Meu Diário
11/01/2017 02h54
IGREJA E FAMÍLIA UNIVERSAL

            Essa ideia de família universal que Deus colocou na minha mente e desviou os meus pensamentos de viver para sempre, em regime de fidelidade a um amor exclusivo, coerente com o amor romântico, até o fim da vida, me trouxe dificuldades que agora, ao ler a história de Paulo de Tarso, vejo certa semelhança quando ele iniciou, de forma pioneira, a criação da igreja cristã universal. Mais uma vez entendo que este texto chega agora ao meu alcance como determinação do Pai para que eu entenda melhor como agir, quais os caminhos que podem ser seguidos, assim como Ele agiu com Paulo. Irei reproduzir o trecho do livro “Paulo e Estêvão”, que estou lendo pela segunda vez, para exemplificar o que digo.

            A igreja de Corinto começou, então, a produzir os frutos mais ricos da espiritualidade. A cidade era famosa por sua devassidão, mas o Apóstolo costumava dizer que dos pântanos nasciam, muitas vezes, os lírios mais belos; e como onde há muito pecado há muito remorso e sofrimento, em identidade de circunstâncias, a comunidade cresceu, dia a dia, reunindo os crentes mais diversos, que chegavam ansiosos por abandonar aquela Babilônia incendiada pelos vícios.

            Com a presença de Paulo, a igreja de Corinto adquiria singular importância e quase diariamente chegavam emissários das regiões mais afastadas. Eram portadores da Galácia a pedirem providências para as igrejas de Pisídia; companheiros de Icônio, de Listra, de Tessalônica, de Chipre, de Jerusalém. Em torno do Apóstolo formou-se um pequeno colégio de seguidores, de companheiros permanentes, que com ele cooperavam nos mínimos trabalhos. Paulo, entretanto, preocupava-se intensamente. Os assuntos eram urgentes quão variados. Não podia olvidar o trabalho de sua manutenção; assumira compromissos pesados com os irmãos de Corinto; devia estar atento à coleta destinada a Jerusalém; não podia desprezar as comunidades anteriormente fundadas. Aos poucos, compreendeu que não bastava enviar emissários. Os pedidos choviam de todos os sítios por onde perambulara, levando as alvíssaras da Boa Nova. Os irmãos, carinhosos e confiantes, contavam com a sua sinceridade e dedicação, compelindo-o a lutar intensamente.

            Sentindo-se incapaz de atender a todas as necessidades ao mesmo tempo, o abnegado discípulo do Evangelho, valendo-se, um dia, do silêncio da noite, quando a igreja se encontrava deserta, rogou a Jesus, com lágrimas nos olhos, não lhe faltasse com os socorros necessários ao cumprimento integral da tarefa.

            Terminada a oração, sentiu-se envolvido em branda claridade. Teve a impressão nítida de que recebia a visita do Senhor. Genuflexo, experimentando indizível comoção, ouviu uma advertência serena e carinhosa:

            - Não temas – dizia a voz -, prossegue ensinando a verdade e não te cales, porque estou contigo.

            O Apóstolo deu curso às lágrimas que lhe fluíam do coração. Aquele cuidado amoroso de Jesus, aquela exortação em resposta ao seu apela, penetravam-lhe a alma em ondas cariciosas. A alegria do momento dava para compensar todas as dores do padecimento do caminho. Desejoso de aproveitar a sagrada inspiração do momento que fugia, pensou nas dificuldades para atender as várias igrejas fraternas. Tanto bastou para que a voz dulcíssima continuasse:

            - Não te atormentes com as necessidades do serviço. É natural que não possas assistir pessoalmente a todos, ao mesmo tempo. Mas é possível a todos satisfazeres, simultaneamente, pelos poderes do espírito.

            Procurou atinar com o sentido justo da frase, mas teve dificuldade íntima de o conseguir.

            Entretanto, a voz prosseguia com brandura:

            - Poderás resolver o problema escrevendo a todos os irmãos em meu nome; os de boa vontade saberão compreender, porque o valor da tarefa não está na presença pessoal do missionário, mas no conteúdo espiritual do seu verbo, da sua exemplificação e da sua vida. Doravante, Estêvão permanecerá mais aconchegado a ti, transmitindo-te meus pensamentos, e o trabalho de evangelização poderá ampliar-se em benefício dos sofrimentos e das necessidades do mundo.

            O dedicado amigo dos gentios viu que a luz se extinguira; o silêncio voltara a reinar entre as paredes singelas da igreja de Corinto; mas, como se houvera sorvido a água divina das claridades eternas, conservava o espírito mergulhado em júbilo intraduzível. Recomeçara o labor com mais afinco, mandaria às comunidades mais distantes as notícias do Cristo.

            De fato, logo no dia seguinte, chegaram os portadores de Tessalônica com notícias desagradabilíssimas. Os judeus haviam conseguido despertar, na igreja, novas e estranhas dúvidas e contendas. Timóteo corroborava com observações pessoais. Reclamavam a presença do Apóstolo com urgência, mas este deliberou pôr em prática o alvitre do Mestre, e recordando que Jesus lhe prometera associar Estêvão à divina tarefa, julgou não dever atuar por si só e chamou Timóteo e Silas para a primeira de suas famosas epístolas.

            Assim começou o movimento dessas cartas imortais, cuja essência espiritual provinha da esfera do Cristo, através da contribuição amorosa de Estêvão – companheiro abnegado e fiel daquele que se havia arvorado, na mocidade, em primeiro perseguidor do Cristianismo.

            Percebendo o elevado espírito de cooperação de todas as obras divinas, Paulo de Tarso nunca procurava escrever só; buscava cercar-se, no momento, dos companheiros mais dignos, socorria-se de suas inspirações, consciente de que o mensageiro de Jesus, quando não encontrasse no seu tono sentimental as possibilidades precisas para transmitir os desejos do Senhor, teria nos amigos instrumentos adequados.

            Desde então, as cartas amadas e célebres, tesouro de vibrações de um mundo superior, eram copiadas e sentidas em toda parte. E Paulo continuou a escrever sempre, ignorando, contudo, que aqueles documentos sublimes, escritos muitas vezes em hora de angústias extremas, não se destinavam a uma igreja particular, mas a cristandade universal. As epístolas lograram êxito rápido. Os irmãos as disputavam nos rincões mais humildes, por seu conteúdo de consolações, e o próprio Simão Pedro, recebendo as primeiras cópias, em Jerusalém, reunia a comunidade e, lendo-as, comovido, declarou que as cartas convertidas de Damasco deviam ser interpretadas como cartas do Cristo aos discípulos e seguidores, afirmando, ainda, que elas assinalavam um novo período luminoso na história do Evangelho.

            Eis a mensagem! Paulo foi intuído em viajar para diversas comunidades distantes e levar a mensagem do Cristo criando suas igrejas. Logo percebeu que não podia estar presente em todas ao mesmo tempo, sendo necessária que o Cristo viesse pessoalmente lhe dizer sobre a influência espiritual que deveria ser feita através das epístolas que deveriam atender a todas as igrejas. Dessa forma, o pensamento do Cristo poderia ser captado, através do intercâmbio de Estêvão, naqueles missionários que no momento tivesse mais capacitado à recepção. Por isso Pedro falou que deveriam ser consideradas como cartas do Cristo.

            Qual a semelhança comigo? Deixei a segurança de Jerusalém, do casamento tradicional, nuclear, exclusivo, para me dirigir atendendo a necessidade de outras companheiras que surgiram pelo caminho. As dificuldades que cada uma apresentavam não podia ser corrigida por minha presença simultânea em todas elas, assim como Paulo não podia estar presente simultaneamente em todas as igrejas. O mestre orientou para ser feita as epístolas e assim, com a influência espiritual inspirada pelo próprio Mestre, atenuar as necessidade do contato físico.

            Já tive a inspiração de escrever este diário com as informações do que vai em meu psiquismo, com atenção ao que Deus colocou como a minha missão: construir a família ampliada como forma de praticar o Amor Incondicional e chegar ao Reino de Deus. Seria interessante que as minhas diversas companheiras chegassem a ler esses textos, mas o instinto animal termina superando as possíveis intenções espirituais que porventura elas tenham, com honestidade, desenvolvido em algum momento.  

            Por enquanto, a minha fala e o meu comportamento, procuram sempre sintonizar com honestidade o que entendo ser a vontade de Deus em meu pensamento. E agradeço a presença constante dos espíritos santos de Deus, engajados na batalha espiritual nas fileiras do bem, a me intuírem e trazerem informações como esta em obediência à vontade do Pai.


Publicado por Sióstio de Lapa em 11/01/2017 às 02h54


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr