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PORQUE SOU CRISTÃO
Lendo um artigo do articulador e escritor Richard Foxe, publicado no Recanto das Letras, quanto ao motivo dele ter se afastado da religião e ter ojeriza pelo cristianismo, fiquei motivado em seguir os seus pensamentos e procurar ver em quais pontos eles discordam dos meus. Mesmo porque ele faz uma provocação, dizendo que não pretende que quem acredita na Tradição cristã, como eu, compartilhe o seu pensamento, e que gostaria que os leitores entendessem o seu ponto de vista e que não é o de um ateu.
Não irei abordar todo o texto neste trabalho, pois terminaria sendo mais longo do que o que ele escreveu. Irei abordar por partes, e logo na primeira, ele confessa ter sido católico boa parte de sua vida; até os 22 anos era um “fervente cristão e um catequista esforçado”.
Também fui educado dentro da doutrina cristã, apesar de morar com minha avó em ambiente totalmente promíscuo, cheio de bebidas alcoólicas e muito sexo: um cabaré, na conceituação dura e clara. Mas minha avó, proprietária desse ambiente, tinha um cuidado intuitivo com minha educação, e agia com mão de ferro nesse controle. Colocou-me numa escola católica, sob a orientação de um padre e me inscreveu para ser escoteiro, ajudante das missas e procissões. Nas horas vagas eu ajudava nas suas atividades, mas sem me envolver com as bebidas ou com o sexo. Cheguei aos dezoito anos sem compreender bem como funcionava o mundo externo, nem mesmo o mundo interno, como por exemplo, a sexualidade. A escola não ensinava; em casa era praticado como agente profissional, mas para mim era tabu; também não tinha oportunidade de sair para os amigos me iniciarem nessas questões...
Aos 18 anos fui inscrito no serviço militar obrigatório, era um rapaz cheio de inibições num mundo muito competitivo: marinheiro da Marinha do Brasil. Sentindo-me desamparado, procurei dessa vez me agarrar na força divina que tão displicentemente eu seguia na adolescência. Entrei na igreja evangélica, pois ali parecia que eu tinha mais apoio dos “irmãos”. No entanto, por meus estudos entrarem em conflitos com a fé que era exigida, eu deixei essa igreja e fiquei um tempo à deriva, mais próximo do ateísmo do que nunca. Mais os meus estudos sempre apontavam na minha consciência que algo além da matéria devia existir e que “isso” era mais importante.
Foram os livros de um autor espiritual chamado Ramatis que fez eu me aproximar da Doutrina Espírita e comecei a perceber a lógica que existia dentro dos seus ensinamentos, inclusive associados à ciência, a qual tinha prioridade frente aos argumentos da fé: se entrassem em contradição, quem deveria prevalecer seria a ciência.
Foi dentro dessa doutrina que aprendi que o modelo comportamental para o ser humano frente a ética, a moral e a justiça divina, seria o modelo de Jesus. A minha consciência aprovou essa interpretação, eu não conseguia ver na história, transcendental ou material, outra personalidade mais importante, mesmo que seja pintado de diversas cores, em função de diversos interesses. Prevalecia o meu interesse de busca da Verdade, e enquanto não surgisse na minha consciência outra personalidade mais importante, seria Jesus o meu modelo e por isso me considero cristão até hoje.
Sei que o argumento do escritor Richard é muito forte e observável, a religião das pessoas geralmente é determinada pela região onde ela nasce; se é budista, islâmica, judaica, cristã, etc. Porém me coloco racionalmente dentro de cada região dessas e tento verificar se a minha consciência aponta o comportamento e doutrina desses avatares como superiores ao do Cristo, e não encontro nenhum deles nessas condições. Sei que a minha forma de pensar durante os 65 anos que tenho de vida, podem determinar um viés muito forte em favor do cristianismo. Mas por enquanto a minha consciência está satisfeita com o meu modo de pensar. Isso não quer dizer que eu condene o Richard ou qualquer pessoa que pense como ele ou diferente de nós. Simplesmente são caminhos que cada pessoa escolhe de acordo com suas tendências e oportunidades. O que nos aproxima apesar de estarmos em trilhas diferentes, é a consciência do sagrado, de algo transcendental que dá um maior sentido às nossas vidas.
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 11/03/2018


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr