Meu Diário
11/12/2016 23h53
CERIMÔNIA DE CASAMENTO

            Fui convidado para ser padrinho de um casamento. Perece paradoxal, eu que avalio o casamento ser nocivo da forma que é praticado e no entanto estar no papel de padrinho, uma pessoa que terá por encargo ser um dos guardiões dessa união, com as características que a igreja católica impõe.

            Mas tenho fortes justificativas. Eu também considero a opinião do próximo como uma forma dele exercer o direito à sua cidadania da forma que entende, não obrigatoriamente seguir a minha forma de pensar. Mesmo porque eu cometi esse erro de casar duas vezes, e na segunda vez eu já tinha muita experiência dos aspectos negativos que o casamento traz.

            Enfim, aceitei o encargo de ser esse padrinho, considerando que iria defender o pensamento que eles estavam dispostos a cumprir, apesar de suas poucas experiências com esse aspecto da vida, a não ser o sucesso que os seus pais, tanto do noivo quanto da noiva, tiveram com seus respectivos casamentos. Eles estavam lá na igreja. Os dois casais de pais como testemunhas de um sucesso no casamento na vida de cada um deles. Eu não poderia colocar aspectos negativos frente a tanta alegria em momento tão especial. Guardarei minha opinião para que, no futuro, se houver conflitos no relacionamento, eu possa expressar minha experiência, meus pensamentos e minha ideologia quanto a união entre duas pessoas, de forma inclusiva, que seja feito conforme o que exige a construção do Reino de Deus através do compromisso com o Amor Incondicional, e não com o egoísmo, do amor exclusivo do Amor Romântico.

            Notei na argumentação do padre na hora da celebração, uma serie de incoerências. Por exemplo, que a instituição do casamento foi feito por Deus no Gênese, e que o homem deveria deixar seu pai e sua mãe e formar com a mulher uma só carne.

            Primeiro, no gênese existe a informação de que Deus criou o homem e em seguida a mulher com uma das costelas do homem. Portanto, essa união não tinha nada a ver com o casamento da forma que estava sendo proposta. Só existia esses dois seres humanos no paraíso e não podiam fazer sexo, não podia haver reprodução. Assim, o amor que eles tinham estava longe do amor romântico ou incondicional, era uma forma de amor onde deviam contemplar somente a Deus, longe de competição com outros seres humanos por uma companheira, por uma luta pelo sucesso reprodutivo.

            Segundo, a informação de que o homem deve deixar seu pai e sua mãe e formar com a mulher uma só carne, está no Novo Testamento, no Evangelho que Jesus nos ensinou. Ai pode se aplicar o conceito de Amor romântico, do homem deixar a casa dos seus pais, trocar o amor fraterno e investir no amor romântico com uma mulher, de forma exclusiva, e o termo “formar uma só carne” parece reforçar essa forma de união, onde o homem geralmente é o cabeça da família. Porém mais uma vez surge contradições. Se os dois formam um só carne, e se o homem é o cabeça dessa união, se ele resolve por apelo do seu coração, se envolver afetivamente com alguém, sem ferir a lei do Amor, não deveria haver resistência da mulher por isso ter acontecido. Pois se os dois fazem parte da mesma carne, se o homem se regozija com o intercâmbio afetivo com outra pessoa, a esposa deveria se manter satisfeita, pois a satisfação do seus companheiros diz respeito a sua própria satisfação. Isso abre também a perspectiva, que se a mulher também sentir necessidade de trocar afetos com outra pessoa, obedecendo os mesmos princípios que o seu companheiro utilizou, não deveria ser condenada como acontece na atualidade.

            São esses aspectos que mostram uma incoerência da religião querer ter autoridade sobre um assunto do qual ela não possui uma coerência interna. Termina gerando um desequilíbrio no relacionamento, raiva, frustração e ressentimento, que pode ser tolerado por um ou ambos parceiros por toda vida; ou pode a qualquer momento ser destruído o relacionamento.

            Manterei a minha postura de severo crítico da instituição “casamento” da forma que é praticado, onde a mulher geralmente é a mais prejudicada, devido aos preconceitos existentes e que protegem o comportamento masculino. Evitarei ser cerceado pelos interesses de qualquer mulher que se aproxima de mim, na forma de ter com exclusividade a minha afetividade. Respeitarei quem queira seguir o casamento tradicional, mas serei um severo crítico daqueles que, de forma hipócrita, queiram se aproveitar de qualquer situação para explorar afetivamente o companheiro.


Publicado por Sióstio de Lapa em 11/12/2016 às 23h53


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr