

            Na Bíblia Hebraica, Miguel é mencionado três vezes no Livro de Daniel, uma como um “grande príncipe que defende as crianças do seu povo”. A ideia de Miguel como um advogado de defesa dos judeus se tornou tão prevalentes que, a despeito da proibição rabínica contra se apelar aos anjos como intermediários entre Deus e seu povo, Miguel acabou tomando um lugar importante na liturgia judaica.

            Em Apocalipse 12:7-9, Miguel lidera os exércitos de Deus contra as forças de Satã e seus anjos e os derrota durante a guerra no céu.

            Na Epístola de Judas, Miguel é citado especificamente como “arcanjo”. Os santuários cristãos em honra a Miguel começaram a aparecer no século IV, quando ele era percebido como um anjo de cura, e, com o tempo, como protetor e líder do exército de Deus contra as forças do mal. Já no século VI, a devoção a São Miguel já havia se espalhado tanto no oriente quanto no ocidente. Com o passar dos anos, as doutrinas sobre ele começaram a se diferenciar.

            Arcanjo tem duas raízes: arch e ângelus. O prefixo grego arch se refere tanto a começo, ponto de partida, princípio, como suprema substância subjacente, ou princípio supremo indemonstrável. Se traduz como acima, superior, mais importante, o que governa, que dirige, que comanda, que lidera, e ainda carregando consigo ideias de poder, autoridade, império e superioridade. Quanto ao grego ângelus, vertido para anjo, significa simplesmente mensageiro. A partir dessas raízes, portanto, a palavra Arcanjo se traduz como Líder dos Mensageiros, Chefe dos Mensageiros, Capitão dos Anjos, Primeiro Anjo, Acima dos Anjos, Superior dos Anjos, Anjo Superior ou Anjo Chefe.

            O Apocalipse (12:7-9) descreve uma guerra no céu na qual Miguel, sendo o mais forte, derrota Satã:

            “Houve no céu uma guerra, pelejando Miguel e seus anjos contra o dragão. O dragão e seus anjos pelejaram, e não prevaleceram; nem o seu lugar se achou mais no céu. Foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama Diabo e Satanás, aquele que engana todo o mundo; sim, foi precipitado na terra, e precipitado com ele os seus anjos.”

            Após o conflito, Satã foi atirado à Terra juntamente com os anjos caídos de onde eles ainda tentam desviar o caminho da humanidade.

            Porém, o arcanjo que marca a Segunda Vinda de Cristo não é mencionado. Alguns estudiosos sugerem que ele seja algum representante de Deus ou até mesmo o próprio Jesus Cristo, pois as referências sobre o que Jesus fará como líder do exército dos anjos de Deus, são as mesmas do Arcanjo Miguel.

            Uma pintura do Arcanjo Miguel matando uma serpente se tornou a principal no Michaelion após Constantino ter derrotado Licínio nas redondezas em 324, eventualmente tornando-a o padrão da iconografia de Miguel como um santo guerreiro, assassinando um dragão.

            Os católicos romanos e os ortodoxos geralmente se referem a Miguel como “São Miguel”, um título honorífico cuja origem não foi uma canonização. Ele é geralmente nas litanias cristãs como “São Miguel Arcanjo”. Os ortodoxos adicionalmente o chamam de “Archistrategos” ou “Comandante Supremo das Hostes Celestiais”.

            Nos ensinamentos católicos, São Miguel tem quatro papéis principais. O primeiro é como comandante do Exército de Deus e o líder das forças celestes em seu triunfo sobre as hostes infernais. Ele é visto como um modelo angélico para a virtudes do “guerreiro espiritual”, em guerra contra o mal, por vezes também visto como sendo a “batalha interna”.

            O segundo e o terceiro papel de Miguel lidam com a morte. No segundo, Miguel é o anjo da morte, levando a alma de todos os falecidos para o céu. Neste papel, na hora da morte, Miguel desce e dá à alma uma chance de se redimir antes da morte, atrapalhando assim o diabo e seus asseclas. As orações católicas em geral se referem a este papel de Miguel. No terceiro papel, ele mede as almas numa balança perfeitamente equilibrada (daí o motivo de ele ser também muitas vezes representado segurando uma balança).

            Em seu quarto papel, São Miguel, o patrono especial do povo escolhido no Velho Testamento, é também o guardião da Igreja. Era comum o anjo ser reverenciado por ordens militares de cavaleiros durante a Idade Média. Este papel também se estende a ser o santo padroeiro de numerosas cidades e países.

            O catolicismo romano inclui ainda tradições como a Oração de São Miguel, que pede especificamente que os fiéis sejam defendidos pelo santo. O Terço de São Miguel Arcanjo é composto por nove saudações, uma para cada ordem angélica.

            Alguns dos primeiros acadêmicos protestantes identificaram Miguel com a pré-encarnação de Cristo, baseando sua visão parcialmente na justaposição de “criança” e arcanjo no capítulo 12 do Apocalipse e também nos atributos dados a ele por Daniel.

            As Testemunhas de Jeová acreditam que há apenas um arcanjo no céu e na Bíblia. Eles ensinam que o Jesus de antes da ressurreição e após a ressurreição, e o Arcanjo Miguel são a mesma pessoa: “a evidência indica que o Filho de Deus era conhecido como Miguel antes de vir à Terra e é conhecido também por este nome após o seu retorno ao céu, onde ele agora está na forma do glorificado espírito Filho de Deus.” Eles notam que o termo “arcanjo” na Bíblia só é usado no singular, jamais de forma clara no plural. Eles também afirmam que Miguel é o mesmo Anjo do Senhor que conduziu os israelenses no deserto. Sob este ponto de vista, o espírito que leva o nome de Miguel é chamado de “um dos principais príncipes”, o grande príncipe que tem o comando de seu povo.

            Os adventistas do Sétimo Dia acreditam que Miguel era um outro nome para o Verbo Divino, antes dEle ter se encarnado como “Jesus”. Ele seria o Verbo, não criado, por conta de quem todas as coisas são criadas. O Verbo então se fez nascer encarnado como Jesus.

            Eles acreditam que o nome “Miguel” é importante para mostrar a sua verdadeira identidade, assim como Emanuel, que significa “Deus conosco”. Eles acreditam que o nome significa “aquele que é Deus” e que como Arcanjo ou Comandante ou Líder dos Anjos, que ele liderava os anjos e, por isso, a afirmação em Apocalipse 12:7-9 que identifica Jesus como sendo Miguel. Além disso, Miguel seria um dos muitos títulos associados ao Filho de Deus, a segunda pessoa da Divindade Plena.

            A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias acredita que Miguel é Adão, o Antigo de Dias, um príncipe e um patriarca da família humana e que Miguel ajudou Jehová (a forma celeste de Jesus) na criação do mundo sob a direção de Deus Pai.

            Nos manuscritos do Mar Morto, numa perspectiva que viria a ser recuperada pelos movimentos gnósticos do século I, Miguel é apresentado como a figura celestial de Melquisedeque exaltado, elevado aos céus. É similarmente referido como o “Príncipe da Luz”, que dará combate ao “Príncipe das Trevas”, Satã, Belial ou Melkireshah (príncipe das profundezas de Terra). Este confronto dar-se-á quando da grande batalha celeste que antecederá o fim dos tempos e a nova vinda do fundador da comunidade essênia, o “Mestre da Justiça”, como Messias escatológico.

            Nas igrejas Católica, Anglicana e Luterana, a festa do Arcanjo Miguel ocorre em 29 de setembro (no calendário ocidental), quando também se comemoram os arcanjos Gabriel e Rafael. Na Inglaterra medieval este dia era chamado de “Festa de São Miguel e todos os anjos”.

            No cristianismo medieval, Miguel, juntamente com São Jorge, se tornaram santos patronos da cavalaria medieval e é hoje considerado como o santo patrono dos oficiais de polícia e militares.

            No século XV, Jean Molinet glorificou o ato de guerra do arcanjo como o “primeiro feito de cavalaria e habilidade de cavaleiro que jamais fora realizado. Assim, Miguel se tornou o patrono natural da primeiro ordem de cavalaria da França, a Ordem de São Miguel, de 1469. No sistema de honras britânico, uma ordem de cavalaria fundada em 1818 também foi batizada em homenagem aos dois santos guerreiros, a Ordem de São Miguel e São Jorge. A Ordem de Miguel, o Valente é a mais alta condecoração militar na Romênia.

            Além de ser o patrono de guerreiros, os doentes e os aflitos também consideram o Arcanjo Miguel como seu santo padroeiro. Baseando-se na lenda de sua aparição do século VIII em Mont-Saint-Michel, na França, o Arcanjo também é o santo patrono dos marinheiros em seu mais famoso santuário. Após a cristianização da Alemanha, onde as montanhas eram geralmente consagradas aos deuses pagãos, os cristãos colocaram-nas sob o patronato do Arcanjo Miguel e diversas capelas ao santo foram erigidas por todo o país. Ele é também o santo padroeiro de Bruxelas desde a Idade Média. A cidade de Arkhangelsk, na Rússia, foi batizada em sua honra e a Ucrânia e sua capital Kiev, considera o Arcanjo como seu padroeiro.

            A oração de São Miguel Arcanjo é feita assim: “São Miguel Arcanjo, protegei-me no combate, cobri-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Deus lhe impere, instantemente o pedimos. E vós, Príncipe da Milícia celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.


Publicado por Sióstio de Lapa em 16/08/2017 às 20h39


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr