Meu Diário
02/11/2019 00h01
DOIS OU MAIS (29)

João Evangelista ficou à direita de Jesus no seu reino de amor, aquele que de fato possuía amor por tudo. João e Tiago, filhos de Salomé, que pedira ao Cristo por eles e que acompanhou o Mestre até o calvário. Findou seus dias em Éfeso, com quase 100 anos e 80 anos de vivência cristã. Compreendia que se Deus e Jesus eram um, ele e Cristo eram dois que poderiam também ser dois.

João não tinha conflitos íntimos, seus problemas eram só exteriores. Os que vinham ao seu encontro por dentro eram imediatamente sanados por não encontrarem ressonância em seu modo de ser. Admirava que seus companheiros fossem amarrados na intimidade por simples fatores que para ele não tinha importância. O tempo o ensinou a respeitar os direitos alheios, na sequência que a vida propõe a todos, nas múltiplas diferenciações.

Gostava muito de Jerusalém, passava horas e horas desde menino dentro dos templos, sondando as belezas e sentindo algo que somente os místicos podem compreender. Em certos casos os olhos deixam escapar muitas verdades espirituais. No entanto a sensibilidade da alma parecem ser olhos que enxergam além dos olhos físicos, com uma precisão absoluta. João sentia o ambiente dos anjos nas sinagogas e parecia que conversava com a atmosfera do ambiente religioso.

Certa vez, o sacerdote Azia-Car, vendo o menino João dentro do templo em hora imprópria, advertiu-o que saísse nesses termos:

- Meu filho, aqui é uma casa de Deus. É bom que não fiques muito tempo dentro dela, para que não venhas a esquecer o teu dever com teus pais.

- Doutor, se esta é a casa de Deus, como pode fazer mal às pessoas? Eu sei que este ambiente deve ser respeitado por todos nós. E faço isso com toda a alegria. Isso é errado, meu senhor?

- Não, não... Claro que não. Pode ficar. Eu pensei que...

À noite, como de costume, os discípulos se reuniram em Betsaída e João teve oportunidade de fazer a pergunta a Jesus:

- Mestre, anunciastes certa vez, que onde houvesse duas ou mais pessoas em teu nome estarias no meio delas. Para nós, da tua família do coração, o que isso significa? Como poderias estar no meio dos que se reúnem em teu nome se os discípulos se dividissem e saíssem a pregar por muitos lugares?

Cristo responde com serenidade:

- João, quando as coisas que falo não fazem sentido ao pé da letra, é necessário que busques o espírito para que possas entender. Tu bem sabes que vim da parte de Deus e que legiões de anjos estão a me servir. Não falo de mim, mas daquele que me enviou. Eu e Ele somos verdadeiramente um.

‘Onde eu estiver o Pai estará comigo. A vontade do nosso Pai é uma ordem em todos os reinos celestiais. Quando se reunirem em meu nome, duas ou três pessoas, aí se trava um diálogo compensador, eu estarei no meio delas por meio das luzes celestiais dando-lhes apoio, inspirando-as e motivando-as para o amor de Deus e de uns para os outros. Ainda mais, qualquer anjo que serve comigo a grande causa de Deus, pode tomar a minha presença e se apresentar como se fosse eu porque nós somos iguais pelos sentimentos de amor que nos unem.

‘Certamente podemos estar em lugares onde as pessoas não se reúnem em nosso nome, e é provável que nos achemos em ambientes até contrário ao Evangelho. Entretanto, estar no meio daqueles que falam a nossa mesma linguagem espiritual, que deixam pulsar o coração pelo bem estar alheio, que se alegram em matar a fome, que tem prazer em visitar e consolar os presos, que vestem os nus, que procuram entender os problemas das viúvas, ajudando-as, sem que o interesse distorça as boas intenções. Estar no meio dos irmãos que procuram doar as instruções espirituais e do mundo, visando somente o prazer de servir por amor, com esses estamos neles e eles em nós, para que possamos juntos gozar as delícias da vida, nas delícias de Deus.

‘João, não leves tudo para os extremos, porque ouvistes de mim o que foi dito. Eu sou eu mesmo e estou no meio dos que se reúnem em meu nome, porque é o mesmo nome do Pai que está nos céus. Deixo este corpo a hora que aprouver ao Senhor. Não há barreiras para quem está de posse da Verdade e não existe dificuldade para quem se faz uno com o Todo Poderoso. Posso aparecer em milhares de lugares, dividir-me ao infinito, sem perder a consciência de onde me apresento e lembrar-me de tudo o que o dever me exige.

‘Vós todos podeis fazer o que eu faço, dependendo de alcançar a minha morada e pagar o preço que eu cedi pela força do despertar espiritual. Não penseis que darei qualidades que somente o Senhor pode dar. O que faço é despertar o que já existe na alma de cada criatura. Eu sou alguém de fora, mas posso ser algo de dentro, com mais realidade, no sentido de que vos liberteis para sempre e que a eternidade possa fazer-vos mais felizes comigo.

‘À ciência do amanhã podereis dar testemunho das coisas que eu vos falo, mas nunca podereis fazer na perfeição em que podemos viver. O meu prazer de levar a fé aos vossos corações é muito grande, para que possais crer sem vacilar, de que não vos abandonarei, nem vos deixarei órfãos nas perseguições e nos sacrifícios que requerem todas as subidas.

‘A Boa Nova, meus filhos, é muito cara para os corações. Custa alto preço a sua disseminação pelo mundo, por encontrar resistência por todos os lados em que a ignorância se faz presente.

A melhor maneira de propagar o Evangelho: o combate, pois anuncia mais alto. Aquele que perseverar até o fim será salvo das impurezas da Terra. E eis que, daqui a pouco, podereis pregar as Novas que estou anunciando por toda parte. Estarei convosco eternamente. Quando eu for para meu Pai, pedirei a Ele, e Ele enviará para vós outros consoladores, que ficarão com todos no alinho da eternidade, como sendo eu em vós e vós em mim, e eu em Deus.

A João parecia que tinha se acendido uma lâmpada em seu coração.


Publicado por Sióstio de Lapa em 02/11/2019 às 00h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr