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TRÓTSKY (08) – ATRAÇÃO AFETIVA
            Série Netflix.
            A cena se desloca pela cidade, onde Alexander conduz Trótsky até a sua casa.
            - A. Pode entrar, meu amigo. Essa casa é minha. Eu hospedo seus colegas socialistas aqui. Por favor. Não é o Hotel Metropol, muito menos o Hilton, mas é uma casa, um lugar pra morar.
            - Uma dama desce a escada e chama. – Alexander. Que bom que encontrei você. Gostaria de pagar pelo próximo mês.
            - A. Natália, já disse várias vezes, não quero o seu dinheiro. Não.
            - N. E eu já disse que você pode hospedar esses socialistas de graça. Não serei uma aproveitadora. Aceite ou irei embora.
            - A. Como quiser. Conheça seu novo vizinho, Leon Trótski.
            - T. Olá.
            Estende a mão para aperto, que ela não aceita.
            - N. Ouvi um dos seus discursos.
            - T. Gostou?
            - N. Não. É um prazer conhece-lo.
            Natália se afasta descendo as escadas, enquanto um olha para o outro de soslaio.
            - A. Eu adoraria lhe dar esperanças, mas ela é teimosa. Entre por favor. Pode deixar a porta trancada. Não tem vazamento no teto. O que achou? Está bom pra você?
            - T. Muito bom. Pelo menos não é um porão.
            - A. Isso mesmo. Não é.
            - T. Qual era o nome daquela mulher?
            - A. Você não será o primeiro, nem será o último. Natália Sedova. Ela é de um círculo completamente diferente. Boêmios. Teatro, exposições... outra vida. Ideais diferentes.
            - T. Entendi.
            - A. Boa sorte.
            Por trás das ações ideológicas, sejam em quais sentidos forem, sempre existirá o instinto animal que possuímos se manifestando. Quando o instinto é aquele capaz de reproduzir a espécie (sexo) é tão forte quanto aquele de preservar a própria vida (alimentação). Trótski se depara com o apelo sexual, os princípios ideológicos, assim como os compromissos sociais com a esposa e filhos, ficam obnubilados por algum instante, mas com consequências para a vida toda. Como condenar ou perdoar algo que está dentro de todos nós? Quando dentro de ações proibidas pela cultura existe o toque do amor? Quando não existe a intenção de prejudicar o outro que está distante, mas aglutinar com o próximo correntes afetivas que se ampliam em direção a família universal? Parece ser essa a saída, para usar os nossos instintos animais na construção daquilo que Jesus ensinava, construir a família universal, para se conquistar o Reino de Deus. Talvez essas ações sejam de mais difícil realização do que construir uma sociedade humana justa e fraterna, com base na família nuclear. Construir a família universal vencendo o ciúme, talvez seja mais difícil que construir uma sociedade justa vencendo a corrupção.
 
Sióstio de Lapa
Enviado por Sióstio de Lapa em 04/01/2019


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr