Meu Diário
26/05/2017 17h09
DIMENSÕES DA VERDADE (01) – CÉU E INFERNO

            A Verdade absoluta é algo que não podemos alcançar com facilidade, talvez seja uma utopia. Cada pessoa, por mais honesta que seja, sempre tentará encaixar os dados da realidade que vai absorvendo dentro de uma narrativa de vida que considera correta. Essa narrativa é mais complexa que as digitais dos dedos que servem para a identificação de cada pessoa, pois também mostra a exclusividade de ninguém ser portador de uma mesma narrativa, por mais parecida que seja.

            Por isso este estudo que aprofunda os conhecimentos sobre as dimensões da Verdade, logo vai mostrar essa variabilidade de compreensão sobre um mesmo conceito, por exemplo, o que é Deus? Nos primórdios de nossa evolução, dentro das comunidades primitivas, se acreditava que Deus seria representado pelos fenômenos da Natureza. Como não sabiam explicar isso que estavam observando, então associavam ao ente mais poderoso que podiam conceber, Deus, em qualquer terminologia que empregassem. Com a evolução do pensamento, Deus ficou mais próximo de nós e o concebemos de forma antropomórfica, um velhinho de barbas brancas responsável pela criação do Universo, que estava presente em tudo, consciente e onipotente.

            No nível máximo que nossa compreensão moderna pode atingir, com o conhecimento de todos os avanços da ciência e tecnologia, o conceito de Deus ficou mais coerente com a energia do Amor, da sabedoria máxima, capaz de criar e administrar o cosmo.

            Mesmo em atitudes mais pragmáticas, como construir uma religião baseada no mesmo Deus, mesmo assim observamos narrativas diversas, como é o caso do cristianismo. Dentro do mesmo conteúdo que são as lições do Cristo, observamos a formação do catolicismo, com seus dogmas seculares; a formação do protestantismo, ressaltando a importância do arrependimento dos erros cometidos e da fé em Jesus Cristo como forma de alcançar a salvação; e o espiritismo que ressalta a importância do mundo espiritual e os seres que lá habitam, e que recebem instruções dos mentores para melhor ajudar a si mesmo e aos outros.

            A codificação espírita ressalta a caridade como alicerce fundamental da felicidade, e para isso deve ser seguida as normativas do trabalho, solidariedade e tolerância. São cinco os livros que compõem a obra principal de Allan Kardec, chamados de pentateuco: o Livro dos Espíritos, que constrói a filosofia espírita; o Livro dos Médiuns, que instrui sobre a fenomenologia espiritual e estimula a pesquisa, corresponde ao lado científico da codificação; o Evangelho segundo o espiritismo, que interpreta as lições de Jesus com a participação do Espirito da Verdade no comando das ações; o Céu e o Inferno que aborda o nosso destino evolutivo; e a Gênese, que aborda a nossa origem.

            São abordadas as diversas regiões, tanto no mundo astral quanto no mundo material, um verdadeiro fracionamento espacial. No mundo astral são encontradas as regiões de sofrimento para onde vão os espíritos culpados e irresponsáveis. Mais acima, são encontradas as regiões de repouso temporário, onde ficam os espíritos que já edificam o bem e a moral no íntimo. O último nível, o divino, é destinado para os espíritos que alcançaram a condição de santos, de puros. Na dimensão material, onde estamos encarnados num corpo físico com o objetivo de aprender ou purgar os erros cometidos, podemos observar os locais de aflição, como forma de correção e dor reparatória, nas favelas, nos ambientes miseráveis, onde reina a fome, as guerras, as bocas de fumo, etc. também são encontradas estâncias de trabalho e edificação onde o Amor não repousa, como nos Templos das diversas religiões e nas diversas formas de voluntarismo em favor do bem estar e evolução do próximo.

            A Justiça Divina está sempre atenta e se distribui nos seguintes processos que cada um deve desenvolver: aprendizado contínuo, trabalho desinteressado em favor do próximo, oração ativa, vigilância no caminho, exercícios de paciência, humildade, e Amor sempre. Essas atividades são importantes para a evolução espiritual, e mesmo que nós tenhamos a necessidade de nos envolver em ações laborativas para garantir a nossa sobrevivência biológica e de nossos parentes dependentes, não podemos deixar esses processos da Justiça Divina em segundo plano, pois atrasaremos a nossa aproximação com o Pai. Chico Xavier já dizia que “Toda vez que a Justiça Divina nos procurar para acerto de contas, se nos encontra trabalhando em benefício dos outros, manda a Misericórdia Divina que a cobrança seja suspensa por tempo indeterminado”.

            O Regulamento Divino para ser compreendido e aplicado diz o seguinte: 1º) Se alguém te ofende e fere os sentimentos, luta com o ego e perdoa; 2º) Se alguém se dia ofendido por ti, com mágoas, compreende e pede o perdão; e 3º Cuidado com o tempo, não adie o desculpar, não atrase o pedido de desculpas, pois a carne é sublime oportunidade, mas é breve. O perdão não muda o passado, mas engrandece o futuro. Nada muda, se você não mudar.

            O cumprimento dessas observações são importantes porque a nossa vida na dimensão material é curta. Chega o momento em que o corpo se desintegra, morte física, e o espírito se dirige para o “Posto Fiscal” para entrar no mundo espiritual. Nesse momento a consciência está mais lúcida e se você se percebe amaldiçoando a quem imagina que lhe fez mal, vai se encontrar no Inferno consciencial, consciência tumultuada, porto de trevas, sem humildade, sem paz. Mas se você se percebe abençoando a todos, inclusive a quem foi seu adversário, quem lhe causou algum mal, então estará no Céu da consciência tranquila, um porto de luz, sem orgulho, sem desejo de vingança. Para alcançar esses níveis conscienciais de Céu e Inferno, é importante observar que as lições de Jesus servem para nos aproximar do Céu, enquanto os instintos animais, representados pela besta, pelo demônio, induzem a nossa caminhada para o Inferno consciencial.

            Mesmo que tenhamos a boa intenção de cumprir as lições de Jesus, vamos enfrentar muitas dificuldades. O remorso pelo perdão não recebido de uma falta que cometemos e o ressentimento por uma ofensa que nos fizeram e que nós não perdoamos. Para superar essas dificuldades, somente o Evangelho de Jesus para nos ajudar a fazer a Paz e amar o próximo, mesmo adversário, como a um irmão. Devemos ser aquele que ama e perdoa e assim conquistaremos o Céu; devemos evitar a chaga do ódio e vingança e assim não entramos no Inferno consciencial.

            Essas dificuldades para dar o perdão aos nosso algozes, no menor espaço de tempo possível, poucas pessoas conseguem superar. Coloco como exemplo apenas Jesus, perdoando seus algozes do alto da cruz, e Estêvão, perdoando o seu algoz, Paulo de Tarso, que o condenou a morrer apedrejado. Essa condição de superar essas dificuldades, serve como uma forma de vestibular que nos mostrará capazes de entrar na harmonia consciencial ou permanecer na desarmonia infernal até que consigamos passar por essa prova.      


Publicado por Sióstio de Lapa em 26/05/2017 às 17h09


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr