Meu Diário
28/12/2014 00h59
DESCOBRIU OU ENCONTROU?

            Guershom Wald riu e disse:

            “Em gerações passadas havia avrachim que perguntavam ao noivo no dia seguinte à noite nupcial: descobriu ou encontrou? Se respondia descobriu, eles compartilhavam sua tristeza, e se respondia encontrou, alegravam-se com ele.”

            Shmuel perguntou:

            “Ou seja?...”

            “A palavra descobriu sinaliza um versículo que diz “e descobri que a mulher é mais amarga do que a morte” e encontrou remete ao versículo “encontrar uma mulher é encontrar a felicidade”. E você? Descobriu ou encontrou?

            Shmuel disse:

            “Eu ainda estou procurando.”

            Este trecho do livro de Amóz Oz (Judas) me fez refletir sobre meus relacionamentos íntimos com as mulheres. Não consegui sintonizar esse pensamento “tudo ou nada” expresso pelo autor nestes meus relacionamentos com as mulheres. Com todas que eu me relacionei nunca tive essa expectativa de encontrar a amargura da morte ou a felicidade em uma mulher. A minha expectativa é de encontrar em alguma mulher a capacidade de um companheirismo sem qualquer vestígio de egoísmo, de querer o meu afeto íntimo somente para ela, de hostilizar todas as outras que se aproximarem de mim com esse potencial.   

            Dizem que não conseguirei encontrar essa mulher, que todas tem o mesmo pensamento de manter o homem com exclusividade para si. Mas acredito que esse comportamento de querer o companheiro com exclusividade está presente tanto no homem quanto na mulher. Eu também sentia assim, mas quando percebi que o Amor Incondicional era incompatível com essa forma de sentir, consegui com muito esforço me libertar desse egoísmo inerente à condição animal, conhecido como machismo dentro da condição humana. Sei também que não sou o único homem que atingiu essa condição e que também não depende do grau de escolaridade, de educação formal. Mesmo entre pessoas consideradas como bárbaras como os mongóis, a partir de seu grande líder, Gengis Khan, observo comportamento livre do machismo, que aceitou a sua esposa que havia sido raptada por seus inimigos, grávida e com um filho do outro no colo. Aceitou-a com o mesmo amor, e reconheceu os filhos delas com os outros como seus. Mesmo no momento em que ele foi vendido como escravo e que a esposa teve que se prostituir para conseguir o dinheiro necessário para a sua libertação, ele em nenhum momento mostrou qualquer ojeriza por ela.

            Dessa forma, a capacidade humana de superar essas forças instintivas do egoísmo animal, principalmente no que diz respeito a sexualidade, estão presentes desde muito tempo entre nós. Agora com os ensinamentos do Cristo, na aplicação prática do Amor Incondicional, podemos domesticar os instintos animais e construir novos relacionamentos fraternos, amplos, não exclusivos, tanto para o homem quanto para a mulher.

            Enquanto isso não acontece no meu entorno, onde não surge uma mulher com essas características ou minhas atuais companheiras não consigam aplicar esses ensinamentos, vou tentando administrar os conflitos e sofrimentos que a força do egoísmo ainda gera sobre elas e respinga sobre mim.

            Portanto, se eu tivesse que responder a Guershom Wald se eu tinha descoberto ou encontrado minha companheira, responderia que até agora estou tentando encontrar a mulher capaz de aplicar o Amor Incondicional, mas até o momento só consegui descobrir companheiras que não conseguem domesticar a força dos instintos.


Publicado por Sióstio de Lapa em 28/12/2014 às 00h59


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr