Meu Diário
22/12/2017 00h50
AMOR MAIS PERFEITO

            São Tomás de Aquino coloca um pensamento na obra, “Contra os Gentios, 4,55 ad 13) que merece profunda reflexão:

            Mais se pratica de modo excelente a virtude, mais se obedece a Deus, e entre todas as virtudes a primeira é a caridade, em relação a qual todas as outras se ordenam. Praticando o ato de caridade do modo mais perfeito possível, Jesus Cristo atinge o grau supremo da obediência a Deus. Com efeito, segundo o ensinamento de São João (15,13), não existe ato de amor mais perfeito que morrer pela salvação de todos os homens e para a glória de Deus, e tal ato atinge o ápice da obediência, no ato do perfeito amor.

            Esse exemplo do Cristo atingir o ápice da caridade ao oferecer a sua vida pela salvação da humanidade, e tentar colocar isso como um exemplo a seguir, traz algumas considerações. O Cristo veio à Terra com essa missão específica, ensinar o amor incondicional até o clímax de sua jornada com a crucificação. Nenhum de nós que veio à Terra traz em si tal missão, não temos categoria espiritual para tanto. Nós somos as ovelhas que devem estudar e aplicar as lições do Cristo. A nossa responsabilidade maior é com nossa evolução que para se desenvolver a contento devemos ajudar ao próximo sempre que possível. Isso não quer dizer que devamos dar a nossa vida pela do próximo, pois se isso se repete continuamente em cada encarnação, onde estaremos evoluindo, se cada uma dessas evoluções é interrompida pela morte precoce em função de alguém? No caso de Jesus ele deu a vida para a salvação da humanidade, pois essa era a sua missão, aceita pela pureza do seu espirito. Em nosso caso, não temos tal pureza espiritual, pelo contrário, temos que aprender muito e a nossa vida e preciosa para esse aprendizado.

            Vamos criar um exemplo hipotético, onde um trabalhador tem que ir ao seu emprego todos os dias, tendo que passar por uma rua mal iluminada, provável de encontrar com marginais dispostos a roubar e matar. Esse trabalhador porta uma arma e no momento da agressão ele pode ter a chance de sacar a sua arma e se defender, matando o bandido antes de ser morto. Está ele errado? Era para deixar o bandido lhe matar e atingir os seus objetivos mórbidos, ou o que seja. O trabalhador deixaria de continuar a sua existência, deixaria de cuidar dos seus dependentes? Apenas para cumprir o item bíblico do não matarás?

            Sinceramente, não vejo nenhuma lógica nos argumentos que impeçam do trabalhador salvar a sua vida tirando a vida do assassino.

            Pego um exemplo mais forte: será que José, tendo uma espada ao seu lado, vendo um dos soldados de Herodes pegando o seu recém-nascido, Jesus, para mata-lo conforme a ordem recebida, deixaria o seu filho morrer, por não querer matar o soldado? Nessa hipótese não teríamos o Mestre do Amor vivo para chegar aos 30 anos e ensinar suas lições que hoje faz a gente pensar dessa forma tão pacífica que destrói o nosso potencial de vida.

            Essas são minhas considerações que, mesmo sendo politicamente incorretas frente aos princípios evangélicos, não consigo pensar diferente.


Publicado por Sióstio de Lapa em 22/12/2017 às 00h50


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr