Meu Diário
19/10/2022 00h01
UMA POESIA EVOLUTIVA

            Uma mensagem espiritual... Uma reflexão material...



Não se consegue precisar, com absoluta certeza, quando surgiram nas vastidões terrestres os primeiros agrupamentos de hominídeos. Pesquisadores e arqueólogos, vem exumando das entranhas do solo, fósseis e esqueletos, objetos primitivos e carvões de fogueiras ancestrais que hão admitido que estamos vagando no mundo a aproximadamente 10 milhões de anos. Desde o surgimento dos primatas, seguindo-se os elementos macacóides e sua evolução para formas mais avançadas, temos no laboratório da natureza primoroso altar onde o mármore grosseiro da evolução material foi e continua sendo lapidado de maneira incessante.



A dentição saiu da grosseria e do primitivismo para o atual conjunto de 32 dentes na boca, o conjunto cerebral sofreu profundo aperfeiçoamento para registrar cores e sons, os olhos passaram por lapidação cuidadosa dos prepostos do Cristo de Deus para enxergarem além das paisagens desérticas do paleolítico, permitindo mais dilatada permanência do Espírito imortal na argamassa orgânica em que se agita, nas tramas da evolução.



O córtex cerebral, expandindo suas diversas funções facultou, ao longo de milhares de séculos, melhor capacidade de apreensão do campo sensório, outorgando ao ser mais dilatada interação com as forças espirituais que o cercavam continuamente. De um pensamento quase que estritamente refém das sensações grosseiras, descontínuo e assinalado por baixas vibrações, o cultivo do pensamento religioso, os primórdios da filosofia e o culto aos antepassados, seja nas cavernas ou posteriormente nos templos do politeísmo ancestral, fizeram com que a sede de saber se dilatasse além dos estreitos limites da matéria, impondo às civilizações a busca da compreensão da vida e do significado existencial.



Nasce o sacerdócio primitivo, herdeiro e curador de elevados conhecimentos acerca do transcendente.



Não basta consumir proteínas e nutrientes com que o vasilhame carnal seja mantido em sua funcionalidade passageira. O ser tem ânsia de saber porque existe e qual sua destinação após a morte.



Tateando a lousa fria dos mausoléus, a lágrima se lhe fez lixívia que suavizou o olhar para o infinito, apontando-lhe dilatados horizontes além das cartilagens em que se movimenta.



O anseio pelo sagrado o abrasou. A fome de Deus o consumiu. A oração, mesmo quando articulada no clima do desespero ou das exigências descabidas, já mobilizava matéria mental sutil, permitindo que o ser expandisse suas energias em direção aos vastos continentes vibratórios que o cercavam, e onde se movimentam milhões de inteligências desprovidas do envelope de ossos.



Nessa interação, mesmo que não percebida pela consciência, o ser sorveu farto material de natureza psíquica, que confortou o coração sedento de respostas.



A dor da separação pela morte vem sendo amenizada. O intercâmbio psíquico com as inteligências domiciliadas além da matéria densa o nutre de intuições e pensamentos novos e sua curiosidade o emula à investigação incessante, onde a tênue fronteira entre os dois planos existenciais se dilui com acentuada frequência, permitindo troca de informações que elucidam paulatinamente as incógnitas do destino.



A concepção de Deus abandonou o antropomorfismo ancestral para redimensionar a Divindade como uma abstração, um moto contínuo, uma inteligência suprema e incausada, que guia pelo instinto desde o batráquio das regiões pantanosas até o ninhal de estrelas no infinito.



No caos reside uma ordem implícita. Agitam-se os elementos em convulsões gigantescas para se articularem em novas estruturas. O átomo evolui para a angelitude.



O instinto é lapidado para se tornar razão, a caminho da intuição.



A fera vagueia nas florestas e nas savanas, buscando apenas satisfazer as necessidades básicas, mas chega um momento em que a Providência Divina a encaminha para a sublimação dos vagidos animalescos, desenvolvendo outros campos em adormecimento no terreno das possibilidades infinitas.



O carbono, oculto no seio da terra, se faz diamante ao longo de milhares de anos.



E na direção de todos os fenômenos que regem as balizas da evolução terrestre, a condução segura e amorosa do Cristo, a se expressar na ternura com que aprimora as ovelhas da imensa Casa de Israel.



Jorros incessantes de amor dulcificam as difíceis experiências evolutivas. Missionários, atendendo Sua invitação de esperança e amor, se materializam periodicamente na crosta, alimentando a Ciência, iluminando a Filosofia e desmaterializando a Religião, a fim de que o trio, em harmonia, catapulte o ser na direção das estrelas, após percorrido os sombrios vales das experimentações palingenésicas.



E quando o bruto se transmuta no sensível, a lagarta deixa o casulo para experimentar a leveza das falenas, o Espírito compreende o imenso caminho que lhe está posto à frente, se fazendo solidário e amoroso, buscando alcançar sua fatalidade evolutiva: unir-se ao Divino para mais servir e amar.



Henrique de Luna e Marta



Salvador, 23.08.2022



Publicado por Sióstio de Lapa em 19/10/2022 às 00h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr