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NA SELVA: UM DILEMA CRISTÃO
Eu não irei para uma selva infestada de feras. Precisaria ir armado para me defender de um muito provável ataque, mas não tenho nenhum interesse em mata-las. Se quero vê-las de mais perto, eu contrataria um guia motorizado para entrar em locais com a segurança de não ser atacado.
Mas, quando se trata da selva de pedra, onde tenho minha residência e as feras são tão inteligentes quando eu, que usam armas modernas civilizadas e crueldade animal, eu, enquanto cristão, desarmado, e preparado para dar a outra face, a dar o resto dos meus bens quando assaltado, a caminhar mais uma milha quando obrigado a caminhar uma, fico numa posição parecida com aquela dos primeiros cristãos, quando iam para o circo romano para serem queimados ou trucidados pelas feras, sem reação, cantando louvores ao Pai.
Será que eu tenho a coragem de fazer isso? A tendência é que eu me proteja dentro e fora de casa, que adquira até uma arma para me defender e defender minha família. Mas, o assaltante, assassino, também não faz parte da minha família universal? Não quero ser filho de Deus, reconhecido por querer fazer Sua vontade? Como penso em destruir meu irmão, mesmo que seja em legítima defesa?
Esta é uma situação que abre perspectiva para uma profunda reflexão. Seguindo a lógica, a coerência dos meus interesses pessoais com a Vontade de Deus, qual o caminho mais correto que eu deverei escolher? Seguir literalmente os exemplos dos primeiros cristãos e ser mais um cordeirinho pronto para ser sacrificado em nome de Deus, em nome da fé? Ou me armar e proteger a minha individualidade, a sobrevivência do meu corpo, mesmo que para isso eu tenha que matar o assassino que também quer me matar?
Na primeira hipótese, eu serei sacrificado e deixarei a minha família sem a minha ajuda, o meu apoio, a minha proteção. Se todos seguirem a minha orientação, também serão mais cordeirinhos prontos para o abate. Alimentaremos as feras sanguinárias, cruéis. Deixaremos apenas o exemplo cristão para os que ficarem. Não seria uma espécie de suicídio? As feras irão se converter com esses exemplos?
Na segunda hipótese, eu defenderia minha vida até o extremo de ter que matar o meu agressor em legítima defesa. Estaria preservando a minha vida, cuidando da vitalidade do meu corpo, da mesma forma que eu faço quando evito o uso de drogas ou qualquer excesso que prejudique minha saúde. Não estaria facilitando a morte do meu corpo, mesmo involuntariamente, e ser considerado um suicida como sabemos que acontece essa interpretação no mundo espiritual. Esse assassino que dessa forma foi eliminado por mim, não iria ameaçar mais ninguém, eu teria feito uma caridade indireta a alguém, estaria dentro dos critérios do Amor Incondicional.
Este é o clímax dessa reflexão: como devo me comportar como praticante do Amor Incondicional? Devo ter o mesmo comportamento com a fera da selva de pedra, com minha família, com os cordeirinhos, comigo mesmo?
Vou recorrer à principal lição que Jesus nos deixou e que resume toda a lei: “Amar a Deus sobre todas coisas e amar ao próximo como a si mesmo”. A primeira parte se refere ao amor divino ao qual procuro ser fiel e cada vez mais eficiente; a segunda parte se refere ao amor dentro dos relacionamentos, e antes de amar ao próximo eu tenho que amar a mim mesmo. Este é um ponto que parece levar ao egoísmo, mas a sabedoria da lição está no fato de que tenho que respeitar e amar ao meu espírito e ao corpo que o abriga nesta atual vivência. É o meu corpo instrumentalizado pelo meu espírito, que segundo o meu livre arbítrio, a minha vontade, irá tentar fazer a vontade de Deus, ser instrumento do Pai. Então, se um assassino, movido pelo egoísmo, está decidido a acabar com a minha vida corporal, eu terei que me submeter e deixar isso acontecer? Interromper minha trajetória de obedecer à vontade de Deus? Será a vontade de Deus que eu seja trucidado pelas feras para servir de exemplo cristão? Mas o Cristo falou que eu devo amar com prioridade a mim mesmo para poder amar ao próximo. Portanto, a minha dúvida deve ser dissipada pela lição que o Mestre deixou, pois Ele foi o enviado de Deus, especial, para nos deixar essas lições.
Conclusão, como cristão, devo preservar minha vida com prioridade para poder servir à vontade do Senhor, e se uma fera quiser me destruir, e se não houver outra alternativa pacífica, tenho que a destruir.  
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 15/02/2017


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr