Meu Diário
25/01/2019 02h01
TRÓTSKY (14) – MUNDOS DIFERENTES

TRÓTSKY (14) – MUNDOS DIFERENTES

            Série da Netflix, segundo episódio.

            A cena se desloca para a cidade, no condomínio dos socialistas, Trótski lê o livro do Prof. Sigmund Freud: “A psicopatologia da vida cotidiana”. Ouve passos na escada e abre a porta com velocidade.

            - T. Natália. Boa tarde.

            - N. Trótski, está me perseguindo?

            - T. Eu? Estou. Quero lhe perguntar uma coisa.

            - N. Pode perguntar.

            - T. Quer uma fruta? Muito bem... Por que você acha nossas reuniões chatas?

            - N. Você está na Europa, Trótski. Temos museus, teatros e exposições aqui. Muita vida. E vocês ficam em cafeterias falando de mudanças. É possível mudar a vida sem conhece-la?

            - T. Sim, tem razão. Eu não conheço esta vida. Passei quatro anos exilado. Sem museus, sem teatros. Sem futuro, as pessoas não têm motivos para viver. E eu quero dar a elas um motivo para viver.

            Natália deixa a cadeira onde está sentada e vai até a cama onde pega o livro que Trótski estava lendo.

            - N. Freud.

            - T. Sim.

            - N. Bela escolha para um rebelde.

            - T. Só queria saber. Freud está na moda.

            - N. Ele é curioso. Suas ideias sobre sexualidade chocam. Mas ele tem uma mente aguçada. Até logo.

            - T. Natália. E se eu quiser ver que tipo de vida você gosta? Por onde começo?

            - N. Fui convidada para um sarau esta noite. Você pode ir se quiser.

            - T. E o que é um “sarau”?

            - N. Será um jantar.

            - T. Talvez eu vá.

            A atração que Trótski sente por Natália faz com que ele tire por um momento o foco do seu projeto revolucionário e procure viver um pouco o mundo dela. Realmente, podemos considerar mundos diferentes coexistindo dentro de um mesmo espaço físico, de um mesmo país ou cidade. Isso acontece em todos os lugares, desenvolvidos ou não. A natureza humana consegue criar guetos onde os mais frágeis se submetem a trabalhar para manter a mordomia dos mais fortes. Não há uma preocupação de corrigir esses desníveis de forma definitiva. Talvez isso seja o que caracteriza o nosso planeta pelas inteligências espirituais, como de “provas e expiações”. Quando atingirmos a condição de fazermos essa correção, evoluiremos para planeta de “regeneração”. Esta é a nossa tarefa enquanto cristãos, transformar o nosso coração com a Reforma Íntima e nos capacitar para evitar desníveis de mundos humanos tão drásticos, de forma definitiva. Natália está dentro do mundo mais sofisticado, sem a percepção do que acontece no mundo de seres escravizados pela miséria e ignorância; Trótski conhece o mundo escravizado e quer lutar para corrigir essa anomalia que o ser humano criou, não importa em conhecer ou reconhecer o mundo sofisticado e cheio de mordomias de Natália, para quem tem dinheiro, construído e adquirido com a miséria do povo. Certamente os argumentos de Trótski, mesmo dentro do mundo de Natália, serão mais fortes que os dela.


Publicado por Sióstio de Lapa em 25/01/2019 às 02h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr