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SOLIDÃO
Lembro de um livro sempre presente na minha mente, “O Pequeno Príncipe”, que li na adolescência mas que a imagem daquele Pequeno Príncipe, sozinho num planeta, a conversar com animais e plantas, parece ser a minha própria imagem, vivendo neste planeta, conversando com tantas pessoas, mas todas tão distantes do meu coração, da minha forma de sentir, de amar. Por esse motivo sou expulso da convivência íntima com essas pessoas, sou agredido com palavras e até com tapas e arranhões...
Ninguém consegue sintonizar o meu coração, a forma de amar com exclusividade é incompatível com a minha forma de amar com inclusividade, de um amor incondicional que está muito acima de um amor romântico.
Não tenho alguém que me olhe nos olhos quando eu falo de amor, e sinta o mesmo tipo de amor que sinto pelas criaturas, mesmo que sejam pessoas difíceis, maledicentes, hipócritas; alguém que ouça as minhas tristezas e alegrias com paciência e compreensão, mesmo que isso implique ela saber da doação do meu amor à outras criaturas que como ela também sente o coração palpitar de paixão. E mesmo que não compreenda, que respeite os meus sentimentos, como eu respeito os dela, e não sofra tanto por causa disso.
Preciso de alguém que venha lutar ao meu lado sem precisar ser convocado, que não queira como pagamento a exclusividade do meu amor, que me ame sem condições, assim como é amada por mim, mesmo que me agrida, na presença ou na ausência.
Preciso de alguém que acredite nessa coisa misteriosa, que se confunde com Deus e com o mal, que é o Amor Incondicional; de alguém que aceite minha mão estendida, quer seja para doar ou para receber, sem intenções de abuso; preciso de alguém que seja companheiro, nas guerras e alegrias, nos confrontos e sintonias, e que no meio da tempestade grite em coro comigo.
Preciso de alguém que torne minha vida mais simples, mais bela, para saber que não estou sozinho, carregando uma caixa preta, escondida, sem poder compartilhar com ninguém; não posso ser inteiramente feliz se não contar pelo menos com um amigo fiel, que não se escandalize com minha forma de amar, pois é da minha forma de amar que surge a essência da minha vida.
De que vale ter tanto sucesso, conquistar tantas batalhas, se não tenho com quem confraternizar? Meu riso se perde no tempo, minhas lágrimas caem no vazio; não tenho ao lado um coração que se compadeça, e que perdoa as coisas mais amargas da vida, as tentações mais poderosas.
Ah, como eu queria deixar o templo da solidão e voar integrado, como a um bando de pássaros, pelas energias do Universo!
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 22/04/2018


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr