Meu Diário
30/11/2019 00h28
OTIMISMO (32)

Judas Tadeu estava nos arredores de Tiberíades, cidade construída por Herodes em honra do imperador Tibério, considerada uma cidade sagrada. Ele meditava sobre seu dever, querendo conciliar os trabalhos materiais com os espirituais, sem poder se inclinar nem para um lado ou outro. Que podia fazer? Como entender tal situação? Começava a fraquejar e precisava de Otimismo.

Andando por Tiberíades, Tadeu encontra um velho casarão, escondido nas árvores. Era o Sítio de Tálium, velho morador e famoso mago negro da região. Tadeu foi convidado a entrar em um salão subterrâneo e pensou firmemente em Deus. Ficou entre mulheres que estavam embebidas em certos rituais que o fanatismo e a ignorância as amarravam. Tadeu, por já conhecer a verdade com jesus, perguntou:

- Que quereis de mim?

            Tadeu viu uma forma estranha aparecer ao seu lado, querendo tirar o discípulo do rebanho de luz, prometendo o céu e o mar, fortuna, posição, sabedoria e coragem. Ofereceu tudo para afastar Tadeu das hostes de Jesus. Mostrou seus poderes e ofereceu otimismo e coragem num passe de mágica, mas que ele fizesse um pacto de ser seu comandado.

Tadeu respondeu que nunca seria um agente para espalhar o mal. “Fica com os teus, pois eu já sou do Cristo e Ele habita em mim”. Fez uma prece naquele espaço de trevas, impulsionado pela força do bem e do amor. Desfez-se a imagem tentadora.

            Mais tarde, em Betsaída, Tadeu sentiu a necessidade de interpelar Jesus:

- Mestre, preciso muito da sua fala a respeito do Otimismo. Em dados momentos sinto-me como folha seca ao vendaval, como um rio que perdeu o contato com sua fonte. Enfim, Senhor, quero mesmo é Te ouvir. Fala-me o que preciso ouvir.

O Mestre, ponderado e altivo, considerou a situação do discípulo e abordou o assunto com amabilidade.

            - Tadeu, é justo o que queres saber e, por certo, conquistar.           O Otimismo é uma feição divina que pode se apoderar das criaturas e fazer parte delas nas suas caminhadas para a eternidade. O Otimismo e a Coragem são quase idênticos. As diferenças parecem não existir, pelo que apresentam de semelhantes. No entanto, nós que idealizamos a perfeição e trabalhamos com esse objetivo, nos interessa muito onde o Otimismo deve ser separado da Coragem e até que ponto devemos ceder a essas forças que a alma desperta e arregimenta em seu interior, em busca da felicidade.

‘Em primeiro lugar, deves saber que toda perfeição exige esforços compatíveis com suas qualidades. Não podes pensar, jamais, que essas conquistas das almas são doadas por alguém a não ser por Aquele que nos criou, que já nos fez com todas as perfeições em estado latente, deixando para nós o trabalho de conquistar o aperfeiçoamento, esforçando-nos pacientemente em todas as direções para que esse bem eterno acorde em nós o tesouro depositado pelo Senhor no cofre divino das nossas consciências.

            ‘Toda facilidade é filha da ilusão, parece brilhar aos olhos dos que adotam a preguiça, porém é breve qual fumaça que se desfaz ao sabor dos ventos. Comparemos com a Natureza e sintamos essa verdade nos animar para o trabalho, devagar, mas sempre.

Se queres ser um mestre, em primeiro lugar tens de te fazer aluno, não contrariar o tempo e despender todos os esforços que estiverem ao teu alcance. E mesmo assim não parar de estudar no mundo e no livro da Natureza, para que cada vez mais possas oferecer o melhor aos que te seguem.

O Mestre criava imagens usando a própria Natureza para ser melhor entendido. Notando ansiedade nos discípulos, continuou:

- Tadeu, o Otimismo se apresenta como um perigo aos desprevenidos de certo senso. É digno que o atinjas até onde ele possa ser útil na escala das qualidades. O exagero faz dele uma entrada para a inconsciência e pode entorpecer a razão, despenhando em vales que o arrependimento marcou muito tempo para ser feito o reparo de um impulso que a disciplina não atingiu. Aí é que o Otimismo passa a ser coragem. Ele é meio cego e, por vezes, mesmo em caminhos tortuosos, se alimenta e está disposto a seguir mesmo nos corredores das sombras. O Otimismo é a Coragem educada, e a Coragem é o Otimismo em preparo. É necessário que usemos a inteligência para que possamos vigiar o nosso Otimismo no seu grandioso trabalho no decorrer das nossas labutas. O dia-a-dia pede de nós essa disposição, para que sintamos a vitória. Contudo, um juiz dentro de nós julga sem piedade os nossos erros, aplicando as sentenças correspondentes com as faltas cometidas. O tribunal da consciência só sentencia depois dos fatos. A vigilância é montada pela razão, que se enriquece pela inteligência, aliada aos sentimentos. Eis que é aí que se inicia a nossa tarefa, o nosso trabalho, o trabalho da Boa Nova: despertar o homem, fazer nascer o homem novo dentro do homem velho. E dizer para ele que viva, que ande, que fale, que se abrace com Deus nos seus próprios caminhos internos, para que a felicidade possa atingir outras áreas da vida, ainda desconhecidas.

Todos tinham os olhos fixos no Nazareno. Após alguns segundos de pausa, continuou o discurso:

            - Tadeu, o que aconteceu contigo naquela noite de trevas não representa uma fração do que ocorre todos os dias em muitos pontos do mundo. O mal, meu filho, já está organizado. Falta-nos organizar o bem e confiar nele, como o ambiente da verdadeira paz.

Foste um pouco enganado para sentires o que podes passar apartado de mim. Eles não são verdadeiramente maus, são ignorantes. De tanto mexer com fogo, acabam queimando as suas próprias possibilidades de servir e de amar. O mal que pretendem fazer servirá para despertá-los, mais tarde, para o bem que nunca morre e que os espera a todos.

            ‘A escola do Otimismo é essa a que já pertences, pelo coração, e que, gradativamente, haverás de conquistar, dependendo da tua disposição de servir, de trabalhar e mesmo de sofrer por ela.

‘De novo te falo como o Pai para todos que me cercam com amor. Não queiras nada com facilidades, pois essas pertencem aos fracos de Inteligência e esquecidos de sentimentos superiores.

‘Eu sou otimista por excelência, creio na eficácia da missão que empreendemos, mas nunca deixes o Otimismo tomar as vestes da violência, nem a rota da imprudência e, muito menos, feches os olhos nos momentos difíceis deixando surgir a coragem cega que não mede consequências.


Publicado por Sióstio de Lapa em 30/11/2019 às 00h28


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr