Meu Diário
06/12/2019 00h05
VIVER (33)

Simão era membro dos zelotes, seita e partido político judaico fundado por Judas, o galileu, na Galiléia. Desencadeou a revolta da Judeia à época de Tito (imperador romano, 79-81). Os zelotes constituíam a ala radical dos fariseus e preconizavam Deus como o único dirigente, o soberano da nação judaica, opondo-se à dominação romana. Seus sentimentos se aproximavam mais de um interesse coletivo, sem que o seu próprio interesse fosse notado.

Simão via o sofrimento do povo sob o peso exorbitante dos impostos, que gerava revolta nos corações. O Partido da situação vendo nisso um perigo, montou uma armadilha, exterminando o general das ideias, Judas, o galileu. Após isso, as linhas de conduta tomaram outros caminhos, chegando a subversão ser o foco. Dessa forma, Simão, o cananeu, passou a se desinteressar por esse movimento que antes lhe tocava o coração.

Conhecia muitas leis que asseguravam a vida em muitas nações. Procurava ir às sinagogas para ficar à parte de todos os movimentos políticos-religiosos. Ouvira falar do Cristo, mas logo imaginou que ele seria mais um a ser destruído como fora Judas: “morreu o chefe, desfaz-se as ideias”. Considerou Jesus da mesma linha de muitos.

Mais algumas semanas passaram, Simão ouviu falar novamente do Mestre, e a curiosidade fê-lo inteirar-se de sua doutrina. Sentiu que suplantava todas as outras já conhecidas por ele. Era um homem inteligente que sabia medir conceitos e analisar fatos.

Simão era consciente que sua missão era de defesa dos fracos e oprimidos. Defender a vida dos que sofriam. Antes precisava saber o que significava “Viver” – e para que Viver, pois pretendia entregar sua própria vida em favor dessa ideia, se não fosse realmente uma loucura. Ele se integrou no maior partido que jamais conhecera, por se apoiar em conceitos universais e se basear em ideias que favoreciam a liberdade de todas as criaturas, mostrando direitos e, na mesma sequência deveres de uns aos outros. Tinha qualidades que eram úteis ao Mestre, fazendo chegar o Evangelho a lugares em que somente a coragem e a astúcia educada o poderiam levar, sem o desrespeito das próprias leis. Antes de conhecer Jesus, a meditação lhe fazia mal por enxergar em tudo destruição, ataque dos fortes vencendo os fracos. Tudo lhe causava imensa revolta, impacientando-o ainda mais com relação aos seus objetivos. Temia que Roma destruísse aquele homem de Deus, mas depois refletia: mas se Deus está com ele... E assim se entregou de corpo e alma no apostolado.

Chegando à Betsaída, Simão teve oportunidade de perguntar:

- Mestre, quem pensa como eu, precisa saber de certas coisas que as vezes param nosso raciocínio. Às vezes tomamos uma defesa sem saber ao certo o que estamos defendendo. Eu me sinto no dever de defender a vida, seja qual for, mas ainda não entendo o que é Viver, e para que estamos vivendo. Sou o mais necessitado de ouvir a tua fala a esse respeito...

Jesus pensou alguns instantes na pergunta do discípulo, e respondeu:

- Simão, a vida, na sua profundidade não pode ter uma definição repentina. Toda definição de vida nós transferimos para Deus. Deus é vida. Tudo na criação é vida, mesmo estando aparentemente morto. O Senhor do Universo está em tudo e tudo vive com Ele. Nós nos enganamos muito pensando e falando que a vida somente existe onde se manifesta instinto e inteligência, pois ela vibra em tudo, e está permanentemente onde foi criada. Querer saber sobre a vida na sua maior expressão é querer conhecer a Deus na sua essência genealógica, é impossível. Contudo, não devemos parar de aprender, o aprendizado é infinito e um dos nossos deveres é trabalhar para aprender mais do que sabemos. Nunca o Pai nos fecha a porta do saber, desde que esse saber se compare com a nossa estatura espiritual.

‘Simão, o que podes saber é que a vida é movimento. Tudo que se move, vive, nada está na inércia. E se queres viver mais intensamente, movimenta-te mais, desde que esse movimento obedeça às leis divinas. Sentir a vida, Simão, é um princípio de reconhecer Deus como o único doador universal da existência. Já pensaste em uma das menores formigas que existe, quase não alcançada por nossa vista? Pois ela sabe o que fazer e cumpre sempre o seu dever, nunca parando de trabalhar em benefício dela e das outras, que também fazem o mesmo. Isso é vida, isso é Viver. Por enquanto, é bom que não cogitemos sobre isso, mas existem outras vidas trabalhando por toda parte, muito mais, muito menores que a menor formiga, quase invisíveis; mesmo invisíveis por cima da Terra, permanecem com grandes objetivos.

‘Se o teu maior interesse é lutar pela vida e pelas vidas, é bom e justo que não esqueças que somente quem dá a vida é Deus. Se Ele é a Verdade, não precisa, de certo modo, das nossas preocupações para que viva. Temos um campo enorme de trabalho, mas não em criar, nem tampouco em ter medo de que essas vidas possam vir a perecer. Foi para isso e para coisas similares que desci à Terra, trazendo meios mais fáceis de refletir a Verdade para todos vós, de modo que compreendais os vossos deveres mais de perto, para que possais ajudar sem sofrer, consolar sem perturbar, amar sem paixão.

‘Para mostrar o que poderemos fazer, notemos uma simples sementinha de mostarda, quase invisível aos nossos olhos e de difícil apalpação. Verdadeiramente vos digo que, nem juntando todos os sábios do mundo poderiam fazê-la com a vida que tem. E mesmo desse tamanho, ela cresce na terra e se multiplica à vista dos céus e das estrelas. Esse segredo está nas mãos do Criador e nós vamos avançando para Ele gradativamente.

‘Já pensastes que quando éreis criança sabíeis muito menos que agora? Pois de agora em diante podereis aprender mais, num aprendizado que tem os caminhos do infinito, esticando até Deus.

Simão, se a vida, na verdade, necessitasse da nossa defesa para prosseguir, ela já não existiria desde a sua criação, nem Deus seria Deus. Já meditaste, meu filho, no que podes fazer por ti mesmo? Já procuraste estudar o que tens feito até hoje pela tua própria defesa? Se ainda estás em dúvida sobre quase tudo, por que se apresentar como defensor de uma coisa que ainda não entendes? Defender o que? Se não tens consciência de um simples buraco onde resvala o pé? Queres proteger a vida dos outros, quando a tua, por vezes, está ameaçada por inúmeras irreverências que a tua mente engendra por não saberes o certo para ti mesmo? Se fores à guerra, tens o general que comanda, porque não sabes o que fazer. Pois bem, o nosso general maior é Deus, criador de tudo.

‘Deus é quem nos dirige em todos os pormenores e é Ele mesmo que sabe preservar a vida que criou. Nós somos Seus filhos, carecendo do Seu amparo para continuar a Viver. Ainda somos inconscientes na arte de criar. Aqueles que despertaram para o Amor, esses servem de instrumentos nas mãos da sabedoria espiritual, para ajudar os da retaguarda a aprenderem a andar, a andar para servir, a servir para melhorar, e para melhorar acordando em si todos os dons da vida, para que Deus, essa força universal se faça explodir dentro das criaturas e elas possam entender os princípios da vida, mesmo que não possam ou não saibam dar explicações sobre o que é Viver. Eis que estamos todos juntos, por vontade de Deus, e é de nosso dever saber Viver bem, compreendendo os ensinamentos da Boa Nova do Reino, da qual nos fazemos portadores para a Terra. Ela constitui semente de valor maior, competindo a nós semear e dar assistência, nos moldes da Natureza, porque seu nascimento, crescimento e frutos pertencem Àquele que criou a própria vida universal: Deus. Viver, Simão, é amar, pois o Senhor nos fez por amor.


Publicado por Sióstio de Lapa em 06/12/2019 às 00h05


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr