Meu Diário
08/03/2014 00h01
A QUARESMA

            A partir do dia 5 deste mês foi iniciado um novo tempo litúrgico, a Quaresma. Após a folia mundana do Carnaval surge o tempo de nos recuperarmos dos excessos cometidos. Não fiquei dentro de nenhuma folia carnavalesca nesse período, pelo contrário, procurei desenvolver ações que acredito ser da vontade de Deus. No entanto, esse clima da Quaresma é propício para um aprofundamento da espiritualidade, de interiorizarmos o sentimento da divindade. É o momento de eu ficar mais atento a uma atitude de conversão dos interesses egoísticos, materiais, aos interesses de Deus e dos meus irmãos.

            É um momento importante para que eu faça uma reflexão profunda e sustentada durante esses 40 dias de introspecção. Avaliar a minha caminhada enquanto discípulo de Jesus, que pretende aplicar suas lições com todos os recursos que possuo.

            Como pretendo acolher o Reino de Deus como uma verdade a se realizar, devo cumprir sem alardes a vontade do Pai em qualquer ocasião que eu sinta a necessidade, sem alardes ou ostentações de qualquer tipo. Devo observar os três principais atos de piedade: a esmola, a oração e o jejum.

            Desses três atos a esmola é a que ofereço maior resistência. Não é que minha essência egoísta impeça essa caridade, mas é a minha avaliação racional que impede. Fico logo a imaginar que a criança que estende a mão pode ter por trás um adulto inescrupuloso que explora a sua inocência e fragilidade; que o adolescente estar juntando as pratinhas para ir à boca de fumo; que o adulto ou idoso que apresenta uma ferida aberta, um membro decepado ou qualquer deficiência física, pode já ser um aposentado e que sua ação de arrecadar dinheiro da caridade pública pode lhe render muito mais do que um dia de trabalho assalariado.

            O segundo ato de caridade, a oração, eu tenho tido um bom desempenho, apesar de em muitos momentos eu ficar travado ou envergonhado de falar com o Criador. Mas já estou consolidando um hábito de fazer a oração rigorosamente a meia noite, antes de dormir, e pela manhã logo ao acordar. Tenho treinado bastante na oração, a conversa com Deus, o momento que eu falo para Ele, e também a meditação, um momento dentro da oração onde fico calado e deixo surgir na minha mente o que o Pai deseja falar comigo.

            O terceiro e último ato é o jejum. Desse três é o mais aplicável para mim. Consigo ficar três dias sem nenhuma alimentação e com capacidade de aumentar ainda esse período. É o momento de corrigir o excesso de peso que me ameaça a obesidade, tenho também que o jejum não pode ser só de alimento, mas de toda ação que não seja agradável aos olhos de Deus.

            O sentido do jejum é acima de tudo uma renúncia aos velhos conceitos, às velhas estruturas sociais, as velhas mentalidades de vida que impedem a libertação daquilo que não nos faz ver Deus.

            O Reino de Deus que devemos construir, não pode ser recebido como uma simples reforma, mas requer uma mudança e uma renovação radical, requer a conversão. A verdade é eterna, dinâmica, reveladora, jamais se esgota nas estruturas. A formação de uma família ampliada, com a perspectiva da família universal, é a conversão que precisamos fazer no tecido social para romper com as velhas estruturas que se tornaram ninhos de egoísmo, intolerância e prepotência.   

            Vou procurar cumprir nesses 40 dias, todos os três atos de caridade, mas sei que terei mais eficiência com a oração e o jejum. Mesmo não sendo tão radical com o jejum como das vezes anteriores, mas procurarei ser persistente até o último dia.


Publicado por Sióstio de Lapa em 08/03/2014 às 00h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr