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AMOR... FILHO BASTARDO
Como acreditar num sentimento que anula o que sentimos em favor de quem se ama? Como deixar de lado os meus interesses para priorizar os interesses de quem amo? Um sentimento como esse não pode ser benéfico para quem o possui, acreditava eu, fortemente nisso. Por isso evitava o amor, esse sentimento tão elogiado, e para mim tão... pernicioso!
Mas, eu não sabia que jamais conseguiria evitar o amor, pois minha constituição biológica e psicológica estava pronta para germiná-lo e espalha-lo por onde eu andasse, com quem meu coração sintonizasse, independente das minhas razões.
Foi assim que eu te vi, amada, e sem querer me apaixonei. Não consegui evitar, muito menos procurar raciocinar; quando dei por mim o fogo da paixão já me consumia. A minha mente não cansava de construir pensamentos de fulgor romântico, já que era proibido eu me aproximar afetivamente de pessoa tão distante socialmente de mim.
Agora, não penso mais em mim, e somente nela... os meus sonhos não viajam mais pelo infinito perscrutando a beleza das galáxias, mas ao redor da silhueta do seu corpo e na adrenalina das suas curvas; meu olfato não procura mais captar o perfume melífluo das flores, e sim o aroma inebriante da sua presença; meu coração bate mais rápido na sua presença como se quisesse raptá-la como houvera já acontecido com as sabinas, e quase fica parado no vácuo de sua ausência.
Quando a noite chega eu procuro confundi-la com meu travesseiro, e se a luz do sol me acorda, evito abrir os olhos e acabar com a minha ilusão.
Assim vivo eu, mergulhado num amor que se diverte comigo, se travestindo em paixão. Minha alma se tornou prisioneira dessa cadeia de sentimentos; não sei se prevalece o prazer de imaginá-la em meus braços ou o sofrimento de vê-la abraçada com outro, esquecida da minha existência. O amor diz para eu sentir o prazer dela ser feliz onde está, a paixão diz que eu sou torturado por ela jamais poder ficar comigo... cada pensamento que constata essa realidade é um açoite no coração.
O tempo passa, pinta de neve os meus cabelos que ainda restam, e a fome de amar quem tanto amo rivaliza com a sede de beijar o oásis desses lábios que de tão longe se tornaram uma miragem sempre perto...
Vai, meu sentimento de amor, filho bastardo do meu coração... vai, para nunca mais voltar... vai, antes que eu perceba que tu indo vão contigo os meus sonhos, felicidade, ventura... vai, enfim, a minha vida!
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 15/12/2018


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr