Meu Diário
16/04/2023 00h01
EU SOU OUTRO

            Interessante como podemos de um momento para outro ficarmos numa condição que até pouco tempo era o inverso para nós. Digo isso do ponto de vista médico-paciente. Sempre mostramos uma autoridade que o exercício do cargo nos confere, de saber o que o paciente sofre, qual o tratamento e qual o prognóstico. Esses atributos da profissão, que dizem respeito à vida do paciente, que ignora quais os caminhos que irá seguir, se terá volta ou não. Este texto que circula nas redes sociais e que vou reproduzir abaixo, é o relato de um médico que inverteu a sua posição.



Na última terça-feira, morreu o Dr. Hernán Dário Estrada, neurocirurgião. Ontem eles publicaram no grupo dos colegas, uma mensagem muito dolorosa enviada pelo próprio Dr. Hernán Dário, falando sobre a tremenda desumanização sofrida nas UTIs (Unidade de Terapia Intensiva). Agradeço muito se o fizerem circular.



EU SOU OUTRO DEPOIS DE ESTAR QUATRO VEZES NA UTI.



Os resultados médicos não compensam os danos irreparáveis na esfera psicológica. Não sou mais Hernán Dário Estrada, sou o que resta dele.



Como diz o Dr. Velez, não há dia, não há noite. Sem horário. Não há ninguém que ouça o gemido. O amigo e colega é um estranho. Não dá para ver a cara dele. Não há mão no ombro que diga como você se sente. Nem o estetoscópio no peito que te faça sentir protegido. Você não sabe o que é um banheiro às 5 da manhã tremendo de frio! Perguntei: Por que não mudaram de posição a cada duas horas? e ouvi as provocações.



É um lugar hostil. Com ruídos por alarmes de aparelhos e conversas e risadas inadequadas.



Os pacientes têm angústia, ansiedade, insônia, medo e medo da morte.



Facilmente somos rotulados de psicóticos.



Resgato anjos, enfermeiras (a grande maioria). São médicas (explicam o porquê), família, confidentes e amigas. Choram com um.



Dificilmente se sentam enquanto os deuses do Olimpo não se movem do seu trono e do seu brinquedo o computador.



Falta muito para humanizar as UTIs. Temos que começar por humanizar os médicos. (há muito humanos).



Pacientes na UTI se tornam objeto de estudo médico mas esquecem das necessidades emocionais.



https://www.facebook.com/100000017951318/posts/pfbid02fcNdPHWuJDsgJx78uQzAuYkLvMhkyjXreuYu1kYtfhR6UogNwP1DVmN5nFQxc4nel/?d=w&mibextid=qC1gEa



Não percamos a capacidade empatia por qualquer um, pois amanhã poderemos estar no seu lugar.



Publicado por Sióstio de Lapa em 16/04/2023 às 00h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr