Meu Diário
14/06/2023 06h53
INTERPRETAÇÃO DE NARRATIVA – A IRMÃ

            ENTENDENDO



            O relato mostra um fluxo de afeto que partiu do sentimento de bondade pelo irmão, que chegou a ser o favorito, até o sentimento de indiferença, e que continua a evoluir negativamente. Isso produz raiva e rancor.



            Sente a pressão social e familiar de ter amor para ele, por ser do mesmo sangue, a mesma biologia, mas nada sente de positivo para ele.



            Em 2019 sofreu o primeiro impacto da doença, ele soltou palavrões na sua frente, palavras fortes, por ela não querer ir a um aniversário. Seguiu a vergonha por ele ter sido diagnosticado com depressão, por ter tentado suicídio, por passar a quebrar objetos domésticos. Chegou a dormir na casa de amigas por segurança, fingia as internações psiquiátricas, sofria perda do sono.



            Agora, sente alívio por ele estar distante e não poder machucar o pai ou a mãe. Podem até pensar que ela seja uma pessoa ruim, mas ela não liga para a opinião das pessoas. Mostra que tem uma visão catastrófica do que pode acontecer, e que não deixa de ser um fato provável. A morte violenta dos pais, devido a essas crises que já se mostram com violência, e que ao final se mostra como um inocente, um arrependido do que fez, mas sempre volta a repetir os erros, esperando sempre o mesmo perdão, por ter sido outra pessoa a culpada. Não se sente capaz de perdoar dessa forma. Não sabe qual o objetivo dele. Se sente indefesa nesse contexto e por isso pensa em fugir, dos gritos, das quebradeiras, das ameaças, das violências, do ambiente hostil.



Por tudo isso se sente em paz agora, pois ele não está presente. Mas o trauma permanece em sua consciência, tem sustos por pequenos barulhos, sofre de insônia, tem medo dele voltar com raiva por ter sido internado e tudo voltar até com mais intensidade. Medo pela integridade dos seus pais, pois ali existe uma pessoa que ela não conhece, que não é o seu irmão da infância. Por tudo isso não tem mais condições de morar com ele, nem mesmo de o ver. É uma pessoa que não gosta de ser desafiada, pois parece um fanático, de olhar fixo, dependente da mãe sem demonstrar autonomia, que pode mostrar uma voz doce e olhar inocente, mas é uma máscara para disfarçar o que na realidade existe dentro de sua alma, uma ameaça constante, principalmente para os pais.



INTERPRETANDO



A narrativa mostra a condição de desespero que chegou a narradora. Desespero frente a grave situação de convivência dentro da família e impotência de resolução de sua parte. Não há como ajustar o seu psiquismo para voltar a conviver em tal circunstância. O projeto terapêutico tem que apontar um caminho de controle real da situação onde todos possam colaborar com um mínimo de riscos. Para construir essa situação é necessário a permanência do paciente internado, sem data programada de alta, mas sim, condicionada ao retorno de comum acordo ao seio do lar. Essa condição poderá ser obtida pela psicoterapia, nos diversos focos: individual, casal, e familiar. Este será o tempo também necessário para consolidar o diagnóstico do paciente que hoje permanece nas seguintes hipóteses: esquizofrenia, múltiplas personalidades, personalidade, e esquizo-afetivo. Dentre estas a última é a mais provável, recebendo os traços de todas as outras, principalmente múltiplas personalidades que se ajusta à influência espiritual que o paciente recebe de forma ostensiva. A equipe terapêutica deverá elaborar ferramenta de acompanhamento psicológico para verificar o nível de evolução do paciente, o qual será preenchido por todos, paciente, familiares e terapeutas.



Publicado por Sióstio de Lapa em 14/06/2023 às 06h53


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr