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DILEMA
Sou pacifista por natureza, prefiro atenuar conflitos do que exacerbá-los. No atual estado de violência em que me encontro, olhando para a minha sobrevivência, legítima defesa, a ideia de adquirir uma arma para me proteger tanto dentro como fora de casa estava cada vez mais forte. No entanto, assisti um vídeo do médium Divaldo Franco sobre pessoas que atuam com amor, como Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, por exemplo, em “Os gênios do amor”, que me fez refletir mais uma vez.
Como eu quero ser uma pessoa do bem e ao mesmo tempo penso em comprar uma arma com a possibilidade de matar outra pessoa?
Este é o dilema que surge na minha consciência. Sei que tenho argumentos fortes para me armar e me defender, inclusive para proteger aquelas pessoas que estão sob minha guarda. Por outro lado sou discípulo de Jesus, aquele que jamais andava armado, que nunca disse que era necessário matar o outro para não morrer. E Ele também vivia em ambiente violento, onde a vida humana era sempre ameaçada por salteadores, por mercenários, arruaceiros, fanáticos ideológicos.
Qual seria a posição do meu Mestre vivendo sobre minhas sandálias? Eu, que não tenho comigo uma tão alta missão como o Pai determinou para Ele? Será que deverei me expor como um cordeirinho indefeso frente as presas das feras? Que tipo de lição eu passarei ao meu próximo? Serei simplesmente mais um número nas estatísticas dos serviços de segurança pública? Acredito que sim. Esta minha possível morte, sem honra, sem luta para manter a minha vida, não seria uma desonra? Eu sou mais uma das ovelhas do redil, não tenho o perfil de um grande pastor, de ser responsável pela condução de um grande número de ovelhas. O máximo que consigo fazer é tentar influenciar positivamente a quem está ao meu redor, que acredito não passar de 100 pessoas, mesmo assim me ouvem com o ar de crítica, a maioria delas, não considerando como verdadeiras as minhas palavras, imaginam que eu esteja equivocado naquilo que considero mais perfeito que é o Amor Incondicional, da forma que imagino.
Fico a pensar numa situação que poderia acontecer. Eu reunido com todos meus filhos em meu apartamento para festejar alguma ocasião. De repente vejo sair do elevador um trio de marginais, dispostos a fazerem de tudo com quem encontrarem pelo caminho. Eu estou desarmado dentro de casa e da mesma forma os meus filhos, a quem ensinei nunca andarem armados. Mesmo que eu consiga fechar a porta, eles podem derrubá-la e invadirem o meu espaço. Estaremos frente as armas apontadas para nossas cabeças. Eles nos imobilizam, retiram tudo de valor que possuímos, inclusive a nossa honra com seus instintos bestiais e para não deixar testemunhas deixam nossos corpos estirados cada um com uma bala na cabeça. No dia seguinte seremos manchete nos jornais. Entramos para as estatísticas. Onde está a honra? Em qualquer dimensão, material ou espiritual? Chegaríamos no mundo astral e prestaríamos conta ao nosso Mestre de nossas vidas... Ele não poderia perguntar?... Que fizestes servo com o dom da vida que eu lhe dei, inclusive o dom da vida que eu dei aos filhos que estavam sob tua proteção? Eu responderia acabrunhado... nos arrebataram Mestre, eu não pude me defender. Mas por que não? Perguntaria Ele, não te dei inteligência para se proteger e a quem coloquei sob à sua guarda? Sim, Mestre, responderia, mas eu procurei cumprir as leis divinas dos 10 mandamentos, “não matarás” recebida do Pai através de Moisés; também procurei cumprir a Tua lição de “amar ao próximo como a mim mesmo”. E o assassino também era o meu próximo!
Então eu veria o cenho do meu Senhor se enrugar e Ele perguntar a mim de olhar fixo: então foi assim que usastes a tua inteligência? Quando eu disse para amar ao próximo como a ti mesmo, eu coloque a ti como referência. Você não pode amar a ninguém acima de você mesmo, pois você é a referência. Da mesma forma, você não pode deixar ninguém te matar, pois você é a referência. E se para evitar que isso aconteça você tenha que matar ao próximo que te ameaça, você estará cumprindo a minha lição. Da mesma forma com relação a lei que Moisés divulgou. Você não pode sair por aí com a intenção de matar ninguém, mas se alguém vem com a intenção de te matar, então você deve mata-lo primeiro. A lógica segundo Moisés seria do olho por olho, dente por dente. Então, o teu assassino também seria morto segundo a aplicação dessa lei. Teríamos então dois mortos. Mas se tu te defendes em legítima defesa, a lei não poderia ser aplicada, por um ato de coerência. Porque se tu fosses morto, o assassino também seria pela aplicação da lei do olho-por-olho. Mas, se tu o mata antes por legítima defesa, então teríamos assim apenas um morto ao invés de dois. Consegues entender essa lógica? Está coerente com o que Moisés e eu ensinamos?
Envergonhado eu baixaria os olhos, não poderia contestar tanta coerência do Mestre, nas lições que tanto estudei e tão mal interpretei. Eu não sou o Gandhi ou o próprio Jesus para ser o símbolo de uma tomada de consciência. Se eu morrer em função disso serei apenas um número nas estatísticas, como sei que tantos já morreram dessa forma. Admiro as lições e os exemplos de Jesus, de Gandhi e de tantos outros símbolos da paz e da não-violência, do desarmamento, das leis humanas que equivocadamente são aplicadas a seres animalizados...
Sim, Mestre, eu serei uma ovelhinha, porém armada, pronta para defender a vida corporal que me destes e daqueles a quem colocastes sob a minha proteção.
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 17/03/2017


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr