Meu Diário
19/09/2018 23h59
ABANDONO... OU NÃO?

            Quando a tristeza domina o colorido da nossa mente, quando as aspirações acalentadas anos a fio se transformam em amargura, quando experimentamos profundas nostalgias, quando desfilam na mente os quadros que marcam o espírito com os sulcos vigorosos da decepção, sentimos assim uma tristeza constante. Esse é um veneno interno que pode nos matar lentamente.

            Podemos sofrer agressões psicológicas, de amigos enganados que nos enganam; de irmãos insensatos que nos ofendem; de bocas irresponsáveis que nos atingem com maledicências; de mãos, ditas protetoras, que enodoam nossa honra; de corações que pareciam afeiçoados e que seguem adiante sem a gratidão dos fatos passados... então, sentimos o abandono!

            Vem à mente cenas inesquecíveis de promessas ardentes, testemunhos de afeição, olhares incendiados de entusiasmo, emoções explodindo em palavras fáceis que teciam grinaldas de ternura, e aí, perguntamos sentindo a solidão: onde estão os amigos, os amantes de outrora?

            Surge um temor dentro de nós, pois o peso de mil deserções se acumula sobre a nossa fragilidade e tememos pelo que possamos fazer com a nossa integridade, com a nossa vida. A tristeza acompanha os nossos passos e toca monótona balada que vagarosamente nos domina. Nossos sonhos de júbilo correm para o abismo dos desencantos. Passamos a crer que não resistiremos por muito tempo. Fraco é o bastião de nossa fé, poderosa é a força que nos ameaça.

            Mas... reflitamos: além do que consideramos o nosso jardim, transportemo-nos para além das fronteiras da nossa dor. Perdemos amigos e admiradores, fugiram afetos e simpatizantes? Mas em verdade nunca os tivemos conosco.  Eram apenas companheiros da oportunidade. Faziam algazarra, comungavam presença, fora, todavia, da realidade que buscávamos.

            Onde estaria nossa realidade? Sim, na solidão com a verdade. Pagando o tributo valioso que exige a liberdade. Encarando o preço elevado que impõe o dever. Uma soma significativa deve ser oferecida para o consórcio com o amor – única herança de uma existência modelar.

            Abraham Lincoln dizia que, “Ser feliz não é ter uma vida perfeita, mas deixar de ser vítima dos problemas e se tornar o autor da própria história”.

            Precisamos ouvir alguns conselhos edificantes para não nos desanimar: não nos angustiemos, voltarão mais tarde os que nos deixaram, brilhará novamente o sol dos sorrisos, soarão vibrantes, depois, as palavras em festival demorado de admiração. No entanto, veremos, será tarde para eles, porquanto já não terão aquela mesma pessoa que conheciam e chafurdavam ao lado. Nós lograremos ter mudado o sentido da nossa caminhada em direção aos nossos ideais, às nossas metas.

            Podemos ver alguns exemplos do que estamos falando. Há doentes, como os alcoólicos, cuja gravidade do mal passa despercebida por desconhecerem a doença; há aflições que não enlouquecem por serem ainda desconhecidas dos que as encontrarão logo mais; há delinquentes que não conseguem evoluir por teimar em desconsiderar o crime que cometem; e, há solidões escondidas na balbúrdia, de pessoas que se cercam de fantasias.

            Podemos tirar as seguintes conclusões: por mais que todos desejem ignorar o drama que trazem consigo, nem por isso mesmo conseguirão passar na caminhada evolutiva sem o despertamento de que o sofrimento é ferramenta para a felicidade. Mais infelizes são todos esses, cujo amanhã está assinalado por pesadas sombras, aguardando por eles, e que ignoram as leis da vida... nós, porém, embora chorando e sofrendo, cremos sim, já travamos contato com a fé, aprendemos sobre o amor e a justiça e somos agora amigos da esperança.

            Conservemos o óleo da certeza para manter a luz do dever e assim esperar o raiar do dia, após noite tempestuosa e demorada. Os sofrimentos são úteis, pois são os estímulos para a evolução. Quem não sintoniza com essa perspectiva da vida eterna, da evolução espiritual, sofre inutilmente.

            Não esqueçamos o grande exemplo que o Cristo nos deixou, pois ninguém poderia supor que a multidão exaltada que seguiu o Mestre na entrada de Jerusalém, foi a mesma que entoou o coro para a crucificação; ninguém poderia supor que aquelas bocas que o aclamavam quando viam cegos recuperarem a visão, paralíticos recobrarem os movimentos, surdos recomporem os ouvidos, mudos voltarem a falar e leprosos sararem ao contato daquela voz e daquelas mãos, seriam as mesmas bocas estertoradas que O exortariam, irônicas e sarcásticas, a sair da Cruz; ninguém poderia supor que, embora abandonado na Terra, o Pai Celeste estava com Ele, sem o deixar a sós; nem que depois de uma tarde de tempestade e de uma longa noite, Ele voltaria vitorioso sobre todos e tudo, para continuar o ministério junto aos que O abandonaram.

            Esta é a essência da lição, mesmo abandonado por tantos, ingratos, ignorantes, hipnotizados pelo mal e/ou corruptos, nunca estaremos a sós, se cumprimos a Lei do Amor, sempre teremos conosco a luz do Pai Divino, e voltaremos quantas vezes for necessário para resgatar os irmãos perdidos nas raias da ignorância, ao lado do nosso comandante nessa batalha espiritual: Cristo!


Publicado por Sióstio de Lapa em 19/09/2018 às 23h59


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr