Meu Diário
29/06/2016 08h24
AI, MEU DEUS... SOCORRO!!!

            Tudo corria em paz naquele pequeno hospital geral, de uma pequena cidade do interior. O tempo estava frio e a ameaça de chuva fazia pouca gente adoecer, um fenômeno que até hoje a ciência médica não conseguiu resolver.

            Os técnicos de plantão bem que gostavam daquela situação, nenhum paciente chegando e poucos para atender, somente aqueles que o médico tinha avaliado e que havia deixado em observação. Se resumia em quatro pacientes, um idoso que chegara com pressão arterial elevada, uma mulher jovem com ameaça de aborto, um alcoólico de quarenta e poucos anos que se recuperava dos excessos das bebidas com comidas de milho, e uma freguesa do Pronto Socorro, diabética, que não conseguia obedecer a dieta.

            Já se aproximava da meia noite e todos os técnicos já estavam recolhidos nos seus respectivos repousos, sem saberem que o tempo estava fechando cada vez mais, com nuvens tão pesadas que se aproximavam cada vez mais da terra.

            Foi justamente no toque da meia, depois que muitos foram repousar, depois de assistirem a novela dos Dez Mandamentos, cujo episódio relatava os tremores de terra pelo qual Deus castigava seus filhos teimosos, que o inesperado aconteceu.

            As nuvens que já descarregavam os seus conteúdos aquosos, se chocaram com forte descarga de energia, luminosa e auditiva. O clarão do relâmpago não foi percebido por muitos que já estavam de olhos fechados em seus leitos, mas o barulho ensurdecedor do trovão foi inevitável. Ainda bem que não tinha nenhum cadáver no necrotério, pois seria capaz dele ter se levantado atordoado. Mas os viventes não escaparam... a jovem assistente social que fora repousar impressionada com a novela, foi a primeira a chutar a porta de seu repouso e sair gritando pelo corredor em roupas mínimas: AI, MEU DEUS... SOCORRO!!!!

            Esta foi a senha para o hospital entrar em desespero. O médico, ateu, logo imaginou um ataque terrorista onde um avião tinha sido jogado na caixa d’agua do prédio; o idoso que além de hipertenso era surdo, ficou apenas impressionado com tanta correria no hospital, altas horas da noite; a garota que esperava o seu primeiro filho e era muito católica, logo pensou que o brilho era da estrela de Belém e que os anjos com suas trompas exageravam no anúncio do nascimento do seu filho; o alcoólico, acostumado com seus delírios nas mesas do bar, já estava correndo para embarcar no brilhante disco voador que tinha freado na forma de corisco no telhado do hospital; e a diabética jurava que dessa vez iria cumprir a promessa de não comer açúcar para jamais voltar a esse endiabrado hospital.

            Antes que todo mundo se acomodasse, e a bateria dos corações diminuíssem seus ritmos, ainda se podia ouvir o som estridente de uma ambulância que se afastava velozmente do hospital, cuja vítima era o próprio motorista, tentando escapar de um terremoto que vinha lhe pegar...

            Depois que tudo passou e horror se transformou em piadas, jamais essas pessoas iriam olhar para esse hospital da mesma forma! 


Publicado por Sióstio de Lapa em 29/06/2016 às 08h24


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr