Meu Diário
23/04/2017 23h59
CIÊNCIA E FÉ

            A Ciência e a Fé devem caminhar juntas, mas o que temos visto, principalmente nos âmbitos de cada uma, na academia ou no clero, é uma tentativa de ver o mundo com um só prisma, escamoteando ou menosprezando o outro. Quem termina prejudicado com esse comportamento é a Verdade.

            Procuro fazer a minha caminhada com os dois pés em cada uma dessas trilhas e os dados que vou encontrando, os fatos objetivos ou subjetivos que se adequam à lógica, vão se incorporando nos meus princípios de Verdade, mesmo que não tenham caráter definitivo, pois entendo que possam estar equivocados e que novos dados mais adiante venham redefinir melhor os princípios dessa Verdade por mim considerada.

            Essa condição que a lógica impõe como necessária para que eu construa os princípios da minha Verdade, que pode ser diferente de tantas outras e que posso estar equivocado, é o que chamo de Dúvida. Mesmo que a Dúvida esteja sempre presente nas minhas narrativas que considero como corretas, ela não pode ser tão forte que desautorize a Verdade que minha lógica considerou. Sim, a convicção deve considerar a minha Verdade como real, mesmo que exista a dúvida sempre ligada, como um sinal vermelho que se acende quando um novo dado da realidade desautoriza tal ou qual tipo de narrativa.

            Assim acontece com o mundo espiritual. Tenho hoje plena convicção da sua existência, que faz parte da Natureza, pelos diversos textos e fontes de informação que tenho lido e que apoiam essa narrativa. Também leio fontes que discordam da existência do mundo espiritual, mas não apresentam dados ou argumentos suficientes fortes para desmontar a minha narrativa de existência do mundo espiritual. Mesmo que eu não tenha nenhuma sensibilidade para comprovar com os meus sentidos a existência desse mundo espiritual, mas respeito a lógica e coerência que o apoia.

            Isso facilita o meu desenvolvimento, pois vou conduzindo a minha evolução consciencial sem a necessidade de ficar testando interminavelmente as minhas verdades já adquiridas. Simplesmente vou observando os dados que me chegam à consciência e avaliar com a lógica se são suficientemente fortes para contestar os diversos outros fatos já aceitos como verdade e que sustentam o mundo espiritual.

            Por exemplo, não tenho outra explicação mais racional para explicar o conjunto da obra do médium Chico Xavier, mais de 400 livros de várias tendências poéticas, religiosas e científicas, do que a manifestação dos seres que vivem no mundo espiritual. Os trabalhos sistemáticos de Allan Kardec e tantos outros espiritualistas ou cientistas dão sustentação a essa narrativa. Portanto, um texto de qualquer autor que coloca em dúvida a minha narrativa, se não colocar dados que desmantele esse construto teórico e prático das minhas convicções, não irá provocar em mim nenhuma dúvida significativa que chegue a desconsiderar o que eu tenho como Verdade.

            Isso posso comprovar no meio acadêmico no qual convivo diariamente com colegas que comungam exclusivamente com a ciência e que desconsidera a existência do mundo espiritual. Por mais autoridade que essa pessoa possua nos seus trabalhos relacionados ao mundo material, considero um total ignorante do mundo espiritual, que não conseguiu ou não teve oportunidade de conhecimento das fontes que mostram racionalmente a existência do mundo espiritual. E podem até ter tido contato com algumas dessas fontes, mas por ter uma convicção tão forte que a sua narrativa de mundo material sem existência de mundo espiritual é a Verdade imutável, não deixa o racional fazer o confronto com sua narrativa de vida. É como se essas pessoas tivessem desligado o botão da Dúvida e agora nada destrói o seu conceito de realidade.

            Também existem as pessoas cujo racional foi acionado e passaram a aceitar como consequência lógica a verdade do mundo racional. Mas como tem a consciência inundada pela luz vermelha da Dúvida, sempre estão recuando nas suas convicções e testando vezes sem conta o que já haviam decidido como correto. Essa pessoa se encontra parada numa situação de eterna contemplação, onde a realidade do mundo espiritual faz ele avançar um passo, enquanto a Dúvida faz ele recuar outro.

            Compreendo que saí de uma posição de ceticismo e hoje caminho à passos largos na compreensão e aprofundamento da existência do mundo espiritual, com poucas paradas de reflexão sobre a existência do mundo espiritual.

            Foi assim que adquiri a Fé raciocinada que me deu a paternidade de um Pai que eu não sabia existir, descobrir que Ele tem uma vontade hierarquicamente superior à minha e que para eu viver com harmonia e felicidade tenho que saber o que Ele quer de mim e fazer todo esforço físico e racional para realizar. Isto faz com que a minha vida hoje tenha uma motivação mais espiritual que material, e isso me deixa mais fortalecido e preenchido nos meus ideais.  


Publicado por Sióstio de Lapa em 23/04/2017 às 23h59


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr