Meu Diário
04/11/2016 00h59
AUTODESCOBRIMENTO (32) – RAIVA

            Os conflitos psicológicos se instalam de preferência em pessoas imaturas, que valorizam apenas as sensações agradáveis, ficam focadas na impermanência do físico e podem estar situadas em diferentes níveis de consciência. Nessas pessoas ocorre frequentemente os choques de entendimento, entre o que se quer e o que se é; entre o Ego e o Self. Isso termina se enraizando no psiquismo e promove expressões de sofrimento que exige terapias específicas.

            Um dos principais fatores de conflitos psicológicos é a raiva como elemento promotor da descarga de adrenalina. Isso provoca a alteração do equilíbrio orgânico e emocional. Para evita essa condição, temos que evitar escamotear a raiva, dissimular, desdobrar ou remoer o fato que a gerou, com autocompaixão, sentindo-se injustiçado, pensando em revide e agindo com agressividade.

            A origem da raiva está dentro dos conflitos que não são digeridos. São geralmente choques com o nosso prazer ou bem estar, que afeta diretamente o lado agradável da vida, que fica guardado no subconsciente, e, quando recebe vibração equivalente emerge na forma de incidentes desagradáveis.

            A instalação da raiva no psiquismo está relacionada com a perda da autoestima, com o cuidado excessivo na imagem pessoal e com a negligência com o valor de si. Isso pode ser observado como insegurança interior, dependência do apoio alheio, instabilidade emocional, reação as ocorrências sem o devido raciocínio do que esteja acontecendo, e o lançamento de cortina de fumaça comportamental para ocultar a deficiência. Um conselho sempre é bom: “Não se segure à raiva, mágoa ou dor. Eles roubam sua energia e o afastam do amor.”

            As consequências da raiva são feitas por pressão ou pela não digestão da mesma. Isso irá provocar danos no aparelho físico, como indigestão, diarreia, acidez, disritmia, inapetência ou glutoneria. Também pode provocar danos no emocional, como nervosismo, amargura, ansiedade e depressão. Devemos lembrar sempre que, guardar mágoa no coração é o caminho mais rápido para a destruição. Para ser completo, é preciso saber perdoar.

            O antídoto que podemos usar contra os efeitos da raiva, é fazer o alinhamento dela com a vida, promover o perdão das ofensas, diluindo-a nas águas do amor, e fazendo a racionalização da ofensa: considerando que o ofensor é alguém que está de mal consigo mesmo; que é um enfermo sem se dar conta. Com essa atitude, o conteúdo da raiva diminui até desaparecer. Não devemos esquecer que a estrutura da mágoa por alguém é de que essa pessoa não atendeu a minha expectativa, não fez o que eu queria, ou fez o que eu não queria.

            A forma de anular os efeitos danosos da raiva, derivada de prejuízos financeiros, traição de um amigo, ou perda de um emprego, é descarregar a emoção através do choro e considerar a injustiça do que foi praticado. Sempre é bom gastar a energia má com corrida, caminhada, trabalho físico intenso, ou projetar o ofensor num tipo de espelho até diluir sua energia negativa. Lembrar que, se estamos na convivência com um companheiro, o amor é o elemento da mais alta importância; a raiva não pode ter a força de levar à separação, pelo contrário, amar é cuidar do outro, mesmo quando estamos zangados.

            As alternativas positivas que podemos lançar mão quando nos sentirmos invadidos pela raiva, é a meditação e a prece. Na meditação devemos analisar as origens do acontecimento e procurar identificar melhor as responsabilidades pelo acontecimento negativo. Se descobrirmos que fomos nós os responsáveis, não ficar imobilizado pela auto piedade, procurar corrigir o erro com humildade. A prece é importante, pois leva compaixão ao ofensor, mesmo que ele não tenha conhecimento disso, e provoca em quem ora o auto fortalecimento. Lembrar sempre: precisa desabafar? Feche os olhos, se desligue do mundo e converse com Deus.

            A atitude mais coerente que devemos ter quando ofendido, é expressar os sentimentos ao ofensor, aos amigos, sem queixa, sem mágoa. Demonstrar que é uma pessoa normal e necessitado de respeito, de consideração, como todas as pessoas. Nunca parecer ser humilde, fingindo santificação, sem ter alcançado a humanização. As nossas atitudes devem falar tão alto, tanto que ninguém consiga perceber o que dizemos.

            Finalmente, devemos evitar parecer sem ser, nos auto desvalorizar, apontar os nossos próprios itens negativos de forma pejorativa, fazer relatos autodepreciativos para agradar os demais, fazer de si caricatura preconceituosa e lembrar sempre que humildade não é a negação dos nossos valores nem a subestimação de nós mesmos.

            Não confunda ser humilde com autodesvalorização. Se você fez a coisa certa, seja justo consigo mesmo e se congratule. (Alejandro Jodorowsky).

 


Publicado por Sióstio de Lapa em 04/11/2016 às 00h59


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr