Meu Diário
26/05/2018 23h59
(CRUZADA 41) – CONTENDAS

            Evitemos contender, litigiar, brigar, mesmo que nominalmente sejamos convidados ao debate. Isso quase sempre representa semeadura de espinhos para colheita de aflições futuras. Da discussão nem sempre nasce a luz, pelo contrário.

            Raramente a discussão é mantida no alto nível da exposição serena. Os discutidores quase sempre são inseguros sobre o que debatem, personalistas, impõem opiniões não amadurecidas, não pensadas, mas defendidas com vigor e entusiasmo apaixonado.

            Contender é diferente de esclarecer. Raros são aqueles que conseguem terminado o debate, guardar a paz íntima, e alinhar o equilíbrio das emoções. Quase sempre a contenda deixa fel nos lábios e desorganização mental, entorpecendo os centros de discernimento. Geralmente conduz os discutidores ao auto envenenamento absorvendo altas doses da ira ou da cólera imprevista.

            Esclarecer significa examinar com calma a questão, expor o assunto e deixar a mensagem. Reserva ao outro o direito de digerir o conceito, aceita-lo ou não. Se alguém aceitar nos ouvir, isso deve nos alegrar, mas, a recusa não deve nos magoar.

            Elucidar uma questão é também ocasião de aprender, de raciocinar na medida mental de quem escuta, conseguindo novas conclusões resultantes dos esclarecimentos examinados.

            Em contendas, pelo contrário, consomem-se energias na inutilidade do debate, desarmonizam-se os painéis mentais, florescem as disputas em favor do personalismo, e intensificam-se as animosidades.

            Geralmente existe uma disposição combativa dentro de cada um de nós, que é adquirida nas lutas da vaidade, que gera o clima de rebeldia, predispondo a violência. Devemos silenciar a palavra dura que leva ao debate quando sentimos que o argumento da serenidade está recusado. Por que se envolver em tão ásperas disputas, se amanhã as opiniões podem ter mudado?

            O nosso objetivo deve sempre ser o de ajudar, não de vencer. Vencer deve ser o apelo principal para vencermos a nós mesmo. O homem que sabe e compreende a relatividade das coisas, que conhece o incomensurável do que ignora, silencia para meditar, examina para aprender melhor, e quanto mais sabe, mais se compenetra de humildade.

            Ajudar ao nosso próximo evitando as contendas não constitui um fardo, quando compreendemos que esse próximo é nosso irmão, e melhor ainda, quando intuímos que estamos ao serviço de Deus, ajudando o nosso próximo, percebendo que isso não é um fardo, e sim uma honra.

            Os homens superiores desenvolvem essa compreensão, ignoram os triunfos sobre os outros, em contendas, preocupados que estão em se superarem. Fiscalizam as palavras e mantém a serenidade para que o verbo exale o aroma da sabedoria e da compreensão.

            O imperador e filósofo romano Marco Aurélio, já dizia que “o homem comum é exigente com os outros, enquanto o homem superior é exigente consigo mesmo.

            Finalmente, lembremos das lições do Mestre, que nunca procurava tergiversar com o adversário que aqui e acolá se fazia presente em sua vida. Até mesmo diante da autoridade do governador Pôncio Pilatos, que lhe perguntava se ele era o Rei dos Judeus, quando os sacerdotes judeus o estavam acusando com intenção de matar através de Roma: “Tú o dizes. Meu reino não é deste mundo”. E silenciava. Não entrou em debates reconhecendo a inconveniência, a incapacidade do interlocutor de alcançar a dimensão do que ensinava. Deixou apenas o norte para que houvesse reflexão e a consciência de cada um pudesse ser acionada no reconhecimento da Verdade, por mais distante que estivesse dos conhecimentos ou dos interesses de quem lhe rodeava.


Publicado por Sióstio de Lapa em 26/05/2018 às 23h59


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr