Textos

ARGUMENTAÇÕES
Minha amada,
Prefiro escrever a falar, sou mais claro nesta forma de comunicação e as falsas interpretações ficam atenuadas. Primeiro quero lhe parabenizar por abordar questões do nosso relacionamento sem agressividade. Sei que você se esforçou para isso e conseguiu.
Tenho que colocar novamente os meus pontos de vista para que possamos conviver em harmonia, senão não vale a pena o relacionamento. A questão prioritária é que nosso relacionamento se baseia numa relação de amigos, não de marido e esposa. Já ficamos entendidos e resolvidos de que o casamento que nós fizemos não tem mais espaço em nossa vida. Então as cobranças devem ser feitas apenas no nível da amizade.
Fico muito incomodado quando você faz criticas com o que eu faço ou deixo de fazer com as pessoas que eu me relaciono, homens ou principalmente mulheres de convívio íntimo. Todas que estão nesse nível sabem que minha relação com você é na base da amizade e mesmo assim eu prefiro conviver com você de que com qualquer outra.
Quanto o compromisso do horário de chegada eu acho que você tem razão. Se ficou estabelecido até as 23 horas então eu não poderei chegar nenhum minuto depois. Mas por acreditar que você ficaria mais incomodada se eu passasse a noite fora é que procurava voltar para casa mesmo tendo passado o horário. Nesse ponto acredito que podemos nos acertar. Eu não virei para casa nenhum minuto depois das 23 horas e você no outro dia compreenderá que eu dormi fora respeitando o compromisso e não terá nenhum motivo para crítica.
As minhas relações fora de casa são de responsabilidade exclusivamente minhas, sem nenhum compromisso de agir assim ou assado com quem quer que seja. O máximo que pode ser feito no papel de amigo é um aconselhamento, mas jamais no intuito de julgamento ou condenação por qualquer tipo de argumentação. Caso isso persista, anula a harmonia na convivência que deve ser uma prioridade e do meu ponto de vista fica incompatível o nosso relacionamento como companheiros. Gosto muito de você e a prova disso é que mantenho a convivência com você, mesmo sem o apelo sexual que é tão forte em nós homens, enquanto existem diversas mulheres que eu poderia ter um relacionamento integral.
O meu senso de justiça leva o meu comportamento ser o mais equilibrado possível entre todos, sem levar favorecimento ou desfavorecimento a nenhum deles. Sei que pelas contingências sociais e de convivências alguns ficam mais afastados, outros mais próximos. A minha consciência diz que eu tenho que fazer as compensações devidas. Muitas vezes a consciência acusa por eu não ter implementado as saídas uma vez por mês no fim de semana, até viajando para algum lugar como faço com você e nosso filho. Faria também com eles, meus outros filhos e suas mães. Sei que minha primeira esposa e nossos três filhos, não tem tanta necessidade disso, já tem independência financeira suficiente para fazerem essas viagens sozinhos sem a minha presença. No entanto ainda faltaria o meu afeto para eles. No caso de minha filha caçula, que nasceu depois que estamos convivendo, e a sua mãe, é diferente. Elas não têm independência financeira, dependem mesmo da ajuda que eu dou e principalmente desses momentos de lazer e convivência que são tão reduzidos. Agradeço muito a tia delas que as acolhem com todo o carinho, pois se não fosse isso eu é que teria que dar o meu jeito.
Quanto ao nosso filho e suas necessidades especiais, eu estou atento. Você já testemunhou que quando eu sinto que é necessário eu puxo o diálogo e deixo ele expressar o que sente para daí passar a alguma orientação. Sei que o caso dele tem até indicação farmacológica e psicoterapeuta, mas sei do poder nocivo que tem ambas as intervenções, principalmente a primeira, nos efeitos colaterais e no preconceito vigente. Então vejo que ele apesar de tudo, está evoluindo muito bem, com bons resultados cognitivos e menos do ponto de vista  emocional. Acredito que minha convivência com ele possa ser muito útil, assim como seria muito útil também com a minha filha caçula, que tem sérios problemas de inibição, facilidade de influenciação e alem do mais do sexo feminino, como você deve saber da importância que o pai tem nesse processo. Mas a minha convivência com nosso filho só terá resultado positivo se entre eu e você existir harmonia na convivência. Caso você não consiga ter essa harmonia íntima que reflita na relação entre nós três, é preferível que eu fique morando fora e dê os contatos mais dirigidos a ele de que a você quando for oportuno. Tudo isso deve ser decidido sem nenhum constrangimento por nenhuma das partes. Sei que você não quer o meu mal e eu não quero o seu. Continuarei a lhe amar com todo o meu coração onde eu estiver, pois sei que não estou perto de você porque o meu jeito estranho de ser, devidos os princípios da minha consciência, não permitiram lhe dar o que você precisava, os limites que você exigia.
Espero que você na se aflija por minha sorte, pois sabe que estou seguindo fielmente o que determina minha consciência e sei das conseqüências: ninguém neste mundo de Deus pode conviver comigo em harmonia sabendo e sofrendo o meu modo de ser. Isso é o que todos dizem, o que todos estão demonstrando até agora.  Estou preparado para enfrentar a solidão assim como o Cristo enfrentou a crucificação. Não pensarei em nenhum momento em qualquer tipo de retaliação contra você se você decidir que eu tenho que sair da sua casa. Compreendo o seu sofrimento, dos momentos da minha ausência, dos atrasos, sabendo que estou com outras pessoas. Tenho apenas como atenuante na minha defesa é que nunca deixei de lhe amar com toda a intensidade dos primeiros dias. Pode não ter a paixão que nos deixa cegos para o mundo ao redor, como aconteceu no começo do nosso relacionamento, mas o amadurecimento do amor que foi feito ao longo dos tempos deixa sempre você com a prioridade dentro do meu coração. Sei que você não gosta quando falo assim, pois implica na presença de outras pessoas dentro dele, mas é a verdade. Mesmo quando eu disse que minha namorada virtual, que mora em Juiz de Fora, tinha assumido a prioridade, eu estava forçando a barra, premido por suas acusações que eu sempre mentia quando dizia que você era a mulher que eu mais amava. Então pronto, pensei eu, vou dizer agora que é essa namorada que tem a prioridade. Mostrava assim que eu podia dizer que você não era a prioridade se isso acontecesse.
O efeito de suas últimas críticas sobre o meu comportamento com relação a mãe de minha filha caçula, já fez um efeito de eu ficar muito isolado, fechado com meus livros na Biblioteca. É o que observo. Cada vez que você tem um comportamento desse tipo, acontece um afastamento entre nós. Isso não implica que o amor que eu tenho por você está morrendo, tenho a consciência de que o amor é eterno. Ele pode se transformar, como se transformou com relação a minha primeira esposa que agora a considero como uma irmã. E você sabe como foi dura a reação dela sobre mim e por quanto tempo. Mais jamais eu deixei morrer o amor que um dia tivemos com tanta intensidade. Mesmo assim eu deverei suportar com você, caso você entenda que não deva mais conviver comigo.
Sei que teremos maturidade suficiente para explicar ao nosso filho o que está acontecendo e ele também já tem uma maturidade excelente nessa questão de ver os relacionamentos. Quando estou sozinho com ele e toco no assunto, percebo que ele tem uma visão equilibrada da questão e não entrará no mérito de julgamento de nenhum de nós.
Quero que você compreenda também, que jamais fiz ou deixei de fazer qualquer coisa com você para me promover ou para mostrar a minha força para outras pessoas. Pelo contrário, esses dilemas de convivência, esses conflitos que enfrentamos as pessoas não tem consciência. Todas pensam que não existe nenhuma dificuldade entre nós no nível que enfrentamos. Sabem da dificuldade de um relacionamento diferente e que quaisquer umas delas também teriam dificuldade de enfrentar.
Fiz outra reavaliação do meu comportamento e não encontro forma de ver algum erro. Mesmo porque se eu encontrasse erro na forma de amar sem exclusividade, eu teria que voltar para minha primeira esposa, pedir seu perdão e voltar a conviver com ela. É esse mesmo tipo de amor que me justifica ter me aproximado de você com a profundidade que fiz, foi que a consciência apoiava o amor não exclusivo. Agora é essa mesma consciência que me aproxima de outras pessoas.
Espero que você medite bem nessa argumentação e tome a decisão mais conveniente. Jamais queria sair de perto de você, de ser o seu companheiro. Gosto muito da sua companhia só pelo prazer de interagir com você, mas entendo que você tem suas limitações e sabe até onde pode ir. Procurei deixar bem claro o que estou fazendo e o que poderei fazer alicerçado nos apelos de minha consciência. Mas você deve ouvir também a sua. Quero que saiba que qualquer que seja a decisão, o meu amor por você não será afetado!

19-12-2009 às 13:30.
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 01/03/2013
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