Meu Diário
08/10/2017 06h23
HENRIQUE V (03) – TRAIÇÃO NA CORTE

            Relator – Os franceses, aconselhados pelo bom senso, e cientes destas terríveis preparações, tremem de medo. Tentam desviar os ingleses de suas intenções com sua pálida política. Oh, Inglaterra! Modelo da grandeza interior, como um pequeno órgão, como um grande coração. O que você pode fazer? Que honra teria? Eram todos naturais e bons os filhos teus? Mas olha para a França tentando encontrar o que falta em você, um ninho de corações ocos. Ela enche a coroa com traidores, e três homens corruptos. Um deles, Richard, Conde de Cambridge; o segundo Henry, Lorde Scroop de Masham; e o terceiro Sir Thomas Grey, cavaleiro de Northumberland. Recebem um presente da França, oh, na verdade, culpa... conspiram com a temida França. E em suas mãos, está o destino do rei, que deve morrer antes de embarcar para a França. Os traidores estão de acordo. O rei foi à Londres, e agora o palco é transportado, senhores, para Southampton.

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            Por Deus, és insensato em confiar nesses traidores.

            Serão presos imediatamente.

Com que calma e igualdade serão conduzidos, como se prevalecessem na lealdade, coroados de fidelidade e obediência.

O rei tem conhecimento de todas as suas intenções e de fatos que nem sequer sonham.

Sim, mas para o homem que foi o seu companheiro de alcova, a quem eu tinha fartado de graça e favores, que, por uma terra estrangeira, vendeu a vida do seu soberano  à morte por traição.

            H – Agora, o vento é favorável, embarquemos. Milorde de Cambridge, meu caro senhor de Masham, e você, meu gentil cavaleiro, dê-me o vosso parecer. Crês que nossas tropas devam marchar abertas contra as forças da França?

            Sem dúvida, meu senhor, se estão lutando com bravura.

            H - Isso sem dúvida.

            Nunca houve um monarca mais temido e amado que Vossa Majestade.

            Verdade.

            H – Então, temos uma grande razão para agradecer. Tio Exeter, liberto os presos que ontem ironizaram a minha pessoa. Acredito que tenha sido o excesso de vinho que os incentivou. E é melhor perdoá-los.

            Isso é clemência, mas também grande confiança. Que seja punido, Soberano, que sirva de exemplo para os demais de sua classe.

            H – Deixa-nos ser misericordiosos.

            Pode ser Majestade, e ainda assim os punir. Mostrareis grande clemência, se os deixar viver após um bom corretivo.

            H – Seu grande amor por mim, contra esse pobre coitado, é gratificante. Se não fechamos os olhos as pequenas faltas, produto da intemperança, como os abrir quando os crimes são capitais, mastigados, engolidos e digeridos que nos são apresentados? Assim, pois, libertaremos este homem embora, para Cambridge, Scroop e Gray, em seu caridoso desvelo por nós, deve ser punido. E agora, aos nossos assuntos com a França. Quem são os últimos comissários?

            Eu sou um, Milorde. Sua alteza me ofereceu, hoje.

            Eu também, Majestade.

            E para mim, meu rei.

            H – Richard, Earl de Cambridge, aqui está o seu. O seu, senhor Scroop de Masham, e o seu, Sir Gray, cavaleiro de Northumberland. Leiam. Eu sei, e conheço seus valores. Milord Westmoreland, tio Exeter, embarcaremos hoje a noite. O que é isso, meus senhores? O que leem nesses papeis que transfiguraram vossos rostos?

            Confesso minha culpa, e me submeto a clemência de Vossa Alteza.

            Para a qual todos apelamos.

            H – O indulto que lhes foi dado é fruto de seus próprios conselhos sendo reprimidos e mortos. Você não deve, por vergonha, falar em misericórdia, porque suas próprias razões viraram contra vocês, como cães contra seus mestres.

            (Princípio de tumulto na sala. Domínio dos protetores do rei)

            H – Contemplem príncipes e nobres pares, esses monstros ingleses. O que vou dizer de você, senhor Scroop, criatura cruel, ingrata, selvagem e desumana? A vós, que dei a chave de todos os meus segredos, que conhecia o fundo da minha alma, que poderia ter-me convertido em moedas de ouro, queria usar-me em seu benefício! Será possível um salário no exterior ter sido capaz de tirar de você uma faísca de maldade de ferir-me um dedo? É tão estranho. Mesmo com a verdade presente, tão fácil de se distinguir, como negros de brancos, meus olhos quase não podem vê-la. Tão firme, e parecíeis impecável... que vossa queda deixa uma mancha... que marcará o homem mais completo e melhor cotado, com a sombra da suspeita. Chorarei por vós, porque esta sua revolta faz-me como outra queda de um homem.

            Prisão, por alta traição, Richard, conde de Cambridge.

            Prisão por alta traição, Thomas Gray, cavaleiro de Northumberland.

            Prisão, por alta traição, Henry, senhor Scroop de Masham.

            H – Escute a sua sentença. Haveis conspirado contra Vosso Rei, unindo-se ao inimigo e recebendo de seus cofres moedas de ouro por minha morte, pela qual... teria vendido vosso Rei ao sacrifício, seus príncipes e seus pares à servidão, seus súditos à opressão e ao desprezo, e todos ao seu reino de desolação. Portanto, pobres miseráveis criminosos, seguem em direção à morte, cujo gosto Deus em sua misericórdia, vos dê paciência para aturar, e verdadeiro arrependimento de todos os seus grandes crimes. Levem-nos! Agora aos valores da França, cuja empreitada é para vós, como para nós, gloriosa, porque Deus nos revelou essa perigosa traição no nosso caminho. Com alegria, sigamos para o mar! Avançar nossos estandartes de guerra! Não haverá nenhum rei da Inglaterra, se não o for também rei da França!

           


Publicado por Sióstio de Lapa em 08/10/2017 às 06h23


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr