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DEUS EXISTE?
Esta é uma discussão que hoje está na pauta do dia, levantada por cientistas ateus muito respeitáveis nos seus campos de atuação. Tenho o maior respeito pela ciência, mesmo porque minha principal formação profissional foi alicerçada essencialmente sobre os princípios científicos da psicofarmacologia. No entanto, não consigo me aliar aos pensamentos ateus e descartar a existência de Deus da forma que eu O sinto dentro de mim. Sei bem que essa forma de conceituar a existência de Deus mudou bastante desde quando eu passei a aceitar o conceito. De um velhinho bondoso de barbas brancas e olhar sereno, evoluiu para uma força incomensurável e de inteligência indescritível que está presente e atuante em todos os aspectos da Natureza e de certa forma se confundindo com ela. Agora mesmo enquanto estou produzindo este texto, sinto que a sua presença está comigo, representada nos trilhões de células que Ele deixou sob o meu comando. Para dizer que ele não está presente e tem o domínio de tudo o que existe no Universo, considero que apenas um só aspecto não há esse domínio divino: o nosso livre arbítrio.
É esse livre arbítrio, essa consciência, esse Eu, que todos possuímos, que depende de nossas próprias decisões e convicções. É este o único campo onde realmente estou nivelado com meus colegas cientistas que são ateus. Deus não tem domínio sobre suas consciências nem sobre a minha. A partir daí poderíamos imaginar como se deu a bifurcação de nossos caminhos para uma questão tão ampla, de uma consciência tão diminuta nivelada na inexistência de Deus para um Universo infinito, um permeado por Deus e outro não. Porque uma consciência se comporta assim e outra não? Porque eu como tantos outros desenvolvem o forte sentimento da presença de Deus em cada ínfima representação da Natureza e outros colegas com o mesmo nível de honestidade, de inteligência desenvolvem um sentimento contrário, de que nada existe de divino na fenomenologia natural?
Podemos imaginar que o que abriu essa dissidência no pensamento seja justamente aquilo que não conseguimos controlar adequadamente com os nossos sentidos. Não há dúvida de que toda fenomenologia natural tenha a mesma interpretação natural dada por qualquer cientista, acredite ou não em Deus. As próprias ferramentas que a ciência coloca ao nosso dispor nos obriga a isso. Por exemplo, todo fenômeno que eu defender dentro de determinada hipótese deve ser passível de reprodução em qualquer local, nas mesmas circunstâncias, por qualquer pessoa. Quando eu ultrapasso o limite dos fenômenos naturais empíricos, que possam ser colocados em experimentação com esse rigor da replicação, o que vai valer com maior peso são os argumentos lógicos do pensamento racional. E a lógica e a razão são ferramentas abstratas do pensamento que são construídas individualmente por cada um de acordo com suas experiências educativas, culturais, emocionais, enfim uma quantidade enorme de fatores individuais ou coletivos que influencia a nossa forma de ver o mundo. Então, isso justifica que uma determinada experiência ou vivência deixe o meu racional mais simpático à existência de Deus, ou não! Então entramos num campo onde a experimentação, as ferramentas científicas não são úteis para definir a questão, porque estamos no campo da transcendência das coisas materiais, da transcendência das coisas que estimulam nossos sentidos e geram a percepção. Então, não é uma questão de estar certo ou errado. É uma questão de estar sendo honesto com aquilo que a razão diz ser correto. Jamais poderei dizer que os cientistas ateus são desonestos, porque eles estão defendendo com inteligência o que imagina ser correto, da mesma forma que fazemos aqueles que acreditam em Deus. Então mais uma vez ficamos pareados numa mesma posição, só que desta vez caminhamos em trilhas paralelas que não se aproximam, acreditar ou não em Deus. Isso difere da natureza da consciência onde somos unificados na liberdade do nosso livre arbítrio, sem a ingerência de Deus.
Mas, vamos passar agora a fazer outras considerações. Como existem duas posições contrárias, uma da existência e outra da inexistência de Deus, e até uma terceira, da dúvida, qual pode nos trazer mais benefícios? Um universo que seja permeável pela presença de Deus e que eu posso acessá-Lo com minha fé? Um universo sem a presença de Deus e todos estamos submetidos a lei do acaso? Ou a posição da dúvida?
Bem, vamos ter que aceitar que, se acreditamos na existência de Deus colocamos um elemento adicional no Universo, considerando este como sendo formado pelas coisas visíveis e invisíveis, conhecidas e desconhecidas, imanentes e transcendentes. Então, se esse Deus tem características positivas meu Universo passa a ser temperado com positividade, ou vice-versa. Então não basta que eu venha a acreditar num Deus dos Cristãos, dos Judeus, dos Muçulmanos e quantas religiões estiverem ao meu alcance. Basta que o meu Deus tenha o formato de positividade que necessita a minha individualidade num contexto de evolução pessoal e coletiva. Eu imagino que tenho meu Deus com esse formato e que mesmo não sendo exatamente igual ao Deus dos meus companheiros de jornada tem uma proximidade muito grande. Então, jamais passa por minha mente descartar o meu Deus como inexistente, pois isso iria provocar o vazio de um grande espaço que ele já ocupa em minha vida. E um espaço de positividade! Fazendo essas considerações, percebo que tenho algo mais e de positivo na minha vida que não existe naquelas dos cientistas ateus. Mesmo que numa hipótese ousada e altamente improvável a ciência avançasse o suficiente para descobrir tudo que hoje ainda está encoberto, e nenhum segredo mais guardasse a Natureza, e que em nenhum dos escaninhos da vida ou do Universo fosse encontrado qualquer vestígio de Deus, mesmo assim eu pressinto que a minha formulação do conceito de Deus seria mais uma vez alterada, talvez até radicalmente, mas continuaria a mantê-Lo existente na minha vida. Isso porque O consideraria como uma aquisição preciosa do meu livre arbítrio e por intuir que mesmo tudo tendo sido descoberto, se eu ainda O possuo é porque deva ser tão precioso e que em nenhuma parte do Universo foi encontrado qualquer rastro seu. Ele está dentro do meu próprio Universo interno, nos meandros da minha consciência, onde ninguém tem acesso, pois nem mesmo Ele tem.
Considero desta forma, que possuo algo realmente precioso, que me faz muito bem e que me projeta na vida de forma iluminada. Mesmo com a discussão externa de que
Ele existe ou não, considero que seja uma discussão apenas externa, porque ele já existe dentro de minhas convicções. E por saber que a força da existência desse conceito divino dentro da existência de cada um é uma ferramenta importante para ultrapassar a nossa condição animal, consolidar nossa condição humana e avançar no conhecimento de uma espiritualidade que todos possuímos, acreditemos ou não em Deus, é que envidamos tantos esforços nos estudos desse campo e de transmitir para os estudantes as bases racionais onde cada um pode formatar seus próprios caminhos com mais subsídios e assim decidir com mais responsabilidade pelo caminho da fé, da negação ou da dúvida.

Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 28/12/2011
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