Meu Diário
30/03/2015 00h01
A VERDADE ME ENCONTROU

            Ao assistir o filme “Santo Agostinho – o declínio do império romano” observei que ele é centrado na Verdade. Durante a formação de Agostinho como advogado ele aprendeu a valorizar as palavras como ferramenta de mudança de opinião do outro, mesmo que isso envolvesse a mentira, fosse contra os fatos e ajudasse a quem melhor pudesse pagar, mesmo que isso envolvesse a mentira e a injustiça. Agostinho não tinha escrúpulos em aplicar essa máxima, das palavras mesmo mentirosas servirem como seu principal instrumento de trabalho. Ele percebia ao seu redor todas as consequências das mentiras que professava, na vida íntima e na vida pública, levando dores e distorções nos pensamentos das pessoas do seu convívio, da sua influência. Foi no seu primeiro encontro com Ambrósio, bispo de Mediolano (atual Milão), na corte do Imperador, quando ele insinuou a dificuldade na procura pela verdade, que Ambrósio lhe respondeu que não era preciso procurar a Verdade, pois a Verdade nos encontra.

            Confesso que o meu pensamento era mais parecido com o pensamento de Agostinho, mas depois que refleti sobre a assertiva de Ambrósio, reconheço que ela tem maior coerência. A minha procura pela Verdade pode me levar por caminhos errôneos e que eu pense ser verdadeiros, mesmo que mais tarde eu venha reconhecer o erro e corrigi-lo, quando a Verdade me encontrar.

            Fazendo agora uma reflexão sobre a minha trajetória de vida e as decisões que tive de tomar até o momento atual, observo que tudo se encaixa com mais perfeição. Lembro que a base do meu comportamento desde a adolescência, quando eu já começava a projetar meus planos para o futuro, era a justiça nos relacionamentos e a harmonia da convivência dentro do Amor. Quando eu observei que a Verdade me mostrava que havia justiça e mais Amor nos relacionamentos, mesmo conjugais, desde que fosse aplicada a justiça no comportamento do casal e nos novos pares que se formassem. Fiz justamente isso que a Verdade me trouxe: mudei os meus paradigmas de vida, trocando o amor condicional pelo incondicional, a família nuclear pela ampliada e me empenhei mais na construção do Reino de Deus como Jesus ensinou, Ele que dizia ser o Caminho, a Verdade e a Vida.

            Em 430 Agostinho faleceu em Hipona, cidade na província romana na África, onde ele se dedicou enquanto Bispo e que tentou salvar da destruição pelos vândalos, só não conseguindo devido a presunção orgulhosa do governador, que acreditava que o poder militar de Roma não poderia ser derrotado por povos ignorantes. Os vândalos incendiaram a cidade e destruíram tudo, menos a catedral e a biblioteca de Agostinho.

            Durante o cerco e o doloroso processo da invasão e destruição da cidade murada, as palavras de Agostinho ecoavam: “O Amor na adversidade tudo suporta. Na prosperidade se modera. No sofrimento é forte. É alegre nas boas obras. Na tentação é seguro. Na hospitalidade, generoso. Agradável entre verdadeiros irmãos. Entre os falsos, paciente. Este é o Espírito dos Livros Sagrados. É a virtude da profecia. É a salvação dos mistérios. É a força do conhecimento. É o fruto da fé. É a riqueza dos pobres. É a vida de quem morre. O Amor é tudo.”

            Muito parecido com o texto de Paulo sobre o Amor. Muito parecido com a minha vida por querer viver o Amor de forma integral, ampla e irrestrita.


Publicado por Sióstio de Lapa em 30/03/2015 às 00h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr