Meu Diário
10/03/2019 01h01
REFLEXÕES ÍNTIMAS

            Nasci no dia 20 de outubro de 1952, ano em que foi lançado os belíssimos filmes “Dançando na Chuva”, “Luzes da Ribalta”, “O Maior Espetáculo da Terra” e “Viva Zapata” entre outros que acredito trouxeram inspiração para o Eu espiritual que começava a se instalar no meu corpo.

            O local era uma ilha chamada de Areia Branca, cidade do Rio Grande do Norte, onde fiquei morando até os cinco anos. Nesse momento minha mãe separou dos meus pais e fui morar com ela e minha avó materna em outra ilha, Macau, no mesmo estado, ambas produtoras de sal. Será que essa dupla dose de sal teria algo a ver com a mensagem de Jesus, de que somos o sal da Terra?

            Como primogênito tive dificuldade de atravessar o canal do parto. Foi necessário meus parentes fazerem um pacto com São Francisco, o santo mais importante do mês no imaginário deles, que se eu escapasse com vida receberia o nome dele. Assim aconteceu.

Tive dois irmãos de pai e mãe, mas com a separação tive outros mais, tanto por parte da minha mãe, com quem fiquei em Macau, quanto por parte do meu pai, que permaneceu em Areia Branca e com o qual não tive mais contato.

Fui criado por minha avó, devido as dificuldades financeiras da minha mãe. Logo cedo comecei a trabalhar e estudar. Fazia tanto um como o outro sem queixas. Minha avó tinha uma religiosidade próxima aos povos africanos de sua origem, e vez por outra se envolvia em batalhas místicas, com feitiços e catimbós que enviava e recebia. Cheguei a testemunhar alguns desses fatos. Mas ela me colocou para estudar em escola católica, fui escoteiro e auxiliar do padre nas missas e procissões.

Por esses caminhos desenvolvi também a minha religiosidade. Gostava de frequentar qualquer expressão religiosa, e cheguei a ver flutuando no céu, num momento em que estava em casa balançando na rede, a imagem de Nossa Senhora, tal como a via na igreja.

Fiquei diferenciado logo cedo dos outros meninos, por minha capacidade de leitura, lia com gosto e desenvoltura o grosso livro, cheio de imagens, da vida de Jesus. Ficava muito tempo dentro de casa, brincando sozinho com tampas de garrafas, construindo casas, fortificações, ou colocando-as enfileiradas simulando um duelo entre mocinhos e bandidos, torcendo sempre para a vitória do bem.

Por ficar muito tempo sozinho, os sonhos eram frequentes, e ficava divagando sobre o futuro, uma profissão de herói, o casamento com uma bela mulher com a qual eu viveria com muito amor até o fim da vida.

Mas tamanho isolamento trouxe dificuldade nos meus relacionamentos. Até as garotas pelas quais meu coração despertava, eu não tinha coragem de me aproximar e demonstrar meu afeto. Meus amores foram sempre platônicos, tinha medo até de olhar para quem eu gostava, com medo de ser interpretado como vilão, que queria roubar a pureza de uma virgem.

Assim foi com aspectos importante da biologia, pois até os 17 anos eu não sabia como ocorria a relação sexual. Na escola não ensinava, não tinha pais para me explicar, a minha avó era mais castradora, sargentão, do que uma educadora. Meus amigos e irmãos, quando eu tinha oportunidade de encontra-los, não abordávamos esse assunto.

Assim vivi a minha vida, mergulhado na ignorância da vida prática, mas alcançando uma boa bagagem teórica, que fazia eu mergulhar no universo místico e fantasioso, e por outro lado dificuldade de caminhar pelas diversas estradas da vida prática, que implicava em relacionamentos. Não procurava ver a maldade do mundo. Procurava a sintonia sempre com o bem.

Assim foi até os 18 anos, quando fui convocado para servir a Marinha do Brasil, na capital, Natal, e tive que deixar a casa da minha avó. Começaria outra etapa da minha vida.


Publicado por Sióstio de Lapa em 10/03/2019 às 01h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr