Meu Diário
30/12/2019 00h29
DOIS PAPAS (04-MUDANÇA)

            No filme da Netflix, baseado em fatos reais, são apresentados diálogos interessantes entre o papa Bento XVI e o cardeal Jorge Bergoglio, que é importante vermos e refletirmos. Vou ter a permissão de entrar na conversa, como uma ovelha disposta a aprender com meus pastores, podendo colocar minhas opiniões e dúvidas sobre o que se está tratando. Deixo a mesma permissão aos meus leitores, e principalmente nas críticas por minhas intervenções.

            O Cardeal Jorge Bergoglio, da Argentina, continua a conversar com o papa Bento XVI em sua residência de verão, caminhando ambos pelo jardim.

            -J – Parece que não fazemos mais parte deste mundo, não pertencemos a ele, não estamos conectados.

            -B – “Uma igreja que se casa com uma era...”

            -J – “Ficará viúva na próxima era.” Eu sei. Santo Padre...

            -B – Quando era chefe dos jesuítas na Argentina, você retirou os livros marxistas da biblioteca.

            -J – E fiz seminaristas usarem batinas o tempo todo, até quando estavam trabalhando na horta, e disse que o casamento dos homossexuais era um plano do diabo.

            -B – Você se parece comigo.

            -J – Não. Eu mudei.

            -B – Você fez concessões

            -J – Não fiz concessões. Eu mudei. É bem diferente.

            -B – Mudança é compromisso.

            -J – A vida que Ele nos deu é mudança. Você é sucessor de São Pedro, e São Pedro foi casado.

            -B – Ah, obrigado pela informação, eu não fazia ideia.

            -J – Não havia o celibato até o século 12. Os anjos só foram mencionados a partir do século quinto, e de repente estão por toda parte, como pombos. Nada é estático na natureza nem no universo, nem mesmo Deus.

            -B – Deus não muda.

            -J – Muda, sim. Ele evolui. Ele se move.

            -B – E onde O encontramos, se Ele está sempre se mudando? Eu sou o caminho, a verdade e a vida. E onde O encontramos, se ele está sempre mudando?

            -J – No caminho?

O mundo está sempre mudando, evoluindo. Os caminhos por onde deve acontecer essa mudança são variados, podemos escolher com o nosso livre arbítrio. Como somos ainda muito ignorantes, a maioria das vezes estamos entrando em caminhos errados, baseados em nosso egoísmo que anula a vontade de Deus dentro de nossa consciência. Por isso a necessidade de estarmos sempre mudando, para corrigir os erros que o tempo nos faz perceber. Isso não quer dizer que Deus também tenha essa necessidade de mudança, de corrigir erros, pois por definição Deus é perfeito, não cabe erros por ignorância, como cabe a nós.

            Nesse ponto o Cardeal Jorge está equivocado. Deus não pode mudar. O que muda é nossa compreensão de suas leis. Se o mundo está mudando, cabe a igreja refletir dentro das lições cristãs, das leis do amor. Essa mudança que ocorre no mundo está coerente com a lei do amor, com a vontade de Deus? Não é porque uma maioria segue determinada tendência que eles estão corretos. A voz do povo não é a voz de Deus, lembremos a eleição que ocorreu, promovida por Pilatos, entre Jesus e Barrabás... quem venceu? Em quem aquela multidão que estava com interesses egoístas votou?

            Portanto, a mudança ou fazer concessões dentro de um mundo em transformações, deve seguir a opinião da maioria para não perder os fiéis? Ou devemos ver se essas mudanças estão coerentes com a vontade de Deus, com a lei do amor? O Cardeal Jorge confirma que baniu os livros marxistas da biblioteca, que usava a batina em todas as ocasiões, e que considerava o casamento homossexual dentro da igreja uma coisa do demônio. Mas ele diz que mudou esse comportamento, porque mudou sua forma de pensar. Usar a batina somente em alguns momentos e permitir o casamento homossexual dentro da igreja, agora pode ser correto? Bem, essas duas atitudes podem ser corrigidas, se existe a compreensão que a igreja está sendo muito severa, pois isso depende da aceitação dos membros da igreja. Mas, o marxismo que antes ele condenava como errado agora é uma coisa certa aos olhos de Deus? Esta é uma ideologia que surgiu fora da igreja e que assumiu métodos contrários ao cristianismo. Será que o marxismo de ontem mudou a sua forma de alcançar o poder e mantê-lo? Será que se aproximou do ideal cristão na sua tática e estratégia? Os países que se tornaram comunistas vivem uma sociedade mais próxima do Reino de Deus ou mais distante? São essas reflexões que merecem ser feitas por um pastor da igreja católica apostólica romana, pois se notar que a influência comunista consegue conquistar a maioria dos fiéis, o pastor deve se colocar sob o exemplo do Bom Pastor, e seguir o exemplo dos primeiros cristãos, que não se importavam com os apupos da maioria e entravam cantando nos circos romanos para serem trucidados pelas feras ou queimados vivos.

            Hoje vivemos este drama, o rebanho de ovelhas segue escravizadas, tosquiadas pelos lobos, hipnotizadas pelos seus uivos camaleônicos repetitivos e a única esperança é que o seu Pastor não se torne também hipnotizado. Por isso considero importante a reflexão do Cardeal Jorge sobre isso, pois ele irá se tornar o Pastor que as ovelhas esperam para seguir as lições do Cristo.  


Publicado por Sióstio de Lapa em 30/12/2019 às 00h29


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr