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CEIFEIROS EQUIVOCADOS
O capataz da Seara precisava de braços para trabalhar a terra e colher os frutos. Saiu a procura na praça publica de pelo menos dois ceifeiros, era o mínimo necessário. Encontrou apenas um no primeiro dia, mesmo assim começou o trabalho. No segundo dia voltou a praça pública e conseguiu o outro trabalhador para a tarefa ser realizada a contento. Acontece que os ceifeiros ao invés de se dedicarem ao trabalho pelo qual foram contratados, passam a se esmerar para se mostrar mais competente aos olhos do capataz, com mimos e atenções dirigidos ao seu bem estar. Chegaram ao ponto de não concordarem em ficar na Seara juntos, cada um teria um horário em separado, forçando o capataz a trabalhar em dupla jornada com um e com outro. Mesmo com os protestos do capataz, de que o trabalho não estava sendo realizado a contento, que deveriam todos trabalhar harmonizados para a melhor produção da terra, os ceifeiros permaneciam nos seus conflitos íntimos em busca da preferência do patrão. O campo já estava coberto de ervas daninhas, as poucas frutas que eram amadurecidas não eram colhidas, apodreciam nos galhos ou eram estouradas no chão.
Chegou o dia da prestação de contas e o Senhor das terras chamou o capataz. Esse explicou o fracasso da colheita porque tentou todo o tempo harmonizar o trabalho no campo e evitar o ciúme dos ceifeiros e intolerância de um com o outro. O Senhor então disse ao capataz que a falha maior foi dele, pois era o responsável por trabalhar o campo e recolher os frutos e não trabalhar todo o tempo na reconciliação e ajustamento de ceifeiros equivocados, que trocam o objetivo do trabalho no campo para o qual foram contratados pela luta da conquista da preferência do responsável.
Voce deveria, disse o Senhor ao capataz, ter dispensado os ceifeiros equivocados e voltado à praça pública em busca de outros que fizessem o serviço. Mas como não fostes competente e responsável de fazer tua obrigação, por ter perdido o senso crítico da objetividade, por ter se envolvido no falso brilho da vaidade, por se sentir disputado pela afetividade de duas pessoas, és tu que vais ser rebaixado. Encontrarei outro capataz e tu irás para a praça pública na condição de ceifeiro. Talvez se fizeres esse trabalho de ceifeiro com competência, sem entrar no jogo das preferências individuais e das vaidades, no futuro te tornarás mais competente para a função de capataz.
Nesta parábola temos o confronto do amor condicional, romântico, com o amor incondicional. O capataz é a pessoa designada por Deus para aplicar na terra o Amor Incondicional nas relações humanas, principalmente nas relações íntimas. Para isso é necessário pelo menos mais duas pessoas. Encontra a primeira e começam o serviço, mas ao mesmo tempo o desenvolvimento do afeto romântico. Com a chegada da segunda pessoa para o serviço contratado, aplicar o amor incondicional no relacionamento e assim dar o exemplo à comunidade de uma relação mais fraterna, mais próxima do Reino de Deus, esse objetivo é totalmente desviado para o jogo de ciúmes e intolerância entre os ceifeiros, característica do amor romântico. Não tem a mínima preocupação com os crimes, abusos, explorações que acontecem na comunidade e que seus exemplos iriam dar outra perspectiva. O tempo da vinda do Senhor das terras significa o tempo da morte que levam a todos prestarem contas a Deus de seus propósitos na terra. O capataz, a pessoa que vem para a terra com uma missão, é cobrada pela sua competência. Caso tenha fracassado como no caso, voltará a terra com uma função mais subordinada para que tenha chance de aprender o que ainda não sabe. Os ceifeiros equivocados são pessoas diferenciadas que já conseguem sentir a importância do Amor Incondicionado na vida prática e se dispõem a viver a experiência, no entanto não conseguem evitar o envolvimento com a forma romântica do amor, com as chagas do ciúme e terminam por inviabilizar a missão do capataz. São pessoas que tiveram chance de viver uma relação diferente da mundana, mais próxima do projeto de Deus, mas que não conseguiram se livrar das influências perniciosas do egoísmo e ficam presas ao romantismo do amor e as suas algemas exclusivistas que geram os maiores pecados da civilização. Essas pessoas devem voltar ao mesmo processo de aprendizado em outras vidas até alcançarem o sentido da lição.
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 24/02/2013
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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr