Meu Diário
23/05/2020 00h22
A MENTIRA

            Assistindo ao filme “Últimos dias no Deserto”, na Netflix, encontrei uma frase que merece nossa reflexão: a mentira machuca quem a conta. 

            Nesses dias de batalha espiritual onde a arma das forças do mal é a mentira, e onde muitos combatentes do outro lado terminam por usa-la também, verificamos o erro que isso se torna. Se combatemos com as armas do mal, estamos identificados com as trevas. Não podemos fazer assim, nem dentro da arena de combate, propriamente dita, como em nossos relacionamentos onde a tendência de praticar mentiras para evitar conflitos é uma constante.

            Evitar conflitos é importante para a harmonia dos relacionamentos. Acontece que nós possuímos muitos interesses egoístas que geralmente se chocam uns contra os outros e inevitavelmente causa conflitos.

            Desde cedo, intuitivamente, procurei praticar a verdade nos meus relacionamentos, que, com o meu amadurecimento espiritual essa prática foi cada vez mais se refinando. Hoje tenho o maior cuidado de não praticar mentiras em nenhum tipo de meus relacionamentos, principalmente no relacionamento íntimo, onde a força do egoísmo ligado ao sexo é muito forte na forma de apego. Então, praticar a verdade nesse contexto é forte fonte de conflito.

            Lembro que quando comecei a perceber a mudança de paradigmas no meu relacionamento conjugal, da exclusividade do relacionamento íntimo para a abertura com outros parceiros, onde tanto eu como a minha esposa teríamos liberdade para isso, foi um grande conflito para ela, pois a sua mente não tinha operado essa mudança. Mas o que eu achava correto fazer dali para frente, não poderia deixar de fazer, já que eu achava correto, mesmo que não fosse e ela tivesse razão de contestar. Mas usei a verdade, e por continuar praticando aquilo que considerava correto, mas ela não, e ela tinha o apoio da família e da cultura explícita, terminou por me expulsar de casa. Foi um conflito severo causado pela verdade que eu apontei, ao invés de fazer como a maioria, que tem o mesmo comportamento, mas usa a mentira para evitar o conflito. 

            A partir daí todas as pessoas que se aproximam de mim, conhecem no primeiro instante essa minha forma de pensar; procuro dizer antes de ser gerado qualquer afeto sobre bases falsas. Mesmo elas aceitando a condição, observo que o sofrimento que elas apresentam quando percebem pelo menos a possibilidade de meu envolvimento íntimo com outra pessoa, é grande, e gera conflitos. 

            Uso a estratégia da omissão desses encontros afetivos “extraconjugais” para evitar o conflito, mas se for questionado sobre o assunto e a pessoa exigir uma resposta direta, a verdade será dita, mesmo que tenha o poder de causar o forte conflito e romper o relacionamento. Isso dói muito na pessoa que me expulsa da sua vida, como também dói muito em mim. Mas este é o compromisso espiritual que tenho comigo e com o Pai e que se eu romper o machucado em minha alma será muito mais profundo.

            Então, a frase dita no filme se aplica perfeitamente ao meu comportamento que está comprometido com minha evolução espiritual: a mentira machuca quem a conta. É um machucado na alma, que ninguém pode ver, mas pode nos desviar do caminho em direção ao Pai. 


Publicado por Sióstio de Lapa em 23/05/2020 às 00h22


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr