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TROTSKY (01) - INTRODUÇÃO
               Para procurar entender o eterno dilema humano da busca pela justiça e a sempre queda na injustiça, no autoritarismo, no assassinato, corrupção, crimes de todos os tipos, irei avaliar a Revolução Russa que jogou no mundo a perspectiva real da prática do comunismo. Iremos fazer essa reflexão, eu e meus leitores, do ponto de vista de Trotsky, um dos líderes mais emblemáticos da Revolução, sob a ótica dramática e romanceada da série produzida pela Netflix, intitulada “Trotsky”. Iremos fazer reflexões a cada momento do comportamento humano, tanto na mente individual de pessoas da elite, quanto no pensamento coletivo das massas sacrificadas, espoliadas, escravizadas...
               Começa o primeiro capítulo da série com Trotsky dentro de um trem onde ele viaja com a poetisa Larissa, e ela recita uma poesia.
               Está por toda parte, no fogo, na escuridão, tão próxima e inesperada, no cavalo de um hussardo húngaro ou na arma de um atirador tirolês. De Nikolay.  (Larisa Reisner, revolucionária, poetisa, jornalista - 1895-1926)
               - L. Sabe sobre o que é?
               - T. Não faço ideia.
               - L. É sobre a morte. Dizem que Deus dá a cada homem uma vida tão longa quanto a linha que seria necessária para envolver seu coração.
               - T. Ouvi dizer que Deus não existe.
               - L. Eu disse que você era ganancioso.
               -T. Larisa, não estou interessado na sua poesia. Kappel tomou Simbirsk e tomará Kazan em breve. Ele está acabando com nossas tropas.
               -L. Já matou alguém com isto? (mostra um revólver)
               -T. Eu já disse milhares de vezes que minha luta é diferente.
               -L. Sim, você é o manifesto em pessoa. Suas roupas, seus gestos... seu jeito de falar. E até seus olhos ficam lindos no seu rosto bronzeado. Mas isso não é um comício. É guerra.
               -T. E daí?
               -L. Sob ataque as pessoas não pensam em manifestos. Você apela para a mente, mas instintos são mais fortes. O que pode ser mais forte e assustador que a sensação de morte iminente? (enquanto fala, Larisa tira a roupa, fica despida. Ele segue o exemplo, também tira a roupa e partem para o sexo)
               Onde a escuridão de um poder incontrolável está fervendo, grunhindo, e gritando, a escuridão de um poder desenfreado, a asa do Arcanjo paira sobre ela. Vários caminhos levam à Roma, que está em ruínas. Mas se Roma cair, e uivar com um grito da multidão, o Anjo será benevolente. O demônio não terá misericórdia. (enquanto a poesia é recitada, eles fazem sexo ao som ritmado da marcha do trem)
               Essa primeira parte coloca um confronto interessante entre o ideal e o instintivo. A poetisa faz crítica ao excessivo idealismo de Trotsky, que as pessoas em momentos críticos se deixam levar mais pelos instintos que pelos ideais. E faz provar sua tese, tira sua roupa de forma sensual, fazendo com que Trotsky deixe por momentos o seu ideal e se envolva com ela no ato sexual... instinto vencendo o ideal. Trotsky, aparentemente, nem se apercebeu disso.
               Dentro da poesia também percebemos um dado interessante: “Deus dá a cada homem uma vida tão longa quanto a linha que seria necessária para envolver o seu coração”. Isso quer dizer que, durante a vida, vamos envolvendo nosso coração com os pensamentos, ideológicos ou de sobrevivência, e que isso nos deixa cada vez mais envolvidos naquilo que pensamos e fazemos até o estágio de estarmos totalmente enovelados e esperando a morte, sem condições de desenovelar o coração de algum erro cometido, se for o caso.
 
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 21/12/2018


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr