Meu Diário
16/10/2018 23h59
A VERDADE E A MENTIRA

            Diz uma parábola judaica que certo dia a mentira e a verdade se encontraram. A mentira disse para a verdade:

            - Bom dia.

            E a verdade foi conferir se realmente era um bom dia. Olhou para o alto, não viu nuvens de chuva, vários pássaros cantavam e vendo que realmente era um bom dia, respondeu:

            - Bom dia, dona mentira.

            - Está muito calor hoje, disse a mentira.

            E a verdade vendo que a mentira falava a verdade, relaxou.

            A mentira então convidou a verdade para se banhar no rio. Despiu-se de suas vestes, pulou na água e disse:

            - Venha dona Verdade, a água está uma delícia.

            E assim que a Verdade sem duvidar da mentira tirou suas vestes e mergulhou, a mentira saiu da água e vestiu-se com as roupas da verdade e foi embora.

            A verdade por sua vez recusou-se a vestir-se com as vestes da mentira e por não ter do que se envergonhar, saiu nua a caminhar na rua.

            E aos olhos de outras pessoas era mais fácil aceitar a mentira vestida de verdade, do que a verdade nua e crua.

            Devemos refletir: as convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras; é com as mentiras da manhã que podem ser construídas as verdades da noite.

            Nestes dias que antecedem as eleições em segundo turno no Brasil, essa parábola judaica se torna útil para o nosso raciocínio.

            Vamos considerar o momento atual dentro dos 13 anos de administração petista no país. Sabemos dos graves erros cometidos, a partir do mensalão, que só por isto já era motivo do presidente da República, Lula, o presidente que ajudei a eleger, sofrer impeachment. Porém os seus aliados fizeram uma blindagem para o escândalo não chegar até ele, e o mesmo só se defendia com o clássico “não sei”, “não sabia”.

            A partir desse momento diversos outros escândalos foram surgindo com o poder de cooptação da maioria do congresso, tanto na Câmara dos Deputados, como no Senado. Sempre uma voz indignada se rebelava contra esses descalabros, a do deputado Jair Bolsonaro. Reagia com tanta veemência e indignação aos descalabros da administração petista, que se tornou o ícone da revolta popular contra esse estado de coisas, e finalmente a população o indicou como o único político que podia mudar radicalmente essa situação, que era o que deseja as forças ligadas a ética e a honestidade.

            Essa narrativa é até fácil de ser feita, mas quando chega próximo o momento do Deputado Jair Bolsonaro assumir a presidência, ancorado no seu grau de indignação, que é sintonizado com a maioria do povo que se sente engabelado, surge novas narrativas querendo puxar a história do governo militar somente do seu ponto de vista. Se vamos considerar a história, então temos que analisar o ponto de vista dos militares, da população da época que pedia que os militares assumissem o poder, inclusive o clero apoiado pelas famílias.

            Em função desse histórico também se faz uma projeção de um governo de terror para amedrontar mentes frágeis, dóceis e subservientes. Em nenhum projeto de governo se observa essa tendência ao terror e sim à justiça e a honestidade, inclusive caminhando bem próximo do ideal evangélico, por isso o apoio de tantos líderes religiosos.

            Talvez seja escandaloso ver a verdade nua e crua, é bem mais fácil aceitar a mentira travestida de verdade!


Publicado por Sióstio de Lapa em 16/10/2018 às 23h59


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr