Meu Diário
12/12/2017 08h47
CÓDIGOS E PADRÕES

            O posicionamento do autor, Dan Brown, no seu livro “Origem”, mesmo parecendo ateu, traz uma compreensão de Deus muito parecida com a que desenvolvo. Vejamos como ele coloca a questão no diálogo abaixo que o seu personagem, Robert Langdon, desenvolve com Ambra:

            - Códigos e padrões são coisas bem diferentes. E muitas pessoas confundem as duas. No meu campo de estudos é crucial entender a diferença fundamental entre elas.

            - E qual é?

            Langdon parou de andar e se virou para Ambra.

            - Um padrão é uma sequência nitidamente organizada. Os padrões acontecem em toda parte na Natureza: a espiral das sementes de girassol, as células hexagonais de um favo de mel, as ondulações circulares num lago quando um peixe salta, etc.

            - Certo. E os códigos?

            - Os códigos são especiais – disse Langdon, aumentando o volume da voz. – Por definição os códigos devem carregar informação. Devem fazer mais do que simplesmente formar um padrão; devem transmitir dados e significado. Alguns exemplos de códigos são a linguagem escrita, a notação musical, as equações matemáticas, a linguagem de computador e até símbolos simples como o crucifixo. Todos esses exemplos podem transmitir significado ou informação de um modo que as espirais dos girassóis não podem.

            Ambra captou o conceito, mas não como ele se relacionava com Deus.

            - A outra diferença entre códigos e padrões – continuou Langdon – é que os códigos não ocorrem naturalmente no mundo. A notação musical não brota de árvores e os símbolos não se desenham sozinhos na areia. Os códigos são invenções deliberadas de consciências inteligentes.

            Ambra assentiu.

            - Então os códigos sempre têm uma intenção ou uma percepção por trás.

            - Exato. Os códigos não aparecem organizadamente. Devem ser criados.

            Ambra o examinou por um longo momento.

            - E o DNA?

            Um sorriso professoral apareceu nos lábios de Langdon.

            - Bingo – disse ele. – O código genético. Esse é o paradoxo.

            Ambra sentiu uma empolgação. O código genético obviamente carregava dados, instruções específicas sobre como construir organismos. Segundo a lógica de Langdon, isso só poderia significar uma coisa.

            - Você acha que o DNA foi criado por uma inteligência!

            Langdon levantou a mão fingindo se defender.

            - Ei, vamos com calma! – disse rindo. – Você está pisando em terreno perigoso. Só me permita dizer o seguinte. Desde que eu era criança, sempre tive uma sensação profunda de que há uma consciência por trás do Universo. Quando testemunho a precisão da matemática, a confiabilidade da física e as simetrias do cosmo, não me sinto observando a ciência fria. Sinto que estou vendo uma pegada... a sombra de alguma força maior que está fora do nosso alcance.

            Ambra podia sentir o poder das palavras dele.

            - Eu gostaria que todo mundo pensasse como você – disse finalmente. – Parece que brigamos muito por causa de Deus. Todo mundo tem uma versão diferente da verdade.

            - E é por isso que Edmundo esperava que a ciência pudesse um dia nos unificar. Nas palavras dele: “Se todos adorássemos a gravidade, não haveria discordância sobre para que lado ela puxava.”

            Pois é... este é o meu pensamento descrito de outra maneira, mas bastante próxima. Esta “sombra de alguma força maior” que está fora do nosso alcance, já está designado como um dos diversos nomes de Deus: Força Maior, Poder Superior, Alá, Jeová, Krishna, etc. Tenho apenas um reparo a fazer. Dan Brown tem a sensação que esta força está por trás do Universo; eu entendo que ela está por trás e em qualquer lugar, inclusive dentro de nós.  


Publicado por Sióstio de Lapa em 12/12/2017 às 08h47


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr