Meu Diário
28/08/2018 23h59
PERDÃO, A TRILHA DE CADA DIA

            Allan Kardec escreveu que “o egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes”. O perdão é das mais gratificantes virtudes, associado intimamente ao amor, a marca de Deus dentro de nós. A incapacidade de perdoar está ligada aos nossos valores materiais, aos instintos, ao Ego, ao culto à personalidade. Por isso vamos encontrar sempre como sua característica as falsas noções de caráter, o estímulo ao egoísmo, os conceitos retrógrados repetidos maquinalmente, e a manutenção do clima de ódios e mágoas em nome da honra.

            Observamos que na base cognitiva daquela pessoa incapacitada de perdoar, uma dignidade equivocada frente aos valores espirituais. Verificamos uma forte consideração ao próprio Eu, exibe paradigmas de valores que exigem esforços dos outros para aceitar uma “verdade” que pertence ao outro, e não interpreta com justiça a elevada posição da honradez quando alicerçada em valores morais.

            Visto assim, iremos encontrar ações contraditórias no comportamento humano. Pode a pessoa pensar em agir com dignidade, mas termina reagindo em nome da honra; não percebe que a violência perde a força com o choque do “não revide”; e que o crime se inibe e desaparece diante do amor. Existe uma tendência de a pessoa humana ser valorizada como uma coisa e não enxergar em cada um a sua dignidade moral e espiritual.

            O amor tem a força da verdade e a razão a força do bom senso. Estas podem ser consideradas a base para o perdão, pois o desrespeito cessa quando desabrocham os ramos vigorosos da saúde moral, e o caduco direito da força sucumbe ao imperativo da força do direito e da verdade.

            Por outro lado, a base para o ódio são as suscetibilidades que infestam o homem e que o prendem a compromissos nocivos com a inferioridade espiritual. É necessário que sejamos despojados de toda cultura perniciosa para que sejamos incluídos em seminários de enobrecimento. O perdão irrestrito e incondicional tem primazia no programa evolutivo de todo homem que busca espiritualizar-se.

            O contrário do perdão, a vingança, tem os seus gatilhos de início: uma fagulha de ira que pode atear fogo num depósito de ódio latente; uma palavra de cólera que oferece combustível para desmandos injuriosos; aborrecimento conservado que é antipatia em elaboração; suspeita que não cessa, pois é declive derrapante para a inimizade; e, a animosidade sempre vitalizada que é semelhante a úlcera pútrida nos tecidos orgânicos. Suas emanações venenosas empestam aqueles que se acercam, ampliando o campo da virulência. Suspeita e dúvidas levam à animosidade e ódio.

            No “Evangelho segundo o Espiritismo” vamos encontrar no capítulo IV o seguinte texto sobre a Cólera: No seu frenesi, o homem colérico se volta contra tudo, a própria natureza bruta, aos objetos inanimados, que espedaça, por não o obedecerem. Ah! Se nesses momentos ele pudesse ver-se a sangue frio, teria horror de si mesmo ou se reconheceria ridículo. Que julgue por isso a impressão que deve causar aos outros. Ao menos pelo respeito a si mesmo, deveria esforçar-se, pois, para vencer essa tendência que o torna digno de piedade.  

             Espinho cruel a ferir sem compaixão é a palavra de quem acusa; cáustico e corrosivo é o verbo na boca de quem relaciona defeitos; veneno perigoso é a expressão condenatória a vibrar nos lábios de quem malsina... borralho escuro, ocultando a verdade, às vezes por não ter consciência da verdade, é a maledicência destrutiva.

            Somente o amor nas bases em que o postulou Jesus, dispõe de recursos para a conservação da honra no esmero do caráter cristão. Evitemos a maledicência que dilata o círculo das malsinadas suspeitas, buscando aquele que talvez ignore o mal do qual nos supomos vítima, esclarecendo a dúvida, pondo por término à sementeira da aversão em começo...

            Está escrito por Mateus uma das lições de Jesus, em 5;25 – Concilia-te depressa com o teu acusador, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao fiscal, e te encerrem na prisão.

            Concilia-te depressa, pois hoje o ofensor está contigo, amanhã talvez não... agora é o momento de desculpar, depois o tempo terá agravado o mal. Possivelmente quem te magoa carrega pesado tributo de desequilíbrio emocional sob tormentos que desconheces.

            Perdoa hoje e já. Faze mais: ama o verdugo da tua harmonia íntima, da tua honra.

            Na Erraticidade do mundo espiritual se movimentam, infelizes e sediosos, aqueles que desencarnaram vencidos pelo ódio, corroídos pela azedia do ciúme e dominados pela paixão.

            Lembremos sempre o quanto perdoou o nosso Mestre Jesus: traído pelo companheiro Judas, obsidiado pelas trevas; do governador Pilatos, indiferente por cegueira moral; de Pedro acovardado pela hipnose obsessiva; dos amigos distante na hora derradeira do calvário; e da turba desenfreada, tão beneficiada e tão ingrata, escolhendo um criminoso ao invés daquele que tanto bem espalhou por onde andou.

            Esta foi a lição mais poderosa do Cristo, pois perdoando a todos que o perseguiam, pedindo ao Pai, clareou as mentes obnubiladas pelas trevas com o corretivo incorruptível do amor, em festa de luzes que continuam a iluminarmo-nos através dos séculos.


Publicado por Sióstio de Lapa em 28/08/2018 às 23h59


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr