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A FONTE E O JARRO
Existia uma fonte solitária sempre a jorrar o seu precioso líquido a quantos tivessem sede. Era uma fonte primorosa que sabia escoar diferentes tipos de água através de um delicado sistema de composições rochosas que se alternavam em diversos aquíferos com bolsões de água influenciados por diferentes minerais. Ela estava constantemente alimentada pela água da chuva, que era filtrada, purificada e enriquecida pelo solo e pelas rochas. Devido a isso as pessoas se beneficiavam de acordo com as diferentes características que a fonte apresentava em diferentes ocasiões.
Nos momentos que jorrava uma água mineral gasosa, possuía um sabor agradável e era muito utilizada para o tratamento de distúrbios renais, digestivos e certos tipos de intoxicação. Quando no aquífero predominava o Magnésio, a água se tornava mineral magnesiana e era ótima para o tratamento de distúrbios hepáticos, da vesícula biliar e certas alterações do intestino grosso. Quando adquiria as características alcalinas se tornava benéfica para tratar problemas gástricos, renais e de vesícula biliar. Se o aquífero levava ferro transformava a água em mineral ferruginosa e dessa forma servia para o tratamento de anorexia, anemia e astenia. No momento que ela se apresentava como água mineral sulfurosa contribuía para o tratamento de diabetes, processos alérgicos da pele doenças do colágeno e distúrbios do intestino grosso, como colites crônicas e pós-infecciosa. Quando era o momento de existir lítio em sua composição se tornava água mineral carbogasosa e se tornava muito eficaz para o tratamento de depressão e estresse.
A fonte gostava de servir as pessoas, se sentia realizada. Desejava no seu mais íntimo sentimento, que houvesse outras fontes iguais a si e que assim pudessem ajudar a muitas mais pessoas. Mas como fazer isso? Como conseguir novas fontes? Então ela pensou nos jarros. As pessoas usavam jarros para colher suas águas. Eram diversos jarros todos os dias, de diversos formatos e tamanhos. Colhiam as suas águas e levavam para servir as pessoas. Então ele viu que sua ideia era boa. Bastava encontrar um jarro que fosse conveniente ao nobre serviço que ela prestava. Passou a prestar atenção a todos os jarros que se aproximavam de si e colhiam as suas águas. Até que um dia a fonte encontrou um jarro com as características que ela esperava. Era um jarro que tinha toda uma vocação de servir as pessoas, com humildade, fé e dedicação. Então a fonte se aproximou e falou para o jarro:
- Olá, eu queria te fazer uma proposta, você podia me ouvir um pouquinho?
O jarro ficou surpreso do interesse da fonte por si. Pensava sempre que a fonte tinha a existência dela muito distante da sua própria existência. Queria somente pegar a água que ela ofertava e ir cumprir sua tarefa de ajudar as pessoas. Foi dessa forma, surpresa, que ela concordou em ouvir o que a fonte tinha a dizer.
- Eu tenho observado você por diversas ocasiões – disse a fonte. Percebo a sua vocação em bem servir as pessoas com carinho e competência. Eu quero lhe fazer uma proposta, pois um dia eu fui um jarro como você, só percebia uma pequena dimensão da vida, mas consegui me transforma em fonte. Quero lhe ensinar a ser fonte também e assim você pode ampliar a sua capacidade de servir as pessoas e eu não me sentirei tão sozinha em minha tarefa que é sintonizada com a sua.
O jarro ficou surpreso com a proposta e reagiu de forma que a fonte não esperava.
- O que??! Eu vou ter que experimentar todo tipo de água? Para mim só serve um tipo! Eu posso viver sem me contaminar com os outros tipos de água que jorram de você. Eu quero viver na pureza do tipo de água que eu retiro de você, e somente ela.
A fonte percebeu que o jarro não possuía na consciência a dimensão do serviço que poderia prestar as pessoas, e tentou explicar.
- Mas você não tem a vocação de servir as pessoas? Não gosta de fazer essa tarefa? Pois você sendo fonte vai poder ajudar muito mais gente. Tem pessoas que precisam de outras características de minhas águas. Quando você colhe de mim somente um tipo, você fica apta a ajudar apenas um grupo de pessoas. Sendo fonte você ajuda a todas. E tem mais ainda. A água que você colhe de mim fica estagnada dentro de você, não sofre renovação, a tendência é apodrecer se não for consumida logo. Sendo fonte você está sendo sempre renovada de acordo com a maestria do Criador, com as chuvas, os ventos, o solo, as rochas...
Mas o jarro se fechou em sua posição. Tinha medo de se transformar, mesmo que fosse para melhor. Tinha medo de sentir experiências novas, de receber do Criador novos dons. Respondeu que o Pai lhe tinha lhe feito jarro e assim seria até o fim. Esperou o momento certo para colher o tipo de água que queria e se distanciou no caminho da sua vida.
A fonte observava o jarro se afastar cada vez mais até se perder no horizonte. Sentiu um aperto no seu coração cristalino e suas águas passaram a ter um novo sabor até então nunca experimentado... Era o sabor das lágrimas que se misturavam com a água que o Pai lhe ofertava de todos os aquíferos.
A partir desse momento a fonte passou a apresentar a água mineral lacrimosa como mais uma variação na sua capacidade de servir; agora ela podia curar de forma milagrosa a intolerância, o medo, a solidão das pessoas... Quem sabe, se o jarro resolvesse colher algum dia esse tipo de água que agora ela sabia jorrar, não aceitasse o seu convite e acabasse assim com a sua própria solidão?
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 19/09/2013
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