Meu Diário
30/10/2019 23h59
COMO UMA DEUSA – ROSANA

            Senti a vontade de interpretar a letra de uma canção, “O amor e o poder (The Power of Love), ou “Como uma deusa” de Rosanah Fienngo. Vejamos.

A música na sombra,

O ritmo no ar

Um animal que ronda

No véu do luar

            Evocação do amor romântico, como sempre acontece com as letras das músicas populares brasileiras. Cita a música como o pano de fundo do que vai acontecer, ela está na sombra, no ar, como um animal que ronda o que vai acontecer. Mas a cena romântica está preparada com a participação alcoviteira do luar. 

Eu saio dos seus olhos

Eu rolo pelo chão

Feito um amor que queima

Magia negra

Sedução

            Bela imagem de um amor platônico. A pessoa sente o olhar romântico que a atinge, um amor que não lhe deixa indiferente, que mesmo fugindo a esse olhar permanece sentindo seus efeitos com muita intensidade, que não consegue se livrar, mesmo rolando pelo chão sente o calor das labaredas. Está sendo queimada por esse fogo invisível que parece magia negra. Mas reconhece que é uma sedução que como magia negra a está deixando tão afetada. Melhor seria dizer Magia Branca, pois traz nela o bem, não o mal.

Como uma deusa

Você me mantém

E as coisas que você me diz

Me levam além

            Aqui a pessoa se identifica como mulher. Aquele olhar de sedução que funciona como magia, queimando o seu corpo, despertando seus desejos, funciona como a ação de um crente frente á sua deusa. É nesta posição que o enamorado a mantém, como uma deusa. As coisas que ele diz para ela conduzem a sua alma para espaços paradisíacos, inesperados, inesquecíveis.

Aqui nesse lugar

Não há rainha ou rei

Há uma mulher e um homem

Trocando sonhos fora da lei

            Por um instante ela foge desse sonho de realeza e tem a consciência que onde estão não há espaço para rainha ou rei, ou vassalo, súdito. O que existe é um homem e uma mulher trocando sonhos, com olhares e palavras de sentido embutido. Por que embutido? Porque são sonhos de romance fora da lei, que não podem ser explícitos. Eles existem na imaginação de cada um e que nem ao menos podem ser confessados de um para o outro. Ambos podem estar construindo um sonho que já nasce preso pelos padrões culturais, sob a vigilância carcereira da consciência, de não fazer o mal a ninguém, principalmente quem se quer bem.

Como uma deusa

Você me mantém

E as coisas que você me diz

Me levam além

            Mas como é boa a sensação de divindade. Mesmo sabendo da realidade em que vive, se permite viver esse sonho de deusa, pois afinal o que o sonho não manifestado pode fazer de mal? Os enamorados nessa plataforma platônica curtem o sonho cada um á sua maneira. Ela é a deusa, ele é o devoto. 

Tão perto das lendas,

Tão longe do fim

A fim de dividir

No fundo do prazer

O amor e o poder

            Ela sente que vive na intimidade um mundo de fantasia, mas com um pé dentro da realidade. Vive a construção de uma lenda que está longe de ter fim, pois cada vez mais se fortalece a sensação de prazer. Tem a intuição de que este sonho é dividido e que ela é a fonte desse poder que evocou a força do amor romântico, que provoca a magia a sedução, toda energia capaz de construir deusas e realezas.

A música na sombra

O ritmo no ar

Um animal que ronda

No véu do luar

Tão perto das lendas,

Tão longe do fim

A fim…

            Ela continua ouvindo a música sedutora nas sombras dos padrões culturais em que vive. Mas o ritmo do amor imprimido pelo olhar continua fortemente no ar. Tudo conspira a favor: a luz do luar, mesmo não sendo possível aproveitá-la integralmente dentro do romance; a construção de uma lenda que talvez um dia possa vir á lume; e a perspectiva de durabilidade dessa experiência que se fortalece a cada dia pela força energética do amor romântico e supervisão do amor incondicional.


Publicado por Sióstio de Lapa em 30/10/2019 às 23h59


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr