Meu Diário
19/12/2015 00h59
COMUNHÃO COM DEUS

            Considero hoje que tenho uma boa comunhão com Deus, não é que eu faça tudo que considero que Ele quer que eu faça, mas que procuro entender a Sua vontade e tento realizar aquilo que está ao alcance das minhas forças. Sei também que essa comunhão está mais evidente agora, quando a vitalidade do meu corpo não atrapalha tanto os pensamentos altruístas e consigo filtrar aquilo que é de maior importância para o espírito. À medida que os neurônios morrem essa filtragem se torna mais competente, os interesses do mundo perdem sua importância e são utilizados geralmente para viabilizar essa comunhão com Deus.

            Parece que esse é o processo que vai acontecendo com a maioria das pessoas. A espontânea e permanente comunhão com Deus termina sendo o termo final da jornada evolutiva, a mais alta perfeição do ser humano, considerado em sua plenitude.

            Eu considero, dos altos dos meus 63 anos, recém completados, que isso representa pra mim a mais alta felicidade da minha vida, uma espécie de beatitude, porém plenamente integrada à vida material, com a firmeza de colocar toda a sedução dos prazeres e da força do Behemot, em função do Amor Incondicional, que sempre se confronta com o amor romântico. Isso gera uma nova forma de pensar, sentir e agir, e que caracteriza essa minha comunhão com Deus. Sinto que ao agir assim, estou fazendo a vontade do Pai, construindo um tipo de maquete social conforme o Filho ensinou para construirmos o Reino de Deus. Mesmo que isso traga desconforto para minhas companheiras, perda de tempo de estar com os filhos, e necessidade de morar sozinho, pois não encontro, talvez jamais uma pessoa que pense, sinta e reaja da mesma forma que eu. Parece que sou um instrumento exclusivo do Pai para orientar a coletividade dentro de um amor inclusivo.

            Sei pela história que estou bem acompanhado nesse processo, pois os únicos homens realmente felizes através dos séculos e milênios, mesmo que sofressem penas e torturas, foram os que realizaram o supremo destino da comunhão com Deus nas suas vidas.

            Quem não tem essa experiência de andar na presença de Deus, vive uma vida “normalmente” humana, associada aos instintos animais, sob o domínio explícito ou aparente do Behemot, nas atividades das coisas materiais de cada dia. E essas pessoas ainda consideram os “santos”, aqueles que investiram radicalmente na comunhão com Deus chegando a perder a própria vida dentro de um verdadeiro altruísmo com o Senhor da vida, como pessoas imprestáveis para o plano geral da existência, segundo eles pensam. É um ser anormal, que pode fazer milagres, e que em vez de trabalhar se retira à solidão de uma caverna ou dentro de um convento, igreja, templo ou mosteiro e se põe de joelhos perante um altar e se esquece do mundo e dos homens.

            Essa crítica me soa como verdadeira; não é porque eu tenha conseguido a sintonia com Deus que eu deva deixar esse mundo, deixe de trabalhar, deixe de construir e de viver em família, e deixe de gozar também os prazeres materiais. Talvez essas pessoas “imprestáveis” segundo os materialistas, tenham recebido do Pai outra missão diferente da minha e que os fizeram agir assim, afinal eles também estavam em comunhão com Deus.

            Entendo que no Reino de Deus, esta comunhão com o Pai não vai impedir ou prejudicar os afazeres profissionais exigidos pelo mundo material, pela sobrevivência e reprodução dos corpos.


Publicado por Sióstio de Lapa em 19/12/2015 às 00h59


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr