Meu Diário
31/10/2017 02h07
PAI E FILHO

            A relação pai-filho no contexto evangélico é de grande importância. É o motor que faz funcionar a engrenagem familiar, onde os pais tem a obrigação de passar aos filhos seus valores éticos.

            Este é o mecanismo que devemos esperar dentro do contexto da família tradicional. Acontece que o cristianismo trouxe novos conceitos bem mais amplos que aqueles da família nuclear; trouxe os conceitos do Reino de Deus e da família Universal.

            Para aplicar os conceitos da Família Universal, com base na fraternidade, temos que desprestigiar a Família Nuclear, cheia de atitudes egoístas. Como fazer essa transposição de uma forma de família para outra? No livro “Ave Cristo” observamos um trecho de um emissário espiritual que tenta orientar Varro (pai) quanto a sua relação com Taciano (filho) que nos dar certa orientação quanto a isso:

            “- Varro, meu filho, por que desanimas, quando a luta apenas começa? Reergue-te para o trabalho. Fomos chamados para servir. Divino é o amor das almas, laço eterno a ligar-nos uns aos outros para a imortalidade triunfante, mas que será desse dom celeste se não soubermos renunciar? O coração incapaz de ceder em benefício da felicidade alheia é semente seca que não produz.

            O emissário espiritual fez uma pausa ligeira, como a impor ordem à enunciação dos próprios pensamentos e continuou:

            - Taciano é filho do Criador, quanto nós mesmos. Não reclames dele aquilo que ainda não pode te dar. Ninguém se faz amado por meio da exigência. Dá tudo! Aqueles que desejamos ajudar ou salvar nem sempre conseguem compreender, de pronto, o sentido de nossas palavras, mas podem ser inclinados ou arrastados à renovação por nossos atos e exemplos. Em muitas ocasiões, na Terra, somos esquecidos e humilhados por aqueles a quem nos devotamos, mas, se soubermos perseverar na abnegação, acendemos no próprio espírito o abençoado lume com que lhes clareamos a estrada, além do sepulcro! ... Tudo passa no mundo... Os gritos da mocidade menos construtiva transformam-se em música de meditação na velhice! Ampara teu filho que é também nosso irmão na eternidade, mas não te proponhas escraviza-lo ao teu modo de ser! Monstruosa seria a árvore que se pusesse a devorar o próprio fruto; condenável seria a fonte que tragasse as próprias águas! Os que amam, sustentam a vida e nela transitam como heróis, mas os que desejam ser amados não passam muitas vezes de tiranos cruéis... Levanta-te! Ainda não sorvestes todo o cálice. Além disso, a Igreja, casa de Jesus e nossa casa, espera por ti... Os que batem à porta consternados e desiludidos, são nossos familiares igualmente... Esses velhos abandonados que nos procuram tiveram também pais que os adoravam e filhos que lhes dilaceraram o coração... Esses doentes que apelam para a nossa capacidade de auxiliar conheceram, de perto, a meninice e a graça, a beleza e a juventude! ... Nossas dores, meu amigo, não são únicas. E o sofrimento é a forja purificadora, na qual perdemos o peso das paixões inferiores, a fim de nos alçarmos à vida mais alta... Quase sempre é na câmara escura da adversidade que percebemos os raios da Inspiração divina, porque a saciedade terrestre costuma anestesiar-nos o espírito...

            São essas lições muito importantes na relação pai-filho. As vezes queremos ficar contrariados por perceber que nossos filhos não seguem a nossa orientação como desejamos e achamos correto. Mas devemos entender que eles também tem livre arbítrio e com o concurso da inteligência podem abrir seus próprios caminhos, que podem ser bem diferentes dos nossos. Mas, se estamos corretos, é a nossa prática enquanto pais que irão promover neles a reflexão necessária para uma tomada de posição mais coerentes com a Verdade.


Publicado por Sióstio de Lapa em 31/10/2017 às 02h07


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr