Meu Diário
20/02/2017 22h50
CARTAS PARA DEUS

            Ao começar um curso de “Formação de Escritores” pela internet, o professor falou de uma obra muito importante do escritor Austregésilo de Athayde. Foram cartas que ele fez diariamente à sua esposa e que hoje é guardada como relíquia da História do Brasil, pois não se tratava apenas de relatos afetivos, mas do que ele percebia sobre o nosso País. Fiquei a pensar que faço algo parecido com este diário, que tenho mantido com bastante regularidade. Um diário de minhas atividades e lucubrações, em todas as áreas, dirigidas a Deus. Sim, dirigidas a Deus, pois o que faço é na forma de um compromisso onde o meu comportamento é colocado de forma pública, no sentido de eu servir como um tipo de cobaia do comportamento humano, no que ele tem de dificuldade em entender e seguir a vontade do Criador.

            Por outro lado, não é bem cartas para Deus, pois não faço esse endereçamento. Simplesmente procuro colocar de forma transparente o que está acontecendo comigo, desde que esse relato não vá trazer sofrimento desnecessários para terceiros. Tanto é verdade, que mesmo colocando informações que não poderia deixar de colocar, mesmo assim deixa algumas pessoas que estão ligadas a mim e que não seguem o mesmo pensamento que tenho, constrangidas. Algumas chegam a evitar ler o que escrevo, pois percebem que vivem melhor sem saber o que penso e o que faço. Essa é uma relação instável, pois a verdade sempre vai surgir e as reações podem ser muito negativas, levando a conflitos, raiva, agressividade. Quando chega a esse ponto é necessário o afastamento físico, pois a relação tende a piorar cada vez mais, desde que não posso mudar o meu modo de pensar para agradar a ninguém.

            Este relato serve de bom exemplo para o que quero dizer. Estou falando do que aconteceu na minha segunda aula de “Formação de Escritores” na forma de crónica para um público externo que muitos não me conhecem. O que é válido é o acontecimento e a minha forma de reação. Esta transparência do que aconteceu e da minha reação, é o compromisso que tenho com Deus, de mostrar como funciona um organismo humano, que sofre todas as pressões dos instintos, e que por outro lado, como um compromisso espiritual, deseja fazer a vontade do Pai.  

            Para ser uma carta dirigida ao Pai, eu deveria começar diferente, aproximadamente dessa forma: “Querido Pai, hoje tive acesso a segunda aula do curso de “Formação de Escritores” e foi dado a informação de um escritor que fazia diariamente cartas para sua esposa, como faço diariamente para Ti.”

            Mesmo que na forma, os meus escritos não pareçam ter esse formato de carta, mas para quem me acompanha desde o início, pode muito bem ter a mesma sensação que tenho de estar falando com o Pai quando coloco os textos deste diário.

            Não vou mudar a forma que tenho de escrever. Talvez os conteúdos do curso que estou fazendo venha me trazer informações úteis para melhorar minha forma de escrever, mas não quero deixar de falar com o Pai, mesmo que não tenha a formalidade de uma correspondência tradicional.


Publicado por Sióstio de Lapa em 20/02/2017 às 22h50


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr