Meu Diário
11/06/2014 00h01
A VITÓRIA DO GLADIADOR

            No dia 01-06-14 coloquei neste diário uma visão pessimista de minha atuação como Gladiador de Deus na arena do Centro Espírita Cruzada dos Militares. Após ter sido lido uma passagem do Evangelho segundo o espiritismo onde fala sobre as características do Homem de Bem, um dos participantes da reunião tomou a palavra e falou sobre a sua vida. Era um relato inverso aquele que acabamos de ler, recheado de maldades, assaltos, roubos, ameaça, agressividade, prazeres da carne, drogas... eu ouvia aquele relato e a face de atenção que cada um dos presentes colocava naquelas palavras. Fiz a comparação automática da face indiferente que eles apresentavam na leitura do Homem de Bem. Na discussão da leitura e do relato, continuei a observar que não era destacado as características do Bem e sim as aventuras do Mal. Para piorar, a pessoa que descreveu o “Homem do Mal” não tinha nenhuma disposição de mudar o seu comportamento, de reconhecer que aquilo que ele fez de errado não era para acontecer. Mesmo todos percebendo a discrepância entre o Bem e o Mal, mesmo assim o clima de atenção permaneceu favorável a ele, o representante do mal. Entendi assim que nesse “duelo cognitivo” entre o Bem e o Mal, foi o mal que mais influenciou a plateia.

            Por isso eu cheguei em casa com a sensação de derrota, de ter comigo uma série de argumentos para realçar a força do Bem e não conseguir meu intento. Parece que eu estava derrotado, como na arena romana dos gladiadores, meu adversário forçava com o seu pé a minha cabeça acabrunhada na areia e esperava o sinal do imperador para acabar com a minha vida. Meu coração estava pesado, eu me sentia incompetente frente ao Pai, pois Ele é quem torcia por mim e deve ter ficado decepcionado. Tratei mal algumas pessoas do meu convívio, sumiu a alegria, fiquei ensimesmado. Felizmente meu coração sintonizado com o Amor Incondicional se voltou para mim mesmo e me deu o perdão, apesar da fraqueza, da incompetência frente ao Pai.

            Na semana seguinte, no mesmo local da reunião, o pretenso vitorioso veio me dar com suas palavras uma resposta do Pai. Ele disse que logo que saiu da reunião percebeu um rapaz que parou a moto para conversar no celular. Disse que logo veio na sua mente o desejo de tomar aquele celular, pois tudo estava muito fácil. Mas ele conseguiu resistir a esse desejo e seguir o seu caminho. Disse também que em casa, seus pais que sempre se preocupam com os furtos domésticos que ele pratica, eles colocaram 40,00 reais sobre a mesa sem nenhuma vigilância. Ele disse que acha que foi um teste que seus pais fizeram para testar sua honestidade e que ele também conseguiu passar. Não mexeu no dinheiro e seus pais o encontraram no mesmo lugar.

            Foi aí que algumas das pessoas que acompanharam o duelo na semana passada fizeram a observação da conquista que ele teve sobre suas más inclinações, que ele deveria perseverar nesse caminho. Vi que o elogio fazia bem à sua alma e que aquilo que aconteceu serviu de estímulo para ele reformar seus caminhos.

            Fui então forçado a fazer novas reflexões. Nem sempre quando nos sentimos derrotados, quando estamos com a cara no chão subjugados pelo adversário, nem sempre estamos derrotados em nossos propósitos. O meu propósito naquela reunião não era o de reforçar o ego de ninguém, como parece ser isso que eu procurava. O meu propósito era de divulgar as lições do Mestre Jesus, de explicar como funciona a Lei do amor e tirar algumas dúvidas nesse sentido. Se alguém surge e fala de suas experiências com toda a pujança, que é capaz de colocar minhas explicações em segundo plano, que sai com o seu ego exaltado em função do meu que ficou acabrunhado, isso não significa derrota para mim. O risco maior de ser derrotado, aconteceu quando eu absorvi esses sentimentos de fraqueza, de derrota e de incompetência e deixei a raiva dominar por instantes os meus sentimentos e comportamento.

            Agora vejo com essas novas reflexões a profundidade da lição que o Pai me deu. Eu estou no papel do semeador que joga as sementes do Amor através das palavras em todos os corações. Não importa que vá encontrar corações empedrecidos, áridos, espinhosos, pois mesmo nas condições mais adversas pode haver algum tipo de germinação. Se com isso eu vá ter que sofrer topadas, espetadas ou todo tipo de sofrimento, faz parte da tarefa que me foi dada.

            Naquela noite eu cumprira a minha tarefa, semeei as palavras do Evangelho e mostrei como funcionava. Cumpri o meu dever! Que importa se alguém surge e coloca com mais brilho outras sementes, outras informações? Acredito que no coração da plateia que foram semeados com essas palavras a escolha pelo bem deva ser o natural. Também nós que falamos fomos semeados um com a palavra do outro. Da minha parte a semeadura do mal que ele fez em meu coração não teve nenhuma repercussão, logo o fogo do Amor Incondicional a destruiu por completo. Porém, a semeadura do bem que eu fiz em seu coração teve um resultado extraordinário. Ele deixou germinar e conter suas más inclinações em pelo menos dois momentos de sua vida. Como manter agora essa plantinha crescendo em seu coração, para que a aridez do terreno não a destrua.

            Talvez seja essa a lição extra que o Pai que me ensinar. Eu devo semear em todos os corações as sementes do amor, independente das frustrações, do sofrimento que o trabalho me cause, e mais ainda, devo ter a preocupação com o terreno que deixa de germinar de alguma forma o bem, com todas a dificuldades. Eu enquanto semeador devo procurar trabalhar esse terreno do coração, retirar pedras e espinhos, adubar com o tipo de fermento necessário ao crescimento e desenvolvimento do Amor.

Não basta apenas jogar sementes!


Publicado por Sióstio de Lapa em 11/06/2014 às 00h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr