Meu Diário
26/12/2013 01h01
A QUESTÃO DOS FILHOS

            Dentro das reflexões dos relacionamentos entre homens e mulheres que melhor contribuam para a formação de uma sociedade fraterna, próxima do Reino de Deus ensinado por Jesus, se encontra a questão dos filhos. Aparentemente eles são os mais prejudicados quando os seus pais biológicos se envolvem afetivamente com novos parceiros e com eles constroem ramos familiares. Para eles é mais confortável que seus pais fiquem junto de si durante toda a sua fase de desenvolvimento, maturação, independência, até que um dia os deixam e vão construir suas próprias famílias como está previsto na Bíblia. Observando à distância esse ciclo que se repete, parece que os pais são formados apenas para impulsionar os seus filhos dentro de uma base familiar exclusiva, egoísta, que não considera com justiça os direitos dos outros que pertencem a outras famílias. Daí tanta miséria social. Os pais, desde que tenham filhos, perdem o direito à sua individualidade quanto o pensamento do que podem realizar para atender com prioridade as suas intenções, caso essas não estejam relacionadas com o bem estar dos filhos.

            A formação de uma família ampliada implica num afastamento do pai por algum tempo da economia do lar, tanto afetiva quanto financeira. Claro que isso irá fazer falta ao filho, mas deve ser considerado os propósitos que existem por trás dessa falta. Por acaso esse pai também não fica ausente quando está trabalhando por turno, por dia, semanas e até meses fora de casa? Tudo isso não é justificado pelo papel de provedor que no momento ele realiza? Um papel que tem como objeto a manutenção e vida com dignidade do corpo físico? Por que então se o pai se afasta com o objetivo de cumprir um apelo consciencial com uma nova parceira, sem que isso acarrete ameaça ao provimento dos recursos materiais, seja tão proibido? Acredito que aconteça tão forte proibição devido o grau de extrema ignorância em que ainda estamos mergulhados.

            Existe também uma crítica muito forte, de que eu tenho responsabilidade de educar e criar com toda minha competência os filhos que Deus deixou sob minha guarda. Não posso deixá-los desamparados em busca de meus prazeres imediatos. Primeiro, não estou em busca de prazeres imediatos, dos prazeres sexuais, pois se assim fosse eu teria recursos bem mais fáceis de os conseguir através da prostituição. Segundo, o meu filho pode decidir, antes de descer para sua reencarnação, se deseja ficar sob os cuidados de um pai com o meu perfil. Acredito que muitos aceitarão, pois eu mesmo aceitei, acredito, vir a terra sob a guarda de um pai que nunca deu a devida atenção para mim, de afetos, de cuidados ou recursos financeiros. E mesmo hoje com toda essa compreensão do passado, não tenho nenhuma queixa dele, sinal de que algum compromisso assumi nesse sentido e que por isso não desenvolvi em nenhum momento de minha vida qualquer tipo de ressentimento. Portanto, tenho minha consciência tranqüila com relação aos filhos, e mais ainda, porque sei que agindo dessa forma estou cumprindo a vontade de Deus e que mais adiante ele terá um nível de relacionamento muito mais amplo e afetivo dentro da comunidade e que esse será o meu grande legado.

            A formação da família ampliada que cria as condições de uma família universal e por conseguinte o estabelecimento do Reino de Deus entre nós, pode num primeiro momento levar a essa lacuna da falta de afeto e de cuidados que a presença constante proporciona. Mas por outro lado, abre espaço para que entre no âmbito familiar novos parceiros que podem cumprir com satisfação e sem o sentimento de ser escravo de ninguém e de nenhuma lei e assim seja preenchida essa lacuna com maior riqueza de afetividade. A minha nova parceira será uma segunda mãe para meus filhos; os filhos que ela possa ter serão considerados meus novos filhos; os nossos filhos, os meus e os dela, serão considerados com mais propriedade como irmãos; a possibilidade de a qualquer momento entrar nessa família um(a) novo(a) parceiro(a) deixa o sentimento de fraternidade para com o outro muito mais forte. O sentimento de justiça se faz exercer com muito mais propriedade, consciência e satisfação no seio da sociedade. As famílias nucleares cada vez mais se diluirão umas nas outras e isso está conforme a família universal. Está conforme o Reino de Deus!  


Publicado por Sióstio de Lapa em 26/12/2013 às 01h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr