Textos

TROTSKY (02) – NO MÉXICO
               A cena avança no tempo e vamos encontrar Trotsky refugiado no México, em plena festa do Dia dos Mortos, meio desorientado, chegou a cair na rua. Sua esposa vai em seu socorro.
               México, maio de 1940.
               - Leon, estou aqui... esqueceu de tomar os seus remédios?
               - Está tudo bem, vamos. O calor é sufocante! Não consigo me acostumar. Boa tarde, Sylvia.
               - Oi, Leon.
               - É uma tradição muito estranha.
               - S. É uma tradição mexicana antiga. Eles acreditam que é uma homenagem aos mortos. - Frank! (acena para um jovem que acaba de chegar, mascarado, com uma máscara da festividade da festa dos mortos). - Meu noivo, Frank Jacson. (jornalista canadense, 1913-1978) - Falei sobre ele.
               - T. Sim. Um jovem bastante insistente.
               - F. Senhoras.
               - T. Jacson, o que não entendeu da nossa conversa ao telefone? (Trotsky fala de cabeça baixa enquanto Jacson estende a mão, que não é correspondida). - Eu deixei bem claro: sem entrevistas.
               - F. Sua resposta foi bem clara, mas posso fazê-lo mudar de ideia.
               - T. Nem minha mulher consegue fazer isso.
               - F. Gostaria de agradecê-lo, Sr. Trotsky. Seu livro salvou minha vida na Espanha. Como pode ver, essa lasca era para mim. (mostra um livro que tem na capa incrustada uma lasca de ferro).
               - T. Por que trouxe esse livro? Você é stalinista. Pensou que eu não faria o meu dever de casa?
               - F. Eu respeito Stalin por ser um grande estadista, mas não significa...
               - T. Stalin é medíocre. Um grande zero à esquerda.
               - F. Eu não só respeito Stalin. Eu o acho incrível. Ele é um grande homem, um visionário. E o seu artigo patético suja o bom nome dele. Ele é chamado de sanguinário por lutar contra inimigos da revolução, enquanto você enviou milhões para a morte, não seus opositores ideológicos, mas pessoas leigas na política.
               - T. Eu condenei muitos à morte: inimigos ou meus soldados. Mas um detalhe me diferencia de Koba (nome íntimo para Stalin).
               - F. É mesmo? Qual?
               - T. Ele não se importa com o ideal. Ele alimenta suas fraquezas se escondendo atrás da ideologia. Paranoia, ambição, ganância. No poder ele continuou sendo ele mesmo, enquanto eu precisei mudar. Para desaparecer... intencionalmente. Eu fiz isso. Pelo bem do ideal maior.
               Com este diálogo observamos numa espécie de “avant-premièr” o que sucederia com os revolucionários russos, que tanto bem queriam trazer à humanidade e que tantos assassinatos produziram... seriam necessários? A procura desta resposta é o que vai nortear essa série de textos sobre Trotsky.
 
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 23/12/2018


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr