Meu Diário
31/03/2013 00h01
RODRIGUES

                Este é o nome da minha família biológica. É como se fosse a marca da carne, assim como tem o gado que é marcado com um ferrão para dizer a quem pertence, o sobrenome indica na comunidade a quem pertencemos e de quem recebemos e receberemos herança. Recebemos herança genética, das taras e tendências da carne; receberemos a herança da educação, dos bens materiais que foram amealhados ao longo do tempo.

                Recebi como herança genética do meu pai o forte impulso para a prática sexual. Meu pai teve a sua vida toda voltada para esse instinto, vivia em casas de prostituição e na própria casa onde morava procurava em todas as ocasiões como atender os seus desejos eróticos. Minha mãe, apesar de não ser tão exagerada nesses instintos, também não era nenhuma santa e exercia sua sexualidade sem bloqueios e com certa liberdade. Então, essa força biológica dentro de mim teria que ser trabalhada para servir à vontade de Deus, e não aos meus desejos carnais.

                Também fui colocado dentro de um ambiente propício à pratica sexual. Minha avó materna que passou a me criar devido as dificuldades financeiras de minha mãe, era dona de um cabaré. Foi nesse ambiente que desenvolvi minha infância e adolescência. Bem que minha avó tentava com mão de ferro me proteger da influência do sexo e das drogas. Agradeço a ela todo o vigor de sua educação, até com cordas, dando surras sobre minhas costas, como forma de disciplinar a força dos hormônios sobre meu comportamento. Teve como efeito colateral uma forte timidez, mas por outro lado contribuiu para meu mergulho no mundo dos livros.

                Então vejo hoje que tudo teve uma predisposição, que existiram pessoas como minha avó no plano material e meu anjo da Guarda no plano espiritual, que me protegeram até que eu tivesse a consciência amadurecida que tenho hoje e que possa usar o livre arbítrio e decidir realizar a vontade de Deus reconhecida como tal em minha consciência. E vejo toda a retrospectiva em torno do meu nome.

                Durante a infância o nome ainda não está devidamente impregnado na nossa personalidade. Existem os apelidos familiares que desviam muita vez do foco, como “Titico”, “Francisquinho”, “Chiquinho”, no meu caso. Eram usados, pela família e amigos mais próximos. Durante o serviço militar passei a ser identificado pela partícula mais máscula, Rodrigues, e a partir daí assumi como a minha identidade mais real, o que contentava o meu orgulho. Passei a ser o marinheiro Rodrigues e mais tarde, depois de concluído o curso médico, passei a ser o Dr. Rodrigues, devidamente caracterizado pelos cursos extras de Mestrado e de Doutorado que fiz na Academia. Não considerava tanto o Francisco das Chagas.

                Mas existia dentro de mim, e existe cada vez mais forte, um apelo para o conhecimento do mundo espiritual. Foi então que despertei para a importância espiritual do meu nome e da sua ascendência sobre o sobrenome, a caracterização do mundo material.

                Hoje estou determinado a usar o primeiro nome como o principal: Francisco. Reconheço as ações de Deus na minha vida, desde a mais tenra infância, até o momento de testemunhar a sua Lei principal, a Lei do Amor Incondicional. Sei que Ele coloca ao meu lado as diversas pessoas capacitadas a me instruírem e colaborarem comigo, principalmente as minhas companheiras, que já chegam com essa motivação. Podem sofrer pela dificuldade de entender e de praticar o que é necessário, de ter a capacidade de abnegação, de servir ao próximo em detrimento de si mesmo, de não ter ciúmes, de não ter exclusividade na sua forma de amar. Mas sabem, no íntimo de suas almas, que estou correto e que tenho que fazer o que faço.


Publicado por Sióstio de Lapa em 31/03/2013 às 00h01
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