Meu Diário
24/02/2015 23h59
TUDO QUE SE QUER

            Ainda sob a influência de “O Fantasma da Ópera” procurei ver no youtube a interpretação de sua música por diversos cantores. Encontrei uma bela versão interpretada por Emílio Santiago e fiz fortes reflexões do conteúdo da letra, associando ao que S devia ter sentido ao ouvi-la. Pois então, vejamos:

 

TUDO QUE SE QUER (O FANTASMA DA ÓPERA)

 

Olha nos meus olhos,

Esquece o que passou

Aqui neste momento

Silêncio e sentimento

Sou o teu poeta, eu sou teu cantor

Teu rei e teu escravo

Teu rio e tua estrada

 

            Esta é a minha fala. É o sentimento que eu procurava passar para ela e que ela tão bem identificou na canção. Este sentimento dela coincidiu com o meu, desde que seja aplicado ao período em que morávamos juntos. Eu tinha esse sentimento de que ela esquecesse tudo de ruim que existiu em sua vida, apenas olhando em meus olhos e vendo apenas os meus sentimentos. Queria que ela visse o quanto eu era para ela: poeta, cantor, rei, escravo, rio, estrada, professor, aluno... vida!

 

“Vem comigo, meu amado, amigo

Nessa noite clara de verão

Seja sempre, o meu melhor presente

Seja tudo sempre como é

E tudo que se quer”

 

            Esses versos entre aspas é a fala dela. Também coincide os meus pensamentos e sentimentos com os pensamentos e sentimentos dela nos primeiros versos. Estava sempre disposto a ir com ela, não somente em noite clara de verão, mas também nos momentos difíceis, escuros, tormentosos. Eu estava disposto a ser o seu melhor presente, um homem que ao seu lado ela não podia sentir falta de nada, desde o amor espiritual ao sexo selvagem ou domesticado. Mas essa situação não podia ser sempre como era, pois as necessidades da vida me obrigavam a deixar esse idílio e ir à busca de prover a nossa sobrevivência no mundo material. Apesar disso, tudo que ela queria era que eu fosse como era e somente dela. Era tudo que ela queria. Acontece que o meu coração amarrado ao dela por tão belo afeto, estava comprometido com a vontade de Deus, de praticar não o amor romântico, condicional, exclusivo, com prioridade, como ela queria, mas sim o Amor Incondicional como Deus me determinara. De amar dessa forma todas que Ele enviasse ao meu lado, como aconteceu com ela. Eu não poderia ser infiel a esse sentimento, senão desabaria de forma implosiva toda estrutura do meu ser. Ela não poderia jamais incluir no seu tudo de querer, essa obrigação para mim, de ser exclusivo para ela.  

 

Leve como o vento

Quente como o sol

Em paz na claridade

Sem medo e sem saudade

 

            Esta é a minha fala, é isto realmente que me proponha. Ser leve como o vento, não exigir controle sobre ela, não ter ciúme sobre sua vida, de lhe dar plena liberdade de ir e vir para onde e com quem quisesse. Ser quente como o sol, de oferecer toda a intensidade do meu amor, dos carinhos do corpo aos afagos da alma, sem nenhum obstáculo entre mim e ela, obstáculo esse que fosse provocado por mim. Viveria com ela na paz, na claridade da verdade, na transparência, na harmonia. Não teria medo de nada que pudesse acontecer, pois eu sabia que a força do meu amor superaria qualquer desafio, até o maior deles, sabê-la dando o seu amor a outro e respeitar como sagrado esse relacionamento e até amar ao objeto do seu amor, mesmo que isso implicasse em tê-la afastada de mim por alguns momentos ou por toda a vida. Apenas a saudade eu não deixaria de sentir com a sua ausência, pois a saudade seria o seu amor perto de mim na sua ausência, como até hoje ocorre.

 

“Livre como o sonho

Alegre como a luz

Desejo e fantasia

Em plena harmonia”

 

            Sim, perfeito! Era isso que eu queria que ela alcançasse. Estar livre como o melhor sonho que ela já teve na vida. Ficar sempre alegre e brilhante, reproduzindo a felicidade que eu lhe proporcionava. Agora, os desejos e fantasias dela eu não conseguia cumprir, pois se assim fizesse eu me destruiria. Ela desejava que eu tivesse todo esse amor exclusivo para ela. Esta era a fantasia que ela criava para tudo se tornar harmônico em sua vida. E o meu compromisso com o Pai era de sempre oferecer essa mesma qualidade de amor por qualquer pessoa que Ele me enviasse e que atendesse as exigências do Amor Incondicional.

 

Eu sou teu homem

Sou teu pai, teu filho

Sou aquele que te tem amor

Sou teu par, o teu melhor amigo...

Vou contigo seja aonde for

E onde estiver estou

 

            Esta era a minha carta de compromisso com ela. Ser o seu homem, seu pai, seu filho; ter amor para sempre lhe dar, ser o seu par, e o seu melhor amigo. Aonde ela fosse eu iria com ela, material ou espiritualmente, onde ela estivesse eu aí estaria. Mas nunca de forma coercitiva, de obrigá-la a fazer apenas minha vontade. Pelo contrário, ela tinha plena liberdade de fazer o que desejava, o que seu coração pedisse, em qualquer lugar, com qualquer pessoa. Minha mão sempre estaria aberta para ela por pleno amor, jamais se fecharia, como até hoje, apesar de todas as decepções que vêm à minha mente, jamais fechei as portas do meu coração para ela.

 

“Vem comigo meu amado, amigo

Sou teu barco neste mar de amor

Sou a vela que te leva longe

Da tristeza eu sei, eu vou”

 

            Estes últimos versos são cantados em dueto. Passa a ideia de que o coração do Fantasma da Ópera estava diluído no coração de sua amada e vice-versa, numa situação de total exclusividade exigida por ele e cujo sentimento sintonizou com o sentimento de minha amada. Nesse sentido ela é muito mais parecida com Fantasma da Ópera do que eu, pois o seu amor era totalmente guiado pelo amor romântico como assim era o amor dele. Esse dueto cantado por nós dois teria assim um novo significado. Ela pensando em aplicar o amor romântico e eu o amor incondicional. Parece que o último verso era premonitório. Da incompatibilidade dos nossos pensamentos surgiria a tristeza que eu jamais imaginava ser tão destruidora, principalmente para ela. O meu amor incondicional me protege; o seu amor romântico a corrói, deteriora e isola, do mundo e do amor como ele deve ser, como Paulo tão bem explicou em Coríntios.

 

E onde estiver estou

 

E onde estiver estou

 

            Finalmente, os últimos versos se repetem como se sinalizassem que nós e o nosso amor incompatível está preso por uma espécie de “Feitiço de Áquila”. Esse feitiço obriga aos dois amantes viverem separados, não podem se encontrar, mesmo cada um vivendo perto um do outro, ou na forma de lobo, ou na forma de águia. O nosso caso ainda é pior, pois no caso dos amantes de Áquila existia um pequeno espaço entre o nascer e o por do sol que eles podiam se olhar com todo o amor que possuíam um pelo outro, que podiam se acariciar, conversar e derramar as lágrimas pela separação imposta pelo feitiço. Sabiam que existia uma forma de destruir o feitiço e desse conhecimento eles tinham uma grande esperança. O nosso “feitiço” impede qualquer tipo de aproximação. Não posso fitar os seus olhos, pois eles caem como se o feitiço os atraísse para o chão, ou então ficam obnubilados sem verem a luz do amor; não posso tocar em sua pele, pois seus músculos se contraem e a rigidez impede a maciez dos afetos; nossas palavras não conseguem traduzir a linguagem do coração, parece até que uma mordaça foi instalada ou uma torre de Babel construída. A confiança foi transformada para ela em desconfiança. No nosso caso o feitiço é muito mais cruel, pois não há esperança para nós do reencontro afetivo e jamais deixaremos de estar juntos; onde ela estiver eu estarei, e onde eu estiver ela estará... até o fim dos tempos!


Publicado por Sióstio de Lapa em 24/02/2015 às 23h59


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr